Correio Braziliense
postado em 08/04/2020 04:11
Nos últimos dias, o nome do deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) ganhou atenção nos bastidores políticos, com a visível ambição dele pelo Ministério da Saúde. O emedebista, que teve atuação apagada como ministro da Cidadania, pôs-se a minimizar a pandemia do novo coronavírus. No fim de fevereiro, já dizia que a imensa maioria da população teria a forma “benigna” da Covid-19, sem risco de um quadro grave, e pregando que a vida deve continuar, ou seja, que as pessoas deveriam permanecer em suas atividades normalmente.
O discurso, que vai ao encontro do que prega o presidente Jair Bolsonaro, o fez entrar no radar como uma das opções do comandante do Executivo para substituir o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que contraria o chefe por defender o isolamento social. Ontem, em entrevista à Rádio Bandeirantes, Terra negou ter sido convidado para o cargo. Segundo ele, o almoço com o presidente no Palácio do Planalto, na segunda-feira, foi apenas para falar sobre o uso da hidroxicloroquina. “Não se tocou em nenhuma questão política de cargos, de nada. Eu nunca pedi nada… Eu vou quando o presidente me chama, eu não tomo iniciativa de procurá-lo sem ser convidado”, disse. Apesar de Terra afirmar que o encontro foi apenas para tratar sobre o medicamento, Mandetta não foi chamado para participar.
Atualmente, as publicações e discursos de Terra são, principalmente, sobre o vírus, e se tornaram ainda mais enfáticas quanto à contrariedade do isolamento social. As postagens relativas a um bom trabalho que, segundo ele, Mandetta vinha fazendo, acabaram. O último pedido para que a população seguisse o órgão federal foi em 17 de março. “É uma pandemia como as outras que ocorreram nas últimas décadas e com uma mortalidade igual ou menor. Não é caso de suspender aulas e parar a atividade econômica. Sigamos as orientações do MS (Ministério da Saúde)!”, escreveu.
Dois dias antes, Bolsonaro havia descumprido orientação do próprio ministério ao ir cumprimentar apoiadores em manifestação a seu favor e contra o Congresso. O fato gerou ampla repercussão negativa para o presidente. Depois da última publicação dizendo que as pessoas deveriam seguir orientações do MS, Terra não mais citou o órgão. Passou a postar ainda mais informações contrárias ao isolamento, assim como faz seu ex-chefe.
Médica
Da reunião com Terra e o presidente, participou também a médica Nise Yamaguchi. Ela foi convidada a integrar o gabinete de crise para monitorar a disseminação da Covid-19, mas ainda não respondeu se aceitará. A oncologista também faz coro com Bolsonaro ao defender o isolamento vertical (só doentes crônicos e idosos ficariam em quarentena) e o uso da hidroxicloroquina. Por isso, tem respaldo de apoiadores do governo e da ala ideológica do Executivo para assumir o Ministério da Saúde.
Ontem, a deputada Bia Kicis (PSL-DF) postou um vídeo de uma entrevista da médica à CNN Brasil em que defende a hidroxicloroquina. A parlamentar escreveu: “Absolutamente encantada com a dra Nise Yamaguchi nessa entrevista. Sobriedade, equilíbrio, elegância e muito conhecimento e generosidade”. Bolsonaro também postou o mesmo vídeo, com o texto: “Imumologista/oncologista Nise Yamaguchi e o uso da hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19”.
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