Politica

Defesa da cloroquina, ataque a governadores

No quinto pronunciamento este ano em rede nacional, Bolsonaro diz que medidas restritivas são de responsabilidade de estados e municípios e que o Executivo federal não foi consultado. Presidente volta a pregar o uso de remédio contra a malária para combater vírus

Correio Braziliense
postado em 09/04/2020 04:02
Bolsonaro aproveitou o discurso para dar uma alfinetada também em Mandetta: %u201CTodos (os ministros) devem estar sintonizados comigo%u201D


Em pronunciamento ontem à noite, o presidente Jair Bolsonaro voltou a dar alfinetadas em governadores e prefeitos, por tomarem medidas restritivas de combate à Covid-19, e defendeu novamente o uso da hidroxicloroquina no tratamento da doença. Em meio a polêmicas com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, o chefe do Executivo ainda comentou que todos os seus subordinados devem estar sintonizados com ele.

Foi o quinto discurso de Bolsonaro em cadeia de rádio e televisão apenas neste ano. Ele começou o pronunciamento dizendo que “ser presidente da República é olhar o todo e não apenas as partes”. “Tenho a responsabilidade de decidir sobre as questões do país de forma ampla, usando a equipe de ministros que escolhi para conduzir os destinos da nação. Todos devem estar sintonizados comigo. Sempre afirmei que tínhamos dois problemas a resolver: o vírus e o desemprego, que deveriam ser tratados simultaneamente”, declarou.

O presidente mandou mensagem aos estados e municípios que estabeleceram quarentenas obrigatórias ou adotaram medidas que reduziram a circulação de pessoas ao afirmar que o governo federal não deve ser responsabilizado sobre os eventuais efeitos dessas estratégias. “Respeito a autonomia dos governadores e prefeitos. Muitas medidas, de forma restritiva ou não, são de responsabilidade exclusiva dos mesmos. O governo federal não foi consultado sobre sua amplitude ou duração”, enfatizou. Ele disse ter certeza de que “a grande maioria dos brasileiros quer voltar a trabalhar”. “Essa sempre foi minha orientação a todos os ministros, observadas as normas do Ministério da Saúde.”

Assim como no pronunciamento de 31 de março, o presidente citou o diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, para reforçar as suas ideias. “Como afirmou o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, cada país tem suas particularidades, ou seja, a solução não é a mesma para todos. Os mais humildes não podem deixar de se locomover para buscar o seu pão de cada dia”, destacou. “As consequências do tratamento não podem ser mais danosas do que a própria doença. O desemprego também leva à pobreza, à fome, à miséria, enfim, à própria morte.”

Medicamento
Bolsonaro insistiu na defesa da hidroxicloroquina, medicamento usado contra malária, lúpus e artrite e que vem sendo testado no país em alguns pacientes infectados que estão em estado grave. Ele mencionou o médico Roberto Kalil Filho, diretor-geral do Centro de Cardiologia do Hospital Sírio-Libanês, que contraiu a doença e revelou ter utilizado hidroxicloroquina para tratar a Covid-19. Kalil teve alta ontem (veja reportagem na página 6).

De acordo com Bolsonaro, Brasil e Índia fecharam um acordo que permitirá a importação de insumos para a produção do medicamento. A matéria-prima deve chegar ao país amanhã e será usada no tratamento tanto de pacientes da Covid-19, quanto nos acometidos por malária, lúpus e artrite.

Outras ações do governo federal para enfrentar a pandemia foram destacadas pelo presidente, como o pagamento, que começa hoje, do auxílio emergencial de até R$ 1,2 mil para trabalhadores informais, desempregados e microempreendedores. Também comentou da isenção do pagamento da conta de energia elétrica, por três meses, aos beneficiários da tarifa social, e a disponibilização de R$ 60 bilhões da Caixa Econômica Federal para capital de giro às micro, pequenas e médias empresas e à construção civil.

Bolsonaro disse se solidarizar com as famílias que perderam parentes em decorrência da Covid-19. “Não restam dúvidas de que o nosso objetivo principal sempre foi salvar vidas. Gostaria, antes de mais nada, de me solidarizar com as famílias que perderam seus entes queridos nessa guerra que estamos enfrentando”, comentou.
Para finalizar, ele usou a passagem bíblica que tem sido o seu lema desde a campanha eleitoral de 2018: “Sigamos João 8:32: ‘E conhecereis a verdade, e a liberdade vos libertará’”.

Redes sociais do governo citam “resultados positivos” de remédio
 
 
O governo federal divulgou, ontem, mensagem que enaltece o uso da cloroquina por pacientes com o novo coronavírus. A publicação, feita nas redes sociais da Secretaria de Comunicação da Presidência, cita “resultados positivos” do medicamento no tratamento da Covid-19 e usa uma frase do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. O titular do ministério, no entanto, tem feito ponderações em relação à prescrição da substância. Embora estudos preliminares indiquem resultados satisfatórios para pacientes com o quadro grave, a pasta aguarda pesquisas sobre a eficácia dessa medicação para pacientes com sintomas leves e fora dos grupos de risco.

“Como afirmou o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, cada país tem suas particularidades, ou seja, a solução não é a mesma para todos. Os mais humildes não podem deixar de se locomover para buscar o seu pão de cada dia”

Jair Bolsonaro, 
presidente da República


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