Politica

Bolsonaro ignora isolamento social sob olhar dos médicos Caiado e Mandetta

Sob o olhar dos médicos Ronaldo Caiado e Luiz Henrique Mandetta, o presidente Bolsonaro ignora o isolamento social, forma aglomerações e tem contato com apoiadores ao visitar obra de hospital de campanha em Goiás

Correio Braziliense
postado em 12/04/2020 08:00
De máscara, Bolsonaro e Caiado se abraçam durante a visita do presidente ao hospital de Águas Lindas; o governador evitou criticar o presidente: O sábado de aleluia do presidente da República, Jair Bolsonaro, foi mais um dia de descumprimento das orientações de autoridades sanitárias em relação ao novo coronavírus. Em visita à obra do hospital de campanha de Águas Lindas (GO), unidade que está sendo construída para atender a pacientes com a Covid-19, Bolsonaro se aproximou sem máscara de populares que se aglomeraram para vê-lo. O presidente tocou em algumas pessoas, apertou a mão de pelo menos um policial, autografou uma camiseta e chegou a ter a mão beijada por uma mulher.

Bolsonaro chegou ao local, a 47km de Brasília, por volta das 11h20. Entrou no canteiro de obras do hospital de máscara, mas, quando se aproximou de populares, retirou o equipamento de proteção. O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), evitaram se aproximar da população. Ficaram afastados enquanto o presidente falava com as pessoas. Minutos antes, elas haviam vaiado o chefe do Executivo estadual, com gritos de “Caiado traidor”.

Mandetta e o governador de Goiás, ambos médicos, têm frisado a importância do isolamento e distanciamento social para conter o aumento de casos de coronavírus. Antes de se aproximar dos populares, Bolsonaro, assim que viu o governador, o abraçou. Em seguida, o democrata despejou álcool em gel nas mãos do presidente e fez o mesmo nas próprias mãos.

Há uma expectativa sobre a relação entre o governador e o presidente. No último dia 25, Caiado rompeu com Bolsonaro depois de o presidente chamar a Covid-19 de “gripezinha” em pronunciamento e criticar governadores por medidas restritivas. Na ocasião, Caiado disse que sempre foi aliado, mas que não iria admitir as investidas de Bolsonaro. Frisou a importância do isolamento para evitar o aumento de pessoas contaminadas. E disse que as “declarações do presidente não atravessam as fronteiras de Goiás”.

Ontem, o governador evitou críticar Bolsonaro e minimizou as desavenças políticas. Ao ser questionado, por exemplo, se a visita seria um sinal de paz entre os dois, Caiado disse que sua função era “agradecer um hospital de campanha com 200 leitos”. Por outro lado, sobre a postura do presidente, de se aproximar de aglomerações, Caiado afirmou: “Ele que deve explicar essa situação. A minha posição vocês acompanharam”. O democrata disse, ainda, que responde por seus atos e que o decreto de isolamento em Goiás continua em vigor até o dia 19.

O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, também evitou comentar as ações do presidente. Em relação aos populares que se aglomeravam para ver Bolsonaro, Mandetta disse que pode apenas recomendar. “Não posso viver a vida das pessoas. As pessoas que fazem uma atitude dessa hoje daqui a pouco vão ser as mesmas que vão estar lamentando”, disse. Questionado se a orientação valia também para o presidente, o ministro respondeu que “vale para todos os brasileiros”.

O distanciamento social é uma orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde, como estratégia para reduzir a velocidade de contágio do vírus, transmitido por gotículas respiratórias (fala, tosse ou espirro, por exemplo). Bolsonaro, entretanto, descumpre as recomendações reiteradas vezes. Na última sexta-feira, o presidente foi a uma farmácia, gerando aglomeração, e lanchou em uma padaria. O presidente limpou o nariz com o braço e a mão, e em seguida apertou a mão de algumas pessoas, inclusive de uma idosa.

Durante a visita a Águas Lindas, Bolsonaro não concedeu entrevista. A entrada para visita às obras ficou fechada à imprensa. A Secretaria de Comunicação alegou que o evento era privado, e que sequer constava na agenda presidencial. Mais tarde, a agenda foi atualizada com o registro da visita. Embaixo de uma das tendas do hospital com outras autoridades, houve uma rápida explicação sobre as obras, e Bolsonaro falou de forma breve com os presentes.

A previsão é de que o hospital fique 100% concluído em 30 dias, sendo 15 para a obra e mais 15 para equipá-lo. A construção começou na última terça-feira. O local terá 200 leitos, sendo 40 de suporte avançado, e deve ficar em funcionamento por quatro meses, conforme previsão inicial. O ministro Luiz Henrique Mandetta anunciou que o próximo será em Manaus. Amazonas é o estado com um dos cenários mais preocupantes do país, sendo o quarto com mais casos, totalizando 1.050 e 53 mortes.



“Não falo de política” 


O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, não quis comentar sobre a sua relação com o presidente Jair Bolsonaro. Ameaçado de demissão durante a semana, o ministro desconversou a respeito do seu momento com o presidente bem como da conspiração do ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, e do deputado Osmar Terra (MDB-RS) para tirá-lo do cargo. “Não falo sobre política”, respondeu Mandetta.

Depois de visita à obra do hospital de campanha de Águas Lindas (GO), o ministro foi a Goiânia com o governador Ronaldo Caiado. Os dois saíram juntos no helicóptero do governo de Goiás e se reuniram na residência oficial do democrata. Bolsonaro foi embora minutos antes para Brasília.

Durante a visita ao hospital, ao ser questionado se mantém a defesa ao ministro, Caiado disse que Mandetta é seu amigo. O ministro, por sua vez, fez questão de parar ao lado do governador e afirmar que no Congresso Nacional fez apenas um amigo: Ronaldo Caiado. Mandetta é deputado federal desde 2011, tendo se licenciado para assumir o cargo de ministro. Os dois são correligionários do DEM, médicos de formação e contrários às posições de Bolsonaro sobre isolamento social.

Na última segunda-feira, com a iminência de Mandetta ser demitido, Caiado defendeu a permanência do ministro. “É uma pessoa preparada”, argumentou.

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