Politica

Bolsonaro recebe cotados para a vaga

Correio Braziliense
postado em 16/04/2020 04:13
Primeiro da lista é o oncologista Nelson Teich, que atuou na campanha eleitoral de Bolsonaro e tem apoio da classe médica
 
O presidente Jair Bolsonaro ainda não bateu o martelo sobre a troca no Ministério da Saúde porque teme reação negativa do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF). Ontem, ele sofreu derrota na Corte — os ministros decidiram que estados e municípios têm poder para aplicar restrições no comércio e na circulação de pessoas em razão da política sanitária necessária para impedir a disseminação da Covid-19 (leia reportagem na página 7).

Na Câmara, parlamentares afirmam que o presidente tem buscado um nome com o perfil mais técnico do que político, justamente para evitar desgastes ainda maiores com a demissão de Luiz Henrique Mandetta. A conversa é de que tudo deve ocorrer até amanhã.

A expectativa é que Bolsonaro começará a receber, hoje, no Palácio do Planalto cotados para a vaga. O primeiro da lista é o oncologista Nelson Teich, que atuou na campanha eleitoral do chefe do Executivo e tem apoio da classe médica. A decisão sobre o novo titular da Saúde, no entanto, ainda não está tomada, afirmam interlocutores do governo.

Devem participar da conversa com o médico os ministros Walter Braga Netto, da Casa Civil, e Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo. Teich atuou como consultor informal da área de saúde na campanha eleitoral de Bolsonaro, em 2018. À época, a aproximação ocorreu por meio do atual ministro da Economia, Paulo Guedes. Na transição do governo, Teich foi cotado para comandar a Saúde, mas perdeu a vaga para Mandetta, que havia sido colega de Bolsonaro na Câmara de Deputados e tinha o apoio do governador eleito de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM-GO), agora ex-aliado do chefe do Executivo, e de Onyx Lorenzoni (DEM-RS), que foi chefe da Casa Civil e agora é ministro da Cidadania.

O oncologista tem o respaldo da Associação Médica Brasileira (AMB), que referendou a indicação ao presidente e possui boa relação com empresários do setor de saúde. O argumento pró-Teich de parte da classe médica é o de que ele trará dados para destravar debates hoje “politizados” sobre o enfrentamento da Covid-19. Integrantes do setor de saúde afirmam que a ideia não é ceder completamente a argumentos sobre o uso ampliado da cloroquina ou de isolamento vertical (apenas para idosos ou pessoas em situação de risco), por exemplo. Dizem, porém, que há exageros na posição atual do ministério.

Corrida
A possível demissão de Mandetta provocou uma corrida entre aliados de Bolsonaro para indicar o sucessor no comando da Saúde. Um dos nomes na mira é o da diretora de Ciência e Inovação da Sociedade Brasileira de Cardiologia, Ludhmila Hajjar. A profissional tem o apoio do médico Antonio Luiz Macedo, cirurgião geral que acompanha o presidente desde que ele foi atingido por uma faca em ato de campanha, em setembro de 2018. No entanto, ela não é adepta do discurso de que a hidroxicloroquina é a grande salvação no combate ao coronavírus, como defende Bolsonaro. Em entrevista à Folha de S.Paulo nesta semana, Ludhmila disse que a medicação “está sendo vista como salvadora, e não é”. Questionada pela reportagem, a cardiologista negou convite do presidente. “Não fui convidada, não fui sondada. Sigo trabalhando normalmente”, disse ontem.

O secretário-executivo do Ministério da Saúde, João Gabbardo, também aparece como cotado para o posto, mesmo que de forma temporária, até que o presidente decida por um nome definitivo. Questionado sobre o assunto, Gabbardo disse que sai com Mandetta, pois está no cargo a convite do ministro, mas se dispôs a continuar colaborando com uma equipe de transição.

Dentro do ministério, as informações são de que a relação entre ele e o titular da Saúde é bastante conflituosa. Mas o secretário é visto como um perfil mais técnico do que Terra e menos resistente às vontades do governo. Seria uma solução mediana para tentar conter reações adversas à saída de Mandetta.

Sem força
Na lista de indicações para substituir Mandetta aparece ainda Claudio Lottemberg, presidente do Conselho Deliberativo do Hospital Israelita Albert Einstein. Lottemberg, no entanto, preside o Lide Saúde, grupo ligado ao governador de São Paulo, João Doria (PSDB), desafeto de Bolsonaro.

Os nomes do deputado Osmar Terra (MDB-RS) e do presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, perderam força no Planalto, apesar de terem a confiança de Bolsonaro. A leitura é de que a escolha de um deles não seria bem-aceita no Congresso e entre entidades médicas, por causa da mudança radical de discurso que levariam ao ministério. Defensora do uso da hidroxicloroquina, a oncologista Nise Yamaguchi também teria perdido força por ter pouco apoio da classe médica.

Temor no Planalto
Com a saída de Mandetta dada como certa, o governo teme que uma debandada nos cargos de segundo escalão leve à paralisia do ministério em meio à pandemia. A preocupação quanto a um possível desmonte da pasta vem do 4º andar do Planalto, onde ficam os ministros militares. Eles estão mapeando quais integrantes dos escalões inferiores não são ligados umbilicalmente a Mandetta e poderiam continuar no governo caso se confirme a troca na Saúde. O ministro se reuniu, ontem à tarde, em clima de despedida, com deputados que integram a comissão sobre o enfrentamento do coronavírus. Visivelmente abatido, disse que teria pouco tempo à frente da pasta. “Me desculpem por qualquer coisa aí”, afirmou.

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