Correio Braziliense
postado em 17/04/2020 19:52
O novo ministro da Saúde, o oncologista Nelson Teich, terá necessariamente de seguir as polÃticas de isolamento que Luiz Henrique Mandetta vinha adotando, de isolamento horizontal, como determina a Organização Mundial da Saúde, sob o risco de ter de arcar com a responsabilidade de ver um número enorme de mortos no Brasil.
O alerta é do fÃsico Luiz Davidovich, presidente da Academia Brasileira de Ciências, ao comentar a troca de comando da Saúde do PaÃs quando estamos chegando próximo ao pico da epidemia de covid-19.
"Nossa avaliação é que Mandetta estava apresentando um desempenho de acordo com as recomendações da OMS e dos profissionais de saúde e que era um desempenho adequado para a tragédia que vivemos, para o enfrentamento da pandemia, com a defesa do isolamento horizontal e tentando organizar o sistema de saúde nacional, que está muito ameaçado", afirma.
"Qualquer pessoa que viesse a substituÃ-lo, por melhor que seja, terá de necessariamente seguir a mesma polÃtica. É o que está sendo feito em outros paÃses. É só olharmos para o que aconteceu com paÃses que tinham uma visão diferente no começo e depois deram uma guinada, que são Inglaterra e Estados Unidos. Hoje a situação deles poderia ser melhor se eles tivessem tomado uma atitude mais rÃgida desde o começo."
Davidovich é incisivo: "Não faltam simulações sobre o que vai acontecer se abandonarmos o isolamento. Não faltam experiências internacionais que mostram que o isolamento vertical não funciona. Não imagino um ministro da Saúde que não siga isso, que não siga a ciência. Se não fizer, será pesada sua responsabilidade quando ocorrer a saturação dos hospitais".
Para o pesquisador, o cenário não deixa margem para tentativas que não se baseiem na ciência. "Ai do governo que tiver de assumir a responsabilidade pelo grande número de mortos que podem ocorrer com isso."
Para Davidovich, a definição sobre se e quando começará a redução do isolamento também virá da ciência. "O novo ministro tem de ter como plano a testagem massiva. É isso que vai orientar como vamos sair dessa situação."
O pesquisador lamenta que parte do drama brasileiro diante do novo coronavÃrus se deva ao sucateamento da ciência nos últimos anos. "O PaÃs paga o preço de cortes sucessivos em ciência e na saúde. A Alemanha passou mais tranquilamente pela pandemia porque tinha equipamentos hospitalares, sistema de saúde adequado. Não faz sentido termos de comprar tudo de fora, insumos da Ãndia, máscaras e respiradores da China", lamenta.
"O Brasil precisa se conscientizar que temos de ter desenvolvimeno de alta tecnologia no PaÃs. Não podemos depender de coisas essenciais. Espero que o que está acontecendo sirva de motivação para uma guinada na polÃtica economia e industrial do PaÃs", complementa.
E defende: "A chave para a solução dessa crise sanitária está na ciência. Repito, na ciência, na ciência. As formas de sair do isolamento também estão sendo examinadas por cientistas no PaÃs e no mundo. Isso tem de ser considerado. Não vamos sair de forma apressado, baseados no achismo de que é preciso sair. É claro que uma hora temos de sair, mas tem de ser da maneira mais apropriada possÃvel. E para tomar essas providências, precisamos de muito mais testagem".
Ele lembra que diversos laboratórios de universidades brasileiras estão testagens novas formas de diagnóstico e defende que mais dinheiro seja colocado nesses esforços. "O investimento em pesquisa é o que pode nos salvar. Tanto as vidas quanto a economia."
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