O cenário de crise provocado pela pandemia de coronavírus e a disposição dos parlamentares, mesmo da oposição, de votarem com o governo nas pautas de combate aos efeitos da contaminação na saúde e na economia se tornaram um medidor do alcance de Jair Bolsonaro dentro do Congresso. Embora o presidente da República venha se isolando sistematicamente desde a primeira quinzena de março, quando convocou as manifestações contra o Legislativo e o Supremo Tribunal Federal, a leitura de deputados e senadores é de que a aprovação da Medida Provisória 905/2019, batizada de MP do contrato verde e amarelo, mostrou que o chefe do Executivo ainda pode contar com uma base relativa.
O próprio presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que subiu o tom com o presidente na última semana, e o do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), fazem parte desse grupo quando a pauta é econômica. Maia trabalhou para que a MP passasse na Câmara, enquanto Alcolumbre prometeu batalhar pelo texto no fim de semana.
Ontem, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que a medida provisória que institui o contrato verde amarelo deve ser votada amanhã pelo Senado. “Davi é meu chapa”, respondeu após ser perguntado se teria feito um acordo com o presidente da Casa.
Cientistas políticos alertam que o apoio circunstancial não trará, no entanto, nenhuma segurança para o presidente dentro do Congresso e que, por outro lado, Jair Bolsonaro também tem confirmado um método de governo conflituoso e populista com as instituições. Geraldo Tadeu Monteiro, mestre em sociologia política pela universidade de Paris e professor de ciências políticas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, destaca que, com “bases” divididas, nem tudo que o governo oferecer a um grupo poderá oferecer a outro.
“O presidente não acredita na necessidade de um modelo de coalizão com uma base parlamentar sólida e comprometida com um programa. Talvez, tenha a ilusão de que pode governar com determinadas bancadas: da bala, evangélica, do agro. Ocorre que cada uma dessas bancadas se une em torno de uma pauta específica. Então, nem tudo que une a bala seja também comum ao agro. Você tem posições que funcionam para uma e não para outras. É instável”, alerta.
Desde a eleição, o presidente Jair Bolsonaro tem se prendido a discursos e pautas que agradam bancadas específicas do Congresso. Assuntos ligados à maior circulação de armas e alterações na política ambiental para agradar ruralistas têm garantido apoio no parlamento.
O cientista político André Rosa destaca que, apesar das polêmicas, o chefe do Executivo não tem alterado a forma de atuação no Legislativo. “As maiores bancadas de sustentação ainda continuam sendo a bancada da bala, do agronegócio e a religiosa. Das três, a que dará maior apoio ao presidente é a do agronegócio. Entretanto, não deve assinar cheque em branco em todas as votações, tendendo a priorizar os temas referentes ao agro”, destaca.
Para o especialista, os religiosos representam a ala menos mutável de apoio à Presidência no Congresso. “Talvez, a bancada da bala seja a que demande mais atenção do presidente. Muitos integrantes não aprovaram a forma como a classe da segurança foi tratada, sobretudo na reforma da previdência”, completa.
"O presidente não acredita na necessidade de um modelo de coalizão com uma base parlamentar sólida e comprometida com um programa. Quando convocou as manifestações para 15 de março, fez para pressionar o Congresso. Se tivessem milhões nas ruas, os parlamentares sentiriam a pressão. Mas isso não se confirmou”
Geraldo Monteiro, professor de ciências políticas
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