No mesmo fim de semana em que o Ministério da Saúde anunciou mais 321 novas mortes pela Covid-19 e a projeção de que os números devem continuar subindo, milhares de bolsonaristas percorreram as vias do Brasil em carros e motos, pedindo o fim do isolamento social e a volta das atividades comerciais.
Em Brasília, aproximadamente 100 veículos participaram de uma carreata, na manhã de ontem, no Eixo Monumental, em direção à Praça dos Três Poderes. Guiados por um carro de som, os manifestantes vestiram verde e amarelo, exibindo ainda a Bandeira do Brasil. Motoristas buzinaram durante o trajeto, pediram o impeachment do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e intervenção militar, com Bolsonaro presidente.
Também houve registros de carreatas em Porto Alegre, Rio de Janeiro, Recife, Pernambuco e São Paulo. Ontem, na capital fluminense, a rua que dá acesso ao apartamento do presidente da Câmara dos Deputados, o deputado Rodrigo Maia (DEM), chegou a ser fechada. De acordo com a polícia militar, “o trânsito foi desviado por medidas de segurança, pois manifestações estavam programadas para aquela região”. Os manifestantes pediam o impeachment do parlamentar.
Em Niterói, mais de 500 veículos, entre carros e motos, também percorreram a cidade pedindo o fim do isolamento. Em frente à Câmara Municipal, entoaram o Hino Bacional. O estado fluminense tem 402 óbitos e 4.765 confirmações de ocorrências de Covid-19, sendo o segundo no ranking de mortes e casos no país, atrás apenas de São Paulo.
No sábado, o governador de São Paulo foi criticado pelos manifestantes, que carregavam faixas dizendo “Fora, Doria”. No Twitter, João Doria (PSDB) criticou a ação do grupo, ressaltando a gravidade da situação no epicentro da Covid-19 no Brasil. “Manifestações a favor do coronavírus sugiram como ato de sabotar o trabalho de profissionais de saúde, que continuam lutando para salvar vidas”, publicou. O estado paulista ultrapassou mil mortes e tem mais de 14 mil casos. Por isso, os gestores estão com dificuldade de alocar os doentes, o que levou Doria a prorrogar o isolamento até 10 de maio.
Governadores
Também no sábado, Bolsonaro criticou a atitude de alguns governadores que prorrogaram o período de quarentena, mas não citou nomes. “A voracidade de alguns políticos, fechando tudo por aí, alguns até prendendo, completamente abominável, levando pânico e terror”. Na ocasião, o presidente ainda elogiou a atitude dos apoiadores, afirmando que “não tem que se acovardar”. “Não tem jeito: 70% vai ser contaminado. Se não for hoje, vai ser semana que vem, mês que vem, é uma realidade”, disse, sem apresentar embasamento para a afirmação.
No Ceará, as manifestações foram dispersadas pela polícia militar com base no decreto do governador, Camilo Santana, que determina o fechamento do comércio não essencial e a coibição de aglomerações. Três pessoas foram detidas, ontem, em frente à 10ª Região Militar, onde os manifestantes se concentraram e pediram aplicação do AI-5, ato mais duro da ditadura militar para censurar e punir opositores.
“Inaceitáveis e repugnantes atos que façam apologia à ditadura e que promovam o desrespeito às instituições democráticas, como vimos pelo país. O Brasil não se curvará jamais a esse tipo de ameaça”, escreveu Santana, nas redes sociais. O estado teve toda a capacidade dos leitos de UTI preenchida e precisou abrir, às pressas, novos leitos. No Ceará, 186 pessoas morreram com o novo coronavírus.
No Nordeste, apenas Pernambuco tem um número maior de mortes (216). O estado também teve manifestações. Contrariando as recomendações da Organização das Nações Unidas (OMS), o grupo de apoiadores de Bolsonaro se aglomerou nas ruas de Recife. Eles carregavam cartazes pedindo “Forças Armadas já” e entoavam palavras de ordem pelo “Exército na rua”.
""O mundo inteiro está unido contra o coronavírus. No Brasil, temos de lutar contra o corona e o vírus do autoritarismo. É mais trabalhoso, mas venceremos. Em nome da Câmara dos Deputados, repudio todo e qualquer ato que defenda a ditadura, atentando contra a Constituição”
Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados
"Lamentável que o presidente da República apoie um ato antidemocrático, que afronta a democracia e exalta o AI-5. Repudio também os ataques ao Congresso Nacional e ao Supremo Tribunal Federal. O Brasil precisa vencer a pandemia e deve preservar sua democracia"
João Doria, governador de São Paulo
"Inaceitáveis e repugnantes atos que façam apologia à ditadura e que promovam o desrespeito às instituições democráticas, como vimos pelo país. O Brasil não se curvará jamais a esse tipo
de ameaça”
Camilo Santana, governador do Ceará
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