Correio Braziliense
postado em 22/04/2020 04:03
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a abertura de inquérito para apurar a organização de manifestações em favor da volta do AI-5 — o ato que inaugurou a fase mais repressiva da ditadura militar (1964-1985) — e do fechamento do Congresso e da própria Suprema Corte. Um desses protestos ocorreu em Brasília, no domingo, com a presença do presidente Jair Bolsonaro. O magistrado, cuja decisão atende a pedido do procurador-geral da República, Augusto Aras, também determinou o início das diligências e o sigilo das investigações.
O inquérito, que investiga possíveis violações à Lei de Segurança Nacional, tem deputados federais entre os alvos, o que justifica a competência do STF para a apuração. Na avaliação da PGR, não há indícios do envolvimento do presidente da República com a estruturação e a promoção desses eventos.
Segundo o despacho de Moraes, o fato narrado pelo procurador-geral da República é gravíssimo, por atentar contra o Estado democrático de direito e as instituições republicanas. O ministro assinalou que a Constituição Federal não permite o financiamento e a propagação de ideias contrárias à ordem constitucional e ao Estado democrático (CF, artigos 5º, XLIV; 34, III e IV), nem tampouco a realização de manifestações nesse sentido, que violam as cláusulas pétreas da Carta — voto direto, secreto, universal e periódico; separação de poderes e direitos e garantias fundamentais (CF, artigo 60, §4º) —, “com a consequente instalação do arbítrio”.
Conforme a decisão de Moraes, são inconstitucionais, e não se confundem com liberdade de expressão, as condutas e as manifestações que tenham a nítida finalidade de controlar ou mesmo aniquilar o pluralismo de ideias e a força do pensamento crítico, indispensáveis ao regime democrático. Segundo o magistrado, elas ofendem e pretendem destruir os princípios constitucionais e as instituições republicanas, “pregando a violência, o arbítrio, o desrespeito aos direitos fundamentais. Em suma, pleiteando a tirania”.
“A livre discussão, a ampla participação política e o princípio democrático estão interligados com a liberdade de expressão, tendo por objeto não somente a proteção de pensamentos e ideias, mas também opiniões, crenças, realização de juízo de valor e críticas a agentes públicos, no sentido de garantir a real participação dos cidadãos na vida coletiva”, escreveu.
A decisão de Moraes considera que é imprescindível a verificação da existência de organizações e esquemas de financiamento de manifestações contra a democracia e a divulgação em massa de mensagens atentatórias ao regime republicano, “bem como as suas formas de gerenciamento, liderança, organização e propagação que visam lesar ou expor a perigo de lesão os Direitos Fundamentais, a independência dos Poderes instituídos e ao Estado Democrático de Direito, trazendo como consequência o nefasto manto do arbítrio e da ditadura”.
Atentado
Ao requisitar a abertura do inquérito ao STF, Augusto Aras afirmou: “O Estado brasileiro admite única ideologia, que é a do regime da democracia participativa. Qualquer atentado à democracia afronta a Constituição e a Lei de Segurança Nacional”.
No domingo, Bolsonaro compareceu a um ato realizado em frente ao Quartel General do Exército em Brasília. Embora os participantes tenham gritado palavras de ordem contra o Congresso e o STF e pedido o fechamento das duas instituições, o chefe do governo fez um discurso em que manifestou apoio ao protesto.
Os manifestantes também exigiam a reabertura do comércio e o fim do distanciamento social, em sintonia com o posicionamento de Bolsonaro, que vai na contramão das recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) para conter o avanço da pandemia do novo coronavírus. Na ocasião, a presença do presidente no local causou aglomeração, contrariando as orientações da entidade internacional.
A manifestação, realizada no Dia do Exército, repercutiu negativamente na cúpula militar e no mundo político. O ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, divulgou nota afirmando que as “Forças Armadas trabalham com o propósito de manter a paz e a estabilidade do país, sempre obedientes à Constituição Federal”. O militar também ressaltou que o principal inimigo do país é o novo coronavírus.
Na segunda-feira, o ministro Gilmar Mendes, do STF, defendeu, em entrevista à GloboNews, a quebra dos sigilos telefônico e bancário dos suspeitos de envolvimento com a organização dos atos “contra a democracia”. Ele repudiou a defesa da volta da ditadura e disse que se trata de uma ameaça à democracia, o que “deve ser coibido”.
Maia hostilizado em rede social
Apoiadores do presidente subiram, ontem, a campanha #MaiaInimigoDoBrasil, que às 17h30 já completava mais de 13 horas ininterruptas entre os assuntos mais comentados do Twitter brasileiro. A hashtag também estava entre os assuntos mais tuitados do mundo ontem, de acordo com a ferramenta Trends24. O feriado de Tiradentes foi mais um dia de grande atividade entre os perfis bolsonaristas nas redes sociais, como vem acontecendo desde que o presidente Jair Bolsonaro subiu o tom contra o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), em entrevista à CNN, na última quinta-feira. No Brasil, das 13 horas em que a #MaiaInimigoDoBrasil está nos trending topics, em nove delas a campanha esteve em primeiro lugar. Ao todo, já foram mais de 378 mil tuítes com a hashtag. Entre os promotores da campanha estão a deputada bolsonarista Carla Zambelli (PSL-SP) e o movimento Nas Ruas, que tem convocado pessoas a irem a atos de apoio ao presidente da República.
Dantas pede reparação
O ministro Bruno Dantas, do Tribunal de Contas da União (TCU), comentou, no Twitter, a abertura de inquérito pelo STF para investigar os atos antidemocráticos: “Vai ser bonito de se ver os patrocinadores de atos que pregam a ruptura da democracia atrás das grades. Já dou uma ideia ao MPF: uma ação civil pública bilionária exigindo reparação de dano moral coletivo, com pedido cautelar de indisponibilidade de bens”, escreveu.
Maia hostilizado em rede social
Apoiadores do presidente subiram, ontem, a campanha #MaiaInimigoDoBrasil, que às 17h30 já completava mais de 13 horas ininterruptas entre os assuntos mais comentados do Twitter brasileiro. A hashtag também estava entre os assuntos mais tuitados do mundo ontem, de acordo com a ferramenta Trends24. O feriado de Tiradentes foi mais um dia de grande atividade entre os perfis bolsonaristas nas redes sociais, como vem acontecendo desde que o presidente Jair Bolsonaro subiu o tom contra o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), em entrevista à CNN, na última quinta-feira. No Brasil, das 13 horas em que a #MaiaInimigoDoBrasil está nos trending topics, em nove delas a campanha esteve em primeiro lugar. Ao todo, já foram mais de 378 mil tuítes com a hashtag. Entre os promotores da campanha estão a deputada bolsonarista Carla Zambelli (PSL-SP) e o movimento Nas Ruas, que tem convocado pessoas a irem a atos de apoio ao presidente da República.
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