A indefinição sobre a permanência de Sérgio Moro no Ministério da Justiça e Segurança Pública reverbera mal pelo congresso. Parlamentares veem, por um lado, um governo Bolsonaro cada vez menos técnico e mais político, interessado em intervir e limitar a independência da Polícia Federal, o oposto do que o presidente da República pregou em sua campanha eleitoral. Por outro lado, veem na possível conivência de Moro na troca do diretor geral da PF, o fim de sua biografia. Uma terceira saída seria a aquiescência de Bolsonaro para que o ministro fizesse o sucessor da PF. Nesse caso, o ex-juiz sairia desgastado, mas ainda em condições de ficar no governo.
O vice-líder do Podemos no Senado, senador Oriovisto Guimarães (PR) fala em um momento difícil para a nação. Na visão do parlamentar, o governo se aproveita de um momento em que o Congresso só se reúne por meio de sessões virtuais, para fazer o que quer. “Por enquanto, é tudo muito nebuloso. É um momento difícil para a nação. Pouca gente refletiu que o Congresso está impedido de se reunir. Temos reuniões virtuais, o que não é a mesma coisa que presencial. Cria-se um clima ideal para fazer o que quiser em termos políticos e não ter muita reação do parlamento”, avaliou.
“Evidente que tem gente que bate palma, e tem gente que fica muito triste. Eu sou um dos que fica muito triste. Mas, se o Moro sair, ele sobre no meu conceito, pois mostra que não quer ser ministro a qualquer preço. Que tem apreço pela sua biografia. Falar mais que isso, é complicado. Pode ser que venha uma composição de última hora. Ele faz um sucessor do (Maurício) Valeixo (ex-diretor da PF), e nomeia alguém de sua confiança. É difícil, mas não é impossível”, disse
O líder da minoria no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), por sua vez, fala em “flagrante intervenção do presidente da República na Polícia Federal”. “Me parece que está sendo construída uma narrativa para justificar a saída do diretor geral. Está claro que está tendo uma flagrante intervenção do presidente da República na PF, que ofende a autonomia da corporação e de investigações em curso, que podem atingir o presidente, sua famíla e o esquema das fake news. É uma ofensa grave à autonomia da Polícia Federal”, opinou.
“O ministro Sérgio Moro já não tem condições de ficar no governo há muito tempo. Se ele, se sujeitar a ficar, estará trocando em definitivo sua biografia por uma carreira, pela esperança a um cargo no STF e da aquiescência de Bolsonaro. Ele conduziu bem a Lava Jato. Tive oportunidade de dizer pra ele que foi um grave erro ele servir ao principal opositor do candidato que ele levou à prisão. Ano passado ele se submeteu a uma série de concessões. Foi ameaçado de perder a Segurança Pública, perdeu o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), e isso já era razão de sobra para ele pedir demissão. Será uma humilhação atroz e uma mancha indelével se ele insistir em ficar”, destacou Randolfe.
Por enquanto, parlamentares evitam falar em substitutos. A opinião geral é que Bolsonaro escolherá um nome de sua inteira confiança, tanto para o Ministério da Justiça, caso Moro deixe a pasta, quanto para a Polícia Federal, se o ministro não conseguir construir um sucessor.
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