O confronto entre Sergio Moro e Jair Bolsonaro, deflagrado ontem com a demissão do ex-juiz federal do comando do Ministério da Justiça, escancara o desgaste do governo com A grande contribuição dos três filhos mais velhos e o quanto a família merece defesa feroz do patriarca. No pronunciamento em que se defendeu das acusações do ex-ministro, o presidente não apenas defendeu Flávio, Carlos e Eduardo como admitiu que pressionou Moro para que colocasse a Polícia Federal num episódio em que seu filho mais novo, Jair Renan, o 04, de 22 anos, aparecia indiretamente.
Durante as investigações sobre o assassinato de Marielle Franco, o jovem foi apontado como antigo namorado de uma filha de Ronnie Lessa, acusado de ser o executor da vereadora. À época, o policial reformado era vizinho do futuro presidente da República. Bolsonaro disse jamais ter agido para blindar a família. Assegurou que não procurou o ex-ministro para interferir em investigações, “a não ser aquelas, não via interferência, mas quase como uma súplica sobre o Adélio (Bispo, que deu a facada nele durante a campanha eleitoral), o porteiro (do condomínio onde morava, mesmo de Lessa) e meu filho 04 (Renan)”.
“É desmoralizante para um presidente ouvir isso, mais ainda, externar. Ou não trocar, porque não foi trocado, sugeri a troca de dois superintendentes entre os 27. O do Rio, questão do porteiro, a questão do meu filho, o 04, o Renan, que agora tem 20, 21 anos de idade, quando num clamor da questão do porteiro, do caso Adélio, que os dois ex-policiais teriam ido falar comigo, também apareceu que o meu filho zero quatro teria namorado a filha deste ex-sargento. Eu comecei a correr atrás, primeiro chamei meu filho: ‘abre o jogo’. ‘Pai, eu sai com metade do condomínio, nem lembro quem é essa menina, se é que eu estive com ela’”, contou Bolsonaro, no pronunciamento.
Mais adiante, ele disse que “nunca pedi para blindar ninguém da minha família. Jamais faria isso. Agora, eu lamento que aquela pessoa que mais tinha que defender dentro de uma legalidade, não faz”, observou o presidente, reconhecendo mais uma vez que Moro deveria ter acionado a PF para investigar assuntos que envolvam seus filhos.
01, 02 e 03
A troca de comando da Polícia Federa subiu na lista de prioridades do presidente assim que começaram a avançar duas investigações: sobre os financiadores das milícias digitais que divulgam fake news e sobre o caso Queiroz. Ambas chegam bem perto dos filhos de Bolsonaro.
O mais velho, Flávio, é investigado por lavagem de dinheiro, peculato e organização criminosa. Uma das acusações é de que, supostamente, ele teria instituído um esquema de “rachadinha” entre funcionários de seu gabinete quando atuava como deputado estadual, na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Parte dos salários dos assessores seria devolvida ao filho do presidente ou usada para outros fins.
O senador é investigado desde 2018 por uma série de transações suspeitas ligadas a Fabrício Queiroz, ex-assessor do parlamentar entre 2016 e 2017. Ainda durante a campanha eleitoral, o então Coaf –– atual Unidade de Inteligência Financeira — identificou movimentação de R$ 1,2 milhão na conta de Queiroz. Quando as acusações surgiram, o senador negou ter cometido qualquer delito e garantiu ter o “passado limpo”.
Mas está na mira dos promotores a possibilidade de que a “rachadinha” tenha, inclusive, beneficiado o Escritório do Crime, milícia comandada pelo ex-policial Adriano Nóbrega, morto em fevereiro. Danielle Mendonça, ex-mulher de Nóbrega, foi assessora de Flávio à época em que as transações suspeitas foram realizadas. Ela chegou a admitir, em conversas a que os investigadores tiveram acesso, que Adriano ficava com uma parcela do salário.
Os outros dois filhos, Carlos e Eduardo, não ficam atrás nem em polêmicas, com discussões que levaram ao rompimento com antigos aliados, nem em investigações. Os irmãos são acusados de comandarem o Gabinete do Ódio, instalado no Palácio do Planalto. As investigações da PF apontam que uma série de fake news e ataques contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF) partem dali.
Dos dois, o mais velho, Carlos também é alvo de investigação por possível prática de “rachadinha”. O Ministério Público do Rio de Janeiro investiga também se ele empregou funcionários fantasmas.
Carlos e Eduardo são investigados pela Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das Fake News por terem, supostamente, participado de mobilizações na internet, com notícias falsas, para prejudicar adversários políticos. O STF está de olho nos constantes ataques ao Judiciário e ao Congresso, que partem de toda a família Bolsonaro.
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