Correio Braziliense
postado em 27/04/2020 16:22
Depois de mais de uma semana em silêncio, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia deu uma coletiva de imprensa na tarde desta segunda-feira (27/4). Uma das últimas vezes que o parlamentar falou com jornalistas foi depois dos ataques de Jair Bolsonaro contra o Congresso, em uma entrevista à rede de TV CNN Brasil em 17 de abril. À época, o deputado subiu o tom com Bolsonaro.
Com um discurso de pacificação, Maia falou sobre ajuda aos estados, projeção de perdas econômicas e desemprego, fugiu do tema da demissão do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, posicionou-se contrário ao impeachment e comparou o momento que o Executivo vive hoje com as crises no fim do governo do ex-presidente MIchel Temer.
Questionado sobre o período em que não deu coletivas, Maia afirmou que é melhor o silêncio que o conflito. “Em alguns momentos, é bom o silêncio. A sociedade, muitas vezes, compreende melhor no silêncio que no conflito. Estamos acompanhando, desde quinta, um conflito no próprio governo, e venho refletindo sobre qual deve ser o papel da Câmara nesse momento. Estamos no estágio inicial do aumento de casos de infecção por coronavírus”, disse. “Já está em um patamar muito maior que alguns auxiliares do governo imaginavam. As projeções em relação ao aumento de morte no meu estado, como em vários outros, é muito impactante, alarmante. além do impacto na saúde pública, tem um impacto grande na saúde econômica”, completou.
Maia falou em uma queda no Produto Interno Bruto que, se comparada à projeções de crescimento para o fim de 2020 antes da pandemia, equivalem a 10% do PIB. “Isso vai gerar aumento do desemprego no Brasil. Já se projeta aumento na taxa de desemprego de 16%, um aumento da economia informal chegando a 50% dos empregos no país. São números dramáticos em relação à vida, desemprego e renda dos brasileiros”, afirmou.
Processos de impeachment
Em seguida, falou das reações dos deputados em relação às acusações de Moro, de que Bolsonaro quer interferir nas investigações da Polícia Federal. “Os últimos dias foram importante para refletirmos sobre o nosso papel e o que devemos priorizar. O ex-ministro da Saúde e o da Justiça são homens públicos com muita credibilidade, o que gera muita pressão da sociedade, muitas críticas ao governo, mas todos esses processos, de CPI, impeachment, tem que ser pensados e refletidos com muito cuidado”, ponderou.
Saiba Mais
Maia, porém, defendeu a postura de parlamentares de debaterem a criação de CPI e a viabilidade de um impeachment contra Bolsonaro. “Tenho ouvido muitos quadros técnicos na economia e saúde, para continuarmos enfrentando esses desafios que não são pequenos, somado a uma crise política que vai impactar fortemente na confiança dos atores econômicos, dos que financiam a dívida. Nosso papel é dar confiança, ter equilíbrio. É legítimo os parlamentares discutirem CPIs e outros instrumentos. Mas, a Câmara deve ter paciência e equilíbrio para tratar do mais importante que é a vida, o emprego e a renda dos brasileiros”, afirmou.
Maia destacou, também, que não pode ficar comentando processos de impeachment contra o presidente. “Eu sou o juiz. Não posso comentar temas que a decisão é minha e independente. Passei por isso no governo do presidente Michel Temer. Superamos esse equilíbrio e muitos olham aquele governo com saudades de coisas que a gente fez junto. Passamos por duas denúncias, muitos pedidos de impeachment, e não podemos ter açodamento. A pressa faz com que a crise do coronavírus ter contornos ainda mais graves no impacto da vida da sociedade.
“Tem pessoas passando horas na fila para pegar o auxílio emergencial que nós construímos. Temos que garantir recursos para estados e municípios para que possam manter suas atividades de pé. Rio de Janeiro está com o primeiro hospital de campanha, Roraima e Belém (PA) estão com problema. Vemos números em Pernambuco, preocupantes também. Temos que entrar na agenda que preocupa os brasileiros. Temos que ter paciência, ouvir, refletir e analisar o que a sociedade tem a dizer”, destacou. “O parlamento não pode ser mais um elemento de crises e incertezas”, acrescentou
O divórcio com Moro
Sobre a saída de Moro do governo federal, Maia lamentou e destacou que as trocas de ministros no meio de uma pandemia causam ainda mais insegurança. Mas deixou claro que isso é um problema do Executivo. “É um problema do governo. Se há problemas na forma de nomear ou exonerar, já tem uma ação proposta pelo doutor Aras, procurador geral da República, para que se investigue essas questões. A Câmara deve manter seu foco no que é principal, que é o enfrentamento ao coronavírus. Ter paciência e equilíbrio para não ampliar uma crise que é do poder executivo”, afirmou.
Maia também falou das divergências que teve com Paulo Guedes. “Paulo Guedes tem credibilidade. Tive conflitos com ele, mas isso não me coloca aqui apenas para criticá-lo, e uma mudança pode ser interpretada de forma negativa para a sociedade. A gente diverge do ponto de vista das ideias, mas não pessoal. E o que a gente espera é que, com menos turbulência, possamos, juntos, construir um caminho para superar essas crises, com números menores, com número menor de perda de vidas, de desempregados, e que a renda não caia tanto quanto que está previsto”, refletiu.
Ajuda a estados e municípios
Maia afirmou que o Senado não está demorando com o projeto de lei de ajuda, mas construindo um acordo. Ele, no entanto, destacou que tem convicção sobre o texto que saiu da Câmara. “É legítimo que o senado trabalhe e mantenha, ou não, o texto da Câmara. Mas, nós temos convicção. E nos últimos dias, aumentou minha convicção em relação à necessidade de garantirmos um ‘seguro imposto’, a garantia da recuperação da arrecadação da atividade econômica”, destacou.
“Outros impostos, IPVA, IPTU, também terão queda de arrecadação grande. Alguns estados adiaram o pagamento do IPVA. Vão ter uma queda de arrecadação muito grande nas próximas semanas, e tem a estrutura de atendimento da Saúde, assistência social, área da segurança pública, corpo de bombeiros, toda uma estrutura de funcionamento que também participa do enfrentamento à crise. Não temos nenhuma intenção de falar que o texto da Câmara tem é que tem que ir a sanção. Tem que ir uma solução que garanta aos estados e municípios funcionarem. Daqui a alguns dias, estados e municípios perderão a capacidade de pagamento de salário”, ressaltou.
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