A pandemia provocada pelo coronavírus fez mais uma vítima ilustre em Brasília: Piantella, o mais antigo templo gastronômico da capital, permanecerá fechado a menos que alguém se habilite a adquiri-lo. Uma faixa de pano, onde se lê “Passo ponto” e o número do telefone, está à mostra para os interessados. A faixa cobre uma pequena parte da fachada feita de placas, inaugurada por Athos Bulcão em uma de suas últimas aparições públicas e muito antes da venda do Piantella para os atuais donos, empresários do Rio de Janeiro.
Foi há quatro anos que o empresário carioca Omar Peres, conhecido como Catito, comprou do advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, o restaurante instalado na 202 Sul, depois de ter pertencido a Marco Aurélio Costa, seu fundador. Na ocasião, Catito proclamou: “Não compro restaurantes, compro ícones”.
Catito relançou o Piantella em grande estilo e colocou na parede coleção de fotos feitas por Orlando Brito de políticos e personalidades que sempre frequentaram a casa. No interior, nada mudou: a mesma equipe antiga e o cardápio com as mesmas atrações que fizeram da casa, uma boa opção gourmet. Tournedor, paillard, lagosta (na época de pesca), rã à provençal e deliciosos filés, como à moscovita, servidos com uma generosa colherada de caviar.
Numa mensagem nada séria, Roberto Peres, irmão de Catito, enviou pelo WhatsApp a mensagem “Aviso Fúnebre”, na qual lamenta informar que “após 35 anos de vida e ficar internado na UTI do Santander por 45 dias, o Piantella veio a falecer com diagnóstico de Covid 19!! Velório e venda dos móveis e utensílios será feito pela internet”.
Na verdade, foram mais de 35 anos. Comprado nos anos 1970 pelos irmãos Antonio e Marco Aurélio Costa, além de Roberto Levy — todos vindos do Gaf —, o restô se tornou Tarantella. A casa foi um sucesso, ficava aberta até as 6h da manhã. Reunia políticos, jornalistas, empresários e todo o grand monde da capital. Só tinha um problema: não conseguia registrar o nome porque já havia outro semelhante no Rio.
“No dia 15 de março de 1985, que seria a posse de Tancredo Neves e acabou sendo a de José Sarney, veio um oficial de justiça que tirou a placa da porta”, lembra Marco Aurélio. O que pouca gente sabe é que foi o embaixador da Itália na época, Vieri Traxler, quem sugeriu para Marco Aurélio Costa o nome Piantella, que ficou até hoje. A preferência foi mantida especialmente entre os políticos de oposição. A Arena continuou se encontrando no Gaf e a turma de Ulysses Guimarães fez do Piantella a sua segunda casa. Almoçavam e jantavam lá todos os dias. Depois das longas refeições, bebiam como digestivo um aguardente francês feito de pera, que deu ao grupo o nome de “Turma do Poire”, dela os mais assíduos, além do líder Ulysses, Tancredo Neves, Renato Archer, Marcos Freire, Pedro Simon, Pacheco Chaves e outros. Bons tempos!
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