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Evento celebra o Dia do Trabalhador com críticas a Bolsonaro

Evento que reuniu os ex-presidentes FHC e Lula mais de 30 anos depois sai em defesa dos milhões que perderam o emprego pelo mundo. União pelo país, críticas ao capitalismo e ataques a Bolsonaro deram a tônica de evento que atraiu até roqueiro inglês

Foi um 1º de maio diferente. Não havia multidões nas ruas, nem carros de som, nem bandeiras de sindicatos. Longe das ruas e inseridos nas praças virtuais, políticos, artistas e associações profissionais enviaram mensagens de apoio e solidariedade aos trabalhadores. Não faltaram críticas ao presidente da República, Jair Bolsonaro, no ato virtual organizado pela Central Única dos Trabalhores, Força Sindical e outras centrais sindicais.

O recado do chefe do Executivo veio logo pela manhã, com um ataque velado a governadores e prefeitos. Em uma reunião no Palácio do Alvorada com produtores rurais e a deputada Bia Kicis (PSL-DF), questionado sobre qual seria a expectativa para a data, o presidente afirmou esperar que a população voltasse ao trabalho. “Gostaria que todos voltassem a trabalhar, mas quem decide isso não sou eu. São os governadores e prefeitos. Um bom dia a todos. O Brasil é um país maravilhoso, e eu tenho certeza nesses (tosse)... tenho Deus acima de tudo e brevemente voltaremos à normalidade”, afirmou Bolsonaro. Há dez dias, decisão unânime do Supremo Tribunal Federal (STF) determinou que os chefes de executivo locais têm prevalência ao definir quais serviços são essenciais durante a pandemia.

O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), rebateu o presidente nas redes sociais. Afirmou que Bolsonaro está se aproveitando da crise do coronavírus para sufocar as unidades federativas. Também disse que a conta de mortos e da crise econômica são, sim, responsabilidade do chefe do Executivo. “No 1º de maio, é importante que os trabalhadores saibam que o único que pode socorrer os que nesse momento padecem financeiramente é o governo federal. Em vez de asfixiar os estados, como parece querer o presidente, é preciso agir. A conta é do presidente. É assim em todo o mundo”, postou.

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Para além da briga entre o presidente e os governadores, o Dia do Trabalhador foi marcado por uma grande manifestação virtual, organizada por entidades sindicais. O evento online foi o primeiro em que os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva participaram juntos desde a eleição de Collor, em 1989, quando FHC apoiou o petista no segundo turno. A maioria dos convidados falou sobre a data em homenagem ao trabalhador, sobre o coronavírus e teceu críticas ao presidente.

FHC pediu união, mas não falou o nome de Bolsonaro. “A comemoração do 1º de maio expressa a solidariedade dos trabalhadores. A decisão de fazer uma só celebração com diversidade de organizações sindicais é muito importante. Este ano, temos a pandemia e as rápidas mudanças econômicas provocadas pelas tecnologias, e o medo da pandemia e do desemprego. Não é hora de nos desunirmos, mas de nos juntarmos para construir o futuro, a partir as condições do presente. São (condições) negativas, mas são as que temos. Temos que olhar pra frente, acreditar no futuro, olhar as pessoas e marchar juntos. Enfrentamos alguns problemas antigos e outros novos e temos que manter a democracia e a liberdade”, afirmou.

O ex-presidente Lula destacou as transformações que o vírus causou ao planeta em poucos meses, trancando em casa “mais de 3 bilhões de seres humanos e mudando a de forma dramática a vida de cada um de nós. Lula também falou em se preparar para o futuro. No final de sua mensagem, criticou Bolsonaro, ao dizer que o chefe do Executivo “debochou com a memória da morte de mais de 5 mil brasileiros. “A economia deixou o capitalismo nu. Foram necessários 300 mil cadáveres para a humanidade ver uma verdade que os trabalhadores conhecem que desde que nasceram. O que sustenta o capitalismo não é o capital, mas as pessoas, os trabalhadores”, disse.

Dilma Rousseff dedicou boa parte de sua fala para criticar o atual presidente. Disse que Bolsonaro é um político “que não se envergonha de promover a desordem e destruição da ordem apoiando protestos contra as instituições democráticas”. “A pandemia ganha contornos ainda mais graves no Brasil. O presidente deixa de atuar como um líder que deveria salvar vidas humanas. É triste que tenhamos que atravessar uma situação tão ruim em pleno século 21, tendo à frente um líder que elogia torturadores, desrespeita a vida das pessoas, despreza a ciência e trata governadores e prefeitos como inimigos, e se omite de uma crise econômica que se avizinha com desemprego em massa”, criticou.

Ex-ministro da Fazenda, Ciro Gomes também evitou mencionar Bolsonaro diretamente, apesar de serem adversários ferrenhos. “É muito bom ver a luta dos trabalhadores desde o fim da escravidão e conquista de muitos direitos. Essas conquistas históricas têm sido desmontadas, aproveitando o desespero de mais da metade da população. O Brasil já contava com 13 milhões de desempregados ainda antes do coronavírus. Temos que aproveitar a dura ocasião e estar à altura desses herois do passado. Temos que refletir o que aconteceu para chegar onde chegamos, e construir um novo projeto de desenvolvimento, com trabalhadores e famílias no centro, e não a destruição do nosso país”, disse.

Pink Floyd

Além de reunir críticas a Bolsonaro e manifestar um desagravo aos trabalhadores, o ato virtual do 1.º de maio defendeu isolamento social para combater a pandemia do novo coronavírus. Houve participação de artistas nacionais e internacionais. O ponto alto foi a participação do músico Roger Waters, fundador da banda britânica Pink Floyd. Ele gravou uma mensagem dirigida aos trabalhadores brasileiros e tocou uma música. "Eu sei que isso é uma grande celebração do movimento dos trabalhadores no Brasil, e meu coração está com vocês”, disse Waters.
Era esperada a participação dos presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Segundo os organizadores do ato, no entanto, eles tinham confirmado mas não enviaram vídeos com as suas mensagens.