Politica

Moro acusa Bolsonaro e entrega supostas provas

Ex-ministro depõe por 8h30 na PF, em inquérito para apurar as denúncias dele contra presidente. Advogado do ex-juiz defendeu Cunha e Odebrecht na Lava-Jato

Correio Braziliense
postado em 03/05/2020 04:06
Apoiadores de Moro e de Bolsonaro enfrentaram-se nas proximidades da Superintendência da PF em Curitiba

O depoimento do ex-ministro da Justiça Sergio Moro na Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba, durou 8h30. De acordo com uma fonte na corporação, ele detalhou as acusações — que fez no pronunciamento ao entregar o cargo — de que o presidente Jair Bolsonaro tentou interferir politicamente na PF. O ex-juiz levou novas conversas de aplicativo e outros arquivos digitais que serão periciados pela PF. São mensagens de WhatsApp, áudios e e-mails, inclusive trocados com outros integrantes do governo, além do presidente. 

Moro respondeu a perguntas de dois delegados da Diretoria de Investigação e Combate ao Crime Organizado e de três procuradores que saíram de Brasília e foram até o Paraná para participar da oitiva.

O ex-juiz chegou ao prédio da PF em uma viatura da instituição e teve acesso ao edifício por meio de uma entrada privativa, nos fundos. O depoimento se estendeu tanto que um intervalo precisou ser realizado no fim da tarde. À noite, ocorreu mais uma pausa para o lanche. 

Na sala, Moro e os demais integrantes estavam afastados por uma distância de um metro cada, e todos de máscara, para evitar a disseminação do novo coronavírus. O procurador-geral da República, Augusto Aras, destacou para o depoimento os procuradores João Paulo Lordelo Guimarães Tavares, Antonio Morimoto e Hebert Reis Mesquita, que atuam no gabinete dele na capital federal.

Apoiadores de Moro e de Bolsonaro se enfrentaram em frente ao prédio da corporação. Nos momentos mais hostis, a Polícia Militar precisou intervir. Um manifestante, que estava do lado favorável ao presidente, chegou a tentar agredir jornalistas, sendo contido pela polícia. Os atos a favor de Bolsonaro foram convocados pela internet, e o de apoio ao ex-juiz partiu de integrantes de um acampamento pró-Lava-Jato que já se concentrava no local.

O depoimento vai ser encaminhado ao ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), relator do inquérito que apura as denúncias feitas por Moro contra Bolsonaro. O conteúdo pode ser mantido sob sigilo, se a PF entender necessário para preservar a investigação. Nos próximos dias, Mello deve determinar o cumprimento de diligências para recolher provas e informações, com o objetivo de averiguar as denúncias.

No governo, o clima foi de apreensão ao longo de todo o dia. Bolsonaro tentou demonstrar que não estava preocupado com assunto. No entanto, conversou com aliados e com os filhos para avaliar eventuais impactos das revelações. Interlocutores do Planalto informaram que o maior temor é de que, ao longo dos últimos meses, Moro tenha registrado diversas conversas com o presidente, não só por mensagens de texto, mas também em áudios e vídeos.

A deputada Bia Kicis (PSL-DF) afirmou que entrou em contato com o chefe do Executivo à noite e recebeu dele a informação de que estava enfrentando a situação com tranquilidade. “Acabei de falar com o presidente Jair Bolsonaro. Ele está tranquilo. Sabe que nem em 15 meses de conversa gravada, nem que fossem 15 anos, Sergio Moro teria alguma coisa contra ele. Talvez uns palavrões, quem sabe, mas acho que isso não é crime, a não ser que o STF resolva criar um”, ironizou.

Advogado

Para atuar em sua defesa, Moro contratou Rodrigo Sánchez Rios e outros três advogados. Conhecido criminalista de Curitiba, Sánchez é secretário-geral da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no Paraná. Ele atuou em casos da Lava-Jato em que o próprio ex-ministro da Justiça era o juiz da causa. Entre o rol de clientes do defensor no âmbito da operação está o ex-deputado Eduardo Cunha, que foi presidente da Câmara.

Sánchez também esteve à frente da defesa do empresário Marcelo Odebrecht, uma das figuras mais marcantes do caso Lava-Jato. O ex-presidente da empreiteira que leva seu sobrenome esteve profundamente envolvido no esquema de desvio de recursos da Petrobras.




“Os mandantes estão em Brasília? O Judas, que hoje (ontem) deporá, interferiu para que não se investigasse?”
Jair Bolsonaro, em tuíte contra Moro, insinuando que ele o teria traído, sem levar adiante as investigações sobre a facada dada no presidente por Adélio Bispo


 
Hostilidade contra Moraes
Um grupo de manifestantes pró-Bolsonaro fez um protesto, ontem, em frente ao prédio em São Paulo onde mora o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). O magistrado suspendeu a nomeação de Alexandre Ramagem para o comando da Polícia Federal, que tinha sido definida pelo chefe do Executivo. Com uso de um megafone, cerca de 20 manifestantes, com carros parados na calçada cobertos com a bandeira do Brasil, xingavam Moraes e pediam para que ele descesse até a rua. O ministro foi chamado de “comunista que não gosta de polícia” e que estava “com medo do Ramagem”. Pelo menos duas pessoas foram detidas pela Polícia Civil.




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