Correio Braziliense
postado em 04/05/2020 16:13
O chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, e os ministros Walter Braga Netto (Casa Civil) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) testemunharam o presidente Jair Bolsonaro ameaçar demitir o então ministro Sérgio Moro (Justiça e Segurança Pública) em reunião gravada no dia 22 de abril - dois dias antes de o ex-juiz anunciar sua saÃda do cargo.
As informações foram repassadas à PolÃcia Federal no longo depoimento que Moro prestou na sede da superintendência da corporação no último sábado, 2, em Curitiba. O motivo da ameaça foi a resistência do ex-juiz em manter MaurÃcio Valeixo na chefia da PolÃcia Federal.
Os três ministros foram citados no depoimento de Moro como eventuais testemunhas da conversa entre ele e o presidente. A reunião do conselho de ministros foi gravada pelo Planalto.
No dia seguinte, 23 de abril, Bolsonaro informou Moro de que havia tomado a decisão de demitir Valeixo, o que motivou o ex-juiz a deixar o cargo e anunciar, no dia 24, a tentativa de 'interferência polÃtica' do presidente no comando da PF.
As acusações levaram à abertura de inquérito no Supremo Tribunal Federal que apura as acusações do ex-ministro.
Nesta segunda-feira, Bolsonaro anunciou Rolando Alexandre de Souza para a cadeira deixada por Valeixo na PF. Número dois da Abin e braço direito de Alexandre Ramagem, inicialmente indicado para o cargo, mas barrado pelo STF, Rolando assumiu a direção-geral da corporação 20 minutos depois da publicação de sua nomeação no Diário Oficial da União.
Bolsonaro também comentou o depoimento de Moro, que entregou conversas trocadas com o presidente à PolÃcia Federal. Uma delas é a já revelada publicamente em que o presidente encaminha um link do portal O Antagonista sobre inquérito do Supremo mirar aliados do governo com a mensagem: 'Mais um motivo para a troca'. Segundo o presidente, as acusações de Moro se tratam de uma 'fofoca'.
"Tem um print do Antagonista. Eu escrevi embaixo 'Mais um motivo para troca". Estão me acusando por causa disso que eu estou interferindo na PolÃcia Federal. Estou dizendo que isso é fofoca. O complemento vem depois", disse.
Peritos da PolÃcia Federal extraÃram do celular do ex-ministro mensagens trocadas com Bolsonaro, incluindo as que foram deletadas para aumentar o espaço de armazenamento do aparelho. Uma varredura completa foi realizada e localizou até áudios enviados por aplicativos de mensagem. Os peritos também copiaram mensagens trocadas entre Moro e a deputada Carla Zambelli.
O próximo passo é a elaboração de um laudo no Instituto Nacional de CriminalÃstica sobre as conversas e os áudios.
Moro prestou depoimento de mais de oito horas na sede da PF no inquérito que investiga suas acusações de tentativas de interferência polÃtica de Bolsonaro na chefia da corporação. O Planalto se preocupa com o andamento de inquéritos que apuram esquemas de divulgação de 'fake news' e financiamento de atos antidemocráticos realizados em abril, em BrasÃlia.
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