Politica

Posse relâmpago na direção da PF

Bolsonaro oficilializa novo chefe da corporação em cerimônia fechada no Planalto. Delegado é braço direito de Alexandre Ramagem, vetado pelo Supremo

Correio Braziliense
postado em 05/05/2020 04:03
Bolsonaro e o novo diretor-geral da PF, Rolando Alexandre de Souza: posse 20 minutos após publicação no DO

Em tempo recorde, o presidente Jair Bolsonaro oficializou a escolha do delegado Rolando Alexandre de Souza para ser o novo diretor-geral da Polícia Federal. Após a tentativa frustrada de nomear Alexandre Ramagem para o posto, barrado por decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), o mandatário recorreu ao braço direito do diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem, para estender a influência do primeiro indicado, amigo da família Bolsonaro.

A posse do novo chefe da Polícia Federal aconteceu sem a solenidade no Palácio do Planalto, com nomeação publicada em edição extra do Diário Oficial da União (DOU). Bolsonaro assinou o termo de posse em uma cerimônia fechada no gabinete presidencial, cerca de 20 minutos após a publicação do nome de Rolando Alexandre de Souza no cargo. Para tentar impedir um desgaste ainda maior na corporação, que estava há quase duas semanas sem um chefe efetivo, o presidente dispensou uma cerimônia na qual declarações contundentes poderiam contaminar ainda mais o ambiente envolvendo a PF. O presidente queria que o novo diretor-geral iniciasse logo os trabalhos.

E a ordem foi cumprida com rapidez. No seu primeiro ato, Rolando trocou o comando da superintendência da PF no Rio de Janeiro, foco da família Bolsonaro. O presidente nunca escondeu o interesse em escolher o superintendente da corporação no estado fluminense, que investiga se o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) cometeu os crimes de lavagem de dinheiro e de falsidade ideológica eleitoral em negociações de imóveis e nas suas declarações de bens nas eleições de 2014, 2016 e 2018. Foi essa atitude de Bolsonaro, inclusive, um dos motivos para a saída de Sergio Moro do governo federal. No dia da demissão, o ex-ministro revelou que o presidente quis interferir politicamente na PF ao pedir a troca na chefia da superintendência do Rio de Janeiro, mesmo sem motivos plausíveis.

Promoção suspeita

Em uma manobra para não causar tanto tumulto na PF, Rolando convidou o então superintendente Carlos Henrique Oliveira para ser diretor-executivo da corporação, em Brasília. O cargo é o segundo mais importante da Polícia Federal. No entanto, mesmo em se tratando de uma promoção, a mudança despertou dúvidas sobre os reais interesses por trás da decisão do novo diretor-geral. Isso porque um dos cotados para substituir Oliveira é o delegado Alexandre Silva Saraiva, superintendente da PF do Amazonas e amigo dos filhos de Bolsonaro.

No ano passado, Bolsonaro havia cogitado o nome de Saraiva para substituir Ricardo Saad na superintendência do Rio de Janeiro, mas não teve apoio nem de Moro nem do ex-diretor-geral da Polícia Federal Maurício Valeixo. Agora, sem Saad e Moro pelo caminho, é provável que consiga a alteração. Apesar de ainda não ter sido confirmada oficialmente, ela já é tratada como certa nos bastidores da corporação – e questionada por integrantes da corporação.

Momento atribulado


Fontes ouvidas pelo Correio mostram preocupação com os movimentos que corroboram a vontade do presidente. Chama a atenção particularmente a chegada de um ex-integrante da Abin, agência subordinada à Presidência da República , em uma instituição de Estado como a Polícia Federal. “Pela primeira vez temos um alinhamento completo de uma agência de inteligência, que é ligada ao Executivo, com uma entidade de Estado. Havia o temor de que isso acontecesse”, disse uma fonte na PF. “Se o presidente da República tiver o entendimento de qual é o papel da Polícia Federal nessas investigações, não vai ter problema nenhum. Agora, qualquer coisa fora disso está errado. Se ele entender que o diretor tem que interferir, aí vamos ter todos os problemas do mundo”, comentou outro integrante da corporação.

A interferência política era o que mais temiam integrantes da corporação, em especial quando há uma grave crise de credibilidade rondando a instituição. Neste momento, o principal interesse de membros da PF é o de que o novo diretor-geral deixe claro que o órgão não faz nenhum tipo de assessoramento do Executivo federal e mostre que a Polícia Federal é um organismo de controle do Estado, e muitas vezes, de controle do governo.

“A Polícia Federal passa por uma crise grande. Há questionamentos sobre como será a PF daqui para a frente. Então, ele (Rolando) vai entrar em um momento muito atribulado e terá de proteger uma instituição de Estado, além de rechaçar qualquer pedido que não seja compatível com as funções da corporação”, comentou o presidente da Associação Nacional de Delegados da Polícia Federal (ADPF), Edvandir Paiva. “Só com muito trabalho e com demonstrações muito claras do diretor-geral de que a Polícia Federal seguirá o caminho que tomou até aqui é que vamos acalmar todo mundo e superar a crise que se instalou”, acrescentou.




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