Politica

Mentira deslavada, dispara o presidente

Correio Braziliense
postado em 06/05/2020 04:03
Jair Bolsonaro

Em meio às investigações da Procuradoria-Geral da República (PGR) de supostos crimes cometidos por ter tentado interferir politicamente na Polícia Federal, o presidente Jair Bolsonaro chamou de mentiroso o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro, responsável pelas declarações que motivaram a abertura do inquérito. Apesar das provas apresentadas pelo ex-juiz aos investigadores no último fim de semana, o mandatário comentou que “graças a Deus, quem está com a verdade, tem paz”.

Segundo o presidente, as afirmações de Moro de que ele já quis acessar relatórios de inteligência da corporação não passam de uma “mentira deslavada”. “Em nenhum momento eu pedi relatórios de inquéritos. Isso é mentira deslavada por parte dele. Mentira deslavada. Tenho até vergonha de falar isso”, disparou. “Até ele disse que eu pedi em uma reunião de ministros… Em uma reunião de ministros a gente ia pedir algo ilegal? Eu não peço (algum documento) ilegal nem individualmente, quem dirá de forma coletiva”, frisou Bolsonaro.

“Para que eu quero relatórios de inquérito? Eu não estou interessado em condenar ou absolver quem quer que seja. Isso não é trabalho meu. A minha vida está aí, à disposição de todos vocês, como sempre. Não tem nenhuma acusação de corrupção no meu governo. Zero”, enfatizou. Ele acrescentou que vai ler o depoimento de Moro “com atenção para poder responder às demais acusações dele”, mas enfatizou que “em nenhum momento ele fala que eu cometi crime”.

De qualquer forma, Bolsonaro acusou Moro de ter cometido crime federal ao divulgar trechos de conversas entre os dois a alguns veículos jornalísticos. “Ele (Moro) tinha peças de relatórios parciais de coisas que eu passava para ele. E entregar para a Globo isso? Isso é crime federal, talvez incurso na Lei de Segurança Nacional. E pode ver que eu confiava nele. Tanto é que passava extratos de informações com chefes de Estado e com inteligências de fora do Brasil, mas, tudo bem”, ponderou.

Apesar disso, ontem, o presidente decidiu também mostrar a jornalistas conversas que teve com Moro, entre elas a que já havia sido revelada pelo ex-ministro à TV Globo em que Bolsonaro justificava como “mais um motivo para a troca” no comando da Polícia Federal o fato de a corporação estar investigando deputados bolsonaristas do PSL, de acordo com reportagem do portal O Antagonista.

Após confirmar que a mensagem era sua, Bolsonaro mostrou um diálogo anterior em que havia enviado a Moro a mesma matéria do portal. Moro teria respondido: “Isso é fofoca. Tem um DPF (Departamento da Polícia Federal) atuando por requisição no inquérito das fake news, e que foi requisitado pelo min (ministro) Alexandre. Não tem como negar o atendimento ah (à) requisição do STF”.

“Ele tem informação privilegiada. Se isso é fofoca, ele diz que esse inquérito que existe no Supremo não tem nome de deputado federal nenhum e nem de Carlos Bolsonaro. Ele diz isso”, criticou Bolsonaro. “Eu lamento uma pessoa como o senhor Sergio Moro, um passado que ele teve importantíssimo na República do Brasil, caçando bandidos, corruptos… Eu lamento uma figura tão importante, como foi o senhor Sergio Moro para nós, prendendo o ex-presidente Lula em primeira instância, ter esse fim”, acrescentou.

Rio

Por diversas vezes, o mandatário garantiu que não interferiu na mudança da Superintendência da PF no Rio de Janeiro. O responsável pela corporação no estado, Carlos Henrique Oliveira, foi convidado pelo novo-diretor geral da Polícia Federal, Rolando Alexandre de Souza, para ser diretor-executivo. Apesar disso, Bolsonaro não escondeu o seu interesse na sede da instituição em solo fluminense.

“O Rio é o meu estado. Vamos lá: o caso porteiro, como foi a Polícia Federal no caso porteiro? Eu fui acusado de tentar matar a Marielle. Quer algo mais grave do que isso? O presidente da República acusado de um assassinato? A PF tinha de investigar”, garantiu, sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco.

Autoritarismo

Em tom autoritário contra os jornalistas, Bolsonaro chegou a mandar alguns profissionais calarem a boca. Apesar de ter pedido desculpas por ter sido “um pouco grosseiro”, ele impediu a imprensa de fazer perguntas e justificou que não estava em um “interrogatório”.

Bolsonaro ainda citou o fato de Carlos Henrique Oliveira, ex-superintendente da PF do Rio, ter sido convidado para assumir a direção executiva da PF. “Se era para trocar o superintendente do Rio, para onde foi convidado o superintendente do Rio? Para que cargo? Vocês dizem que eu estou interferindo. Então, o novo DG, diretor-geral, convidou, eu não sei se... Deve ter aceitado, já que um cargo desse quem não quer ser? O sonho de todo policial federal é ser diretor-geral, ou incorporar as diretorias da Polícia Federal. Ele está sendo convidado para ser o 01 (na verdade, Oliveira será o 02 da PF)”, afirmou o presidente.


"Em nenhum momento eu pedi relatórios de inquéritos. Isso é mentira deslavada por parte dele. Mentira deslavada”
Jair Bolsonaro, presidente da República


Estocada no ex-ministro
O presidente Jair Bolsonaro afirmou que sua defesa será feita pela Advocacia-Geral da União (AGU). “Não vou pagar advogado caro porque não tenho dinheiro. Vivo com meu salário daqui. Eu ganho em torno de R$ 23 mil líquidos por mês, não dá para pagar um advogado que já tenha defendido alguém da Lava-Jato, não dá”, ironizou. A crítica foi ao ex-ministro Sergio Moro, que tem quatro advogados, um deles é Rodrigo Sánchez Rios. Conhecido criminalista de Curitiba, ele atuou em casos da Lava-Jato em que o próprio ex-ministro da Justiça era o juiz. Entre o rol de clientes do defensor no âmbito da operação está o ex-deputado Eduardo Cunha, que foi presidente da Câmara, e o empresário Marcelo Odebrecht.




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