Correio Braziliense
postado em 09/05/2020 04:03
As atitudes da secretária nacional de Cultura, Regina Duarte, que cantou a marcha da ditadura e desdenhou das mortes e torturas praticadas durante o regime militar, em entrevista à CNN Brasil, causou controvérsia e repercutiu nas redes sociais. Enquanto o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, e o general Eduardo Villas Boas, ex-chefe do Exército, saíram em defesa da atriz, ex-colegas artistas postaram críticas às posições dela.
Marcelo Álvaro Antônio irritou-se ao ser perguntado sobre o assunto. “Acho que a gente precisa focar mais naquilo que é relevante para o Brasil. A Regina participou de uma entrevista que eu acho que foi feita de uma forma inadequada. Não precisava daquele tom, daquele nível. Vou me abster de fazer comentários.”
O general Eduardo Villas Boas elogiou a postura da atriz pelas redes sociais. “Fiquei encantado com a Regina pela demonstração de humanismo, grandeza, perspicácia, inteligência, humildade, segurança, doçura e autoconfiança que nos transmitiu”, escreveu nas redes sociais. E prosseguiu: “Apreciei a firmeza com que reagiu à desleal tentativa (dos jornalistas) de confrontá-la com a artista Maitê Proença”.
Perplexa
Entre colegas, as críticas inundaram a internet. Maitê Proença, cujo vídeo com perguntas a Regina desencadeou o “chilique” (como a própria secretária se referiu ao ataque que teve ao vivo), participou de uma live, ontem, com a diretora e produtora Adriana Dutra e contou o que aconteceu.
“A CNN me pediu, como a Regina foi lá conversar, para ver como ficava a situação da Cultura, porque acho que está na hora de fazer alguma coisa como classe. Acho que ela não quis ouvir. Presumiu que era coisa do passado”, explicou. No vídeo que seria passado para Regina e que está nas redes sociais de Maitê, a atriz afirma que “a Cultura está perplexa” com a falta de informações.
“Estamos sobrevivendo de vaquinhas. Até quando isso vai se sustentar. São poucos os que têm reserva financeira para milhares que estão à míngua. Enquanto isso, morrem gigantes como Rubem Fonseca, Moraes Moreira, Aldir Blanc e Flávio Migliaccio, e nenhuma palavra do presidente e nenhuma palavra da secretária. Fale com sua classe, Regina, precisamos de você”, diz, no vídeo. Na live de ontem, Maitê lamentou que não exista diálogo com o governo. “O que tem é cala boca para cá e cala boca para lá”, criticou.
Filha de Regina Duarte, a atriz Gabriela Duarte recebeu uma enxurrada de apelos de internautas para que interdite a secretária. Outros artistas também se manifestaram nas redes. A cantora Anitta fez duras críticas no perfil da secretária no Instagram. “Uma pessoa que aceita assumir a Secretaria de Cultura está aceitando trabalhar para o povo. Isso significaria escutar também os lados que pensam diferente da senhora e colocar sua posição sobre a questão. Se recusar a ouvir uma opinião contrária logo depois de enaltecer os tempos de ditadura me causa muito medo”, postou.
Walcyr Carrasco, escritor e dramaturgo, lamentou a transformação da atriz em secretária. “Regina, você foi minha amiga e abriu portas no início da minha carreira. Por isso, dói muito vê-la neste novo papel de secretária. Fiquei chocado quando, na entrevista, você simplesmente achou normais as mortes e chancelou a tortura. O que aconteceu com você, Regina?”, indagou.
O ator Bruno Gagliasso postou uma foto da entrevista e escreveu que não dá para desculpar o deboche com os torturados pelo Estado, a arrogância ao dar de ombros às minorias, o silêncio, a falta de projetos e a forma como a secretária trata os trabalhadores do audiovisual brasileiro. “Não dá para desculpar sua falta de diálogo com a categoria, a sua estupidez com jornalistas e ex-colegas de trabalho. Não dá para desculpar a preferência que a senhora tem por ditadores, genocidas, irresponsáveis.”
"Fiquei encantado com a Regina pela demonstração de humanismo, grandeza, perspicácia, inteligência, humildade, segurança, doçura e autoconfiança que nos transmitiu"
Eduardo Villas Boas, ex-comandante do Exército
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