Correio Braziliense
postado em 12/05/2020 04:02
Será analisado, hoje, na sede da Polícia Federal em Brasília, o vídeo da reunião ministerial em que o presidente Jair Bolsonaro teria exigido mudanças na chefia da corporação e ameaçado demitir o então ministro da Justiça, Sergio Moro. A gravação foi apontada pelo ex-juiz como uma das provas da acusação que fez de que o chefe do Executivo tentou interferir politicamente na PF.
Ontem, Moro chegou à capital federal e deve acompanhar a análise das imagens junto a investigadores para confirmar se o vídeo foi repassado ao Supremo Tribunal Federal (STF) na íntegra, sem cortes ou edições, como garante a Advocacia-Geral da União (AGU). A gravação foi entregue à PF por ordem do ministro Celso de Mello, relator do inquérito no STF. Ontem, o magistrado determinou que a corporação faça a perícia na gravação para verificar autenticidade e integridade.
Também ontem, Bolsonaro demonstrou insatisfação pelo fato de a gravação ter sido disponibilizada por completo. “Espero que se extraia do vídeo a parte que interessa ao inquérito para saber se houve alguma interferência minha na Polícia Federal ou não. O restante, eu tratei de política externa. Não é justo alguém achar que deve divulgar isso, eu tratando de política internacional”, defendeu. “É justo expor o que falamos sobre política externa, assunto de segurança nacional? Espero que isso não aconteça. Aí, não dá, aí complica a situação. E eu espero que isso não aconteça. Espero que os demais poderes que vão tratar desse assunto tratem da mesma forma responsável”, acrescentou.
Apesar de a AGU ter postergado ao máximo a entrega do vídeo, Bolsonaro comentou que decidiu disponibilizar a gravação aos investigadores pela “verdade acima de tudo”. “Não era um depoimento público, era reservado. Eu podia falar: ‘Não tenho mais o vídeo’. Não tenho obrigação de ter o vídeo. Mas assumi, a verdade acima de tudo. Agora, o que eu acho que deve ser feito é extrair a parte em que eu falo do Moro”, frisou.
O presidente disse estar “zero” preocupado com o vídeo. “Eu nunca ofendi ninguém. Eu nunca agredi ninguém. Eu nunca ameacei ninguém. Pronto, suficiente. Está na fita”, disse. “Zero (preocupado). Nós fornecemos o vídeo na íntegra — e não precisa fornecer no meu entender, porque não é um vídeo oficial — para comprovar que nada devemos no tocante ao inquérito”, emendou.
Quem também teve acesso à gravação foi o procurador-geral da República, Augusto Aras. Para ele, a investigação do vídeo deve se focar apenas nos trechos que envolvem os diálogos do presidente e de Moro. “Só interessa ao inquérito partes referentes a diálogos travados entre o presidente da República e o ex-ministro Sergio Moro. Assuntos estranhos a essa interlocução devem ser dispensados, porque imagina-se que possa haver conversas que envolvam até questões de soberania nacional”, disse Aras ao programa Canal Livre, da TV Bandeirantes.
Ainda de acordo com o procurador-geral da República, “a rigor, uma reunião de ministros de Estado pode vir a criar embaraços não só internos, mas também nas relações internacionais”. “Creio que a lógica seria que nós pudéssemos cronometrar apenas os pontos referentes aos diálogos entre o presidente e o ex-ministro”, opinou.
Supostos crimes
O inquérito foi aberto no STF a pedido do procurador-geral da República, Augusto Aras, com base nas acusações de Moro. A intenção é avaliar se Bolsonaro cometeu os crimes de falsidade ideológica, coação no curso do processo, advocacia administrativa, prevaricação, obstrução de Justiça e corrupção passiva privilegiada. Moro, por sua vez, pode responder por denunciação caluniosa e crime contra a honra se não conseguir provar as acusações.
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