Correio Braziliense
postado em 15/05/2020 04:13
Na reunião ministerial do dia 22 de abril, o presidente Jair Bolsonaro proferiu claramente a palavra “interferir” ao fazer referência à Polícia Federal, à Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e a outras entidades do setor de investigação. No encontro, disse ainda que não esperaria “alguém f…” a família dele para “trocar o pessoal da segurança” no Rio de Janeiro. Os trechos constam de uma petição enviada pela Advocacia-Geral da União (AGU) ao ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal.
Ao remeter um pedido para que apenas as partes do vídeo relativas à fala do presidente sejam divulgadas, a AGU liberou parte do conteúdo gravado na reunião em que estavam todos os ministros, incluindo Moro. O governo pediu que o documento com as transcrições fosse mantido em sigilo até a decisão. Mas Celso de Mello, relator do inquérito, manteve o caso público e divulgou o documento.
Em um dos trechos do vídeo transcrito pela AGU, o presidente reclama de não ter informações da PF, da Abin e de outros órgãos de inteligência. É quando fala em interferir.
“Eu não posso ser surpreendido por notícias, pô! Eu tenho a PF, que não me dá informações; tenho as inteligências das Forças Armadas, que não têm informações; a Abin tem seus problemas, mas tem algumas informações...”, cobrou o presidente. E criticou os dados recebidos. “Me desculpe o serviço de informação nosso –– todos! É uma vergonha, uma vergonha. Eu não sou informado e não dá para trabalhar assim, fica difícil. Por isso, vou interferir. Ponto final. Não é ameaça. Não é extrapolação da minha parte. É uma verdade”, decretou, apesar de, em vários momentos, dizer que não citara a PF na reunião.
Em um segundo momento, Bolsonaro fala sobre família e amigos no Rio, e sugere trocas em órgãos federais de segurança no Estado. “Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro, oficialmente, e não consegui. Isso acabou! Eu não vou esperar f... minha família toda de sacanagem, ou amigo meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence à estrutura. Vai trocar. Se não puder trocar, troca o chefe dele. Não pode trocar o chefe, troca o ministro. E ponto final. Não estamos aqui para brincadeira”, ordenou, segundo a transcrição.
Isonomia
O advogado de Moro, Rodrigo Sanchéz Rios, destacou em nota que a transcrição parcial do vídeo da reunião busca “reforça a necessidade urgente de liberação do vídeo na íntegra”. Ele salientou que a transcrição omite trechos e contextos relevantes “para a adequada compreensão do que ocorreu na reunião”, “inclusive, na parte da ‘segurança do RJ’” –– ressaltou.
O advogado observou, ainda, que Moro e seus advogados foram surpreendidos com a petição da AGU, pelo fato de a transcrição parcial revelar uma “disparidade de armas, pois demonstra que a AGU tem acesso ao vídeo, enquanto a defesa de Sergio Moro não tem”.
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