Correio Braziliense
postado em 15/05/2020 13:21
Três dias após ter sido categórico ao afirmar que não havia citado a PolÃcia Federal, o presidente Jair Bolsonaro admitiu nesta sexta-feira, 15, ter usado o termo "PF" para se referir à instituição durante reunião ministerial do dia 22 de abril. Segundo depoimento do ex-ministro da Justiça Sérgio Moro, durante o encontro o presidente ameaçou demiti-lo caso não promovesse mudanças no órgão. Um inquérito no Supremo Tribunal Federal apura o caso.
O recuo de Bolsonaro ocorre após a própria Advocacia-Geral da República (AGU) apresentar ao Supremo transcrição das falas do presidente em que aparecem citações a "PF" e a "famÃlia". Na manifestação, a AGU pediu o levantamento do sigilo apenas das declarações do presidente na reunião, que estão sendo investigadas em inquérito. A decisão será do relator do caso, ministro Celso de Mello.
"Ô cara, tem a ver com a PolÃcia Federal, mas é a reclamação 'PF' no tocante ao serviço de inteligência", afirmou Bolsonaro a jornalistas na manhã desta sexta-feira, quando deixava o Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência. Ao chegar ao local, Bolsonaro carregava uma folha impressa com a manchete do jornal Folha de S.Paulo, que diz: "'Vou interferir e ponto final', afirmou Bolsonaro sobre PF". O presidente também levou impressas publicações da revista Crusoé e do jornal O Globo.
"A interferência não é nesse contexto da inteligência não, é na segurança familiar. É bem claro, segurança familiar. Não toco em PF e nem PolÃcia Federal na palavra segurança", disse o presidente, que defendeu a divulgação do vÃdeo da reunião. Na manifestação ao STF, a AGU quer que apenas a parte referente ao inquérito seja exibida.
Questionado se falava em interferência no Gabinete de Segurança Institucional (GSI), órgão responsável por garantir a segurança do presidente e de seus familiares, Bolsonaro demonstrou irritação e chamou a entrevista de "palhaçada". "Eu não vou me submeter a um interrogatório da parte de vocês. Espero que a fita se torne pública para que a análise correta seja feita", disse.
Interferência
Segundo a transcrição do encontro enviada pela AGU, Bolsonaro disse aos auxiliares na reunião ministerial que não pode ser "surpreendido com notÃcias". "Pô, eu tenho a PF que não me dá informações; eu tenho as inteligências das Forças Armadas que não têm informações; a Abin tem os seus problemas, tem algumas informações, só não tem mais porque tá faltando realmente… temos problemas… aparelhamento, etc. A gente não pode viver sem informação", afirmou.
"Então essa é a preocupação que temos que ter: a questão estratégia. E não estamos tendo. E me desculpe o serviço de informação nosso - todos - é uma vergonha, uma vergonha, que eu não sou informado, e não dá para trabalhar assim, fica difÃcil. Por isso, vou interferir. Ponto final. Não é ameaça, não é extrapolação da minha parte. É uma verdade", afirmou.
Moro se demitiu do governo dois dias após o encontro, após Bolsonaro exonerar o então diretor-geral da PF, MaurÃcio Valeixo, contra a sua vontade. No lugar, o presidente tentou nomear o atual diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem, mas foi impedido pela Justiça. Optou, então, pelo "braço direito" de Ramagem na agência, Rolando Souza.
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.