O ex-ministro Luiz Henrique Mandetta afirmou que o período desde sua demissão até a saída, ontem, de Nelson Teich, “foi um mês perdido” pelo Brasil no combate ao novo coronavírus. A crítica foi feita em entrevista ao programa CB.Poder –– uma parceria entre o Correio Braziliense e a TV Brasília ––, logo depois da confirmação de que seu sucessor à frente do Ministério da Saúde havia pedido demissão. A queda de Teich ocorreu após discordâncias com o presidente Jair Bolsonaro sobre o tratamento de infectados pela covid-19 utilizando cloroquina, e sobre o isolamento social.
“Nós perdemos um mês, em que deveríamos ter aumentado o sistema de saúde, procurando ampliar leitos, promovendo aproximação com a China para trazer respiradores, ventiladores, equipamentos individuais. Tenho a sensação de que o Brasil não está preparado para os próximos meses”, lamentou Mandetta.
Segundo o ex-ministro, a expectativa é de que o número de casos comece a se estabilizar em julho, podendo se reduzir em agosto e setembro, mas somente se as medidas de ataque à pandemia sejam eficazes. Mandetta pontuou que a saída de Teich dificultou ainda mais a elaboração de determinações específicas por região. “Quando ele entrou, exonerou todas as pessoas que estavam no ministério responsáveis por essa leitura de características de cada local. Ele não teve tempo de nomear substitutos. No momento, quem tem as equipes mais bem formadas são os governadores e os municípios”, destacou.
Mandetta, que tem formação como médico ortopedista, também comentou sobre o uso de cloroquina e hidroxicloroquina no tratamento de infectados pelo novo coronavírus. Ele afirmou que Bolsonaro quer apenas um medicamento para que as pessoas se sintam confiantes para retomar a economia. Isso as levaria a acreditar que a substância resolve o problema.
“A cloroquina, para pessoas acima de 60 anos, pode causar mortes por parada cardíaca. Nos estudos que estamos fazendo, 33% dos pacientes tiveram problemas de arritmia e foi necessário parar o tratamento”, explicou.
Ele lembrou ainda que o medicamento não tem eficácia comprovada, mas o assunto “foi politizado”. Mandetta considerou “irônico e preocupante” que pessoas sem formação adequada, como é o caso da ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, estejam incentivando o uso da cloroquina –– ela divulgou um vídeo, na última quinta-feira, em que falou sobre o “milagre” no uso da hidroxicloroquina em um hospital do Piauí.
Sobre a crise entre Bolsonaro e Sergio Moro, aberta pela tentativa do presidente de interferir politicamente na Polícia Federal, Mandetta disse que via semelhanças entre sua saída do governo e a de Moro. “É difícil você não conseguir organizar seu setor em razão das opiniões do presidente”.
O ex-ministro negou, ainda, que haja articulação para uma possível chapa eleitoral ao lado de Moro para as eleições de 2022. Segundo ele, existem problemas maiores no momento. “Temos coisas mais urgentes, como essa pandemia do coronavírus. Temos que superar isso”, observou.
*Estagiário sob a supervisão de Fabio Grecchi
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