Correio Braziliense
postado em 17/05/2020 04:16
A aparente surpresa do pedido de demissão de Nelson Teich como ministro da Saúde mudou os planos do presidente Jair Bolsonaro, que cancelou o pronunciamento anunciado para ontem que faria em rede nacional de rádio e televisão. A expectativa era de que ele defendesse a volta ao trabalho em todo o país, conduta vista como uma jogada política para desmoralizar governadores e prefeitos que adotam medidas rígidas de isolamento. A fala foi deixada de lado após Bolsonaro ter dado mais um passo para fazer valer a liberação em massa da cloroquina no tratamento da covid-19, já que caberá ao oficializado ministro interino, Eduardo Pazuello, assinar o uso protocolar do medicamento.
Em conformidade com a vontade de Bolsonaro, médicos do próprio Ministério da Saúde elaboraram uma normatização para liberar, por parte do governo federal, o uso da hidroxicloroquina e da cloroquina em pacientes com sintomas leves de coronavírus. Nos bastidores, a previsão é de que Pazuello fique na chefia da pasta durante a semana, momento em que assinará o protocolo antes do novo ministro chegar. Pelo Twitter, Bolsonaro voltou a dizer que “um dos efeitos colaterais da cloroquina, remédio baratíssimo, é prevenir a corrupção”.
Em meio ao tumulto causado pela mudança, o chefe do Executivo decidiu suspender o pronunciamento. Ontem, apenas apareceu na portaria do Palácio Alvorada, onde mora, no fim da tarde, para dar um recado aos cerca de 50 apoiadores. “Onze horas na rampa”, disse ele, indicando que, nesse domingo, participará de novas manifestações no Palácio do Planalto, onde despacha diariamente. Bolsonaro não quis falar com a imprensa. Mais cedo, despistou os jornalistas ao não sair com o comboio, como de costume, e apareceu em frente ao prédio para conversar com manifestantes.
Apesar de não ter feito o pronunciamento, o presidente não deixou de condenar as regras de isolamento social. Pelo Twitter, ele afirmou que o “desemprego, a fome e a miséria será o futuro daqueles que apoiam a tirania do isolamento total”. Um vídeo do ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, detalhando o pagamento do auxílio emergencial de R$ 600, foi vinculado à postagem.
Crises
Os últimos dias foram ricos em crises com diversos setores: servidores, deputados, senadores, governadores e prefeitos. “Não pode o presidente, por convicção personalíssima, impor aos cidadãos ou entes federados condutas incompatíveis com a ciência. Ao persistir neste tipo de postura, absolutamente incompatível com o estado democrático de direito, o presidente infringe não somente os limites constitucionais, mas pratica ato que poderá ser considerado crime de responsabilidade”, avalia o senador Alessandro Vieira (Cidadania- SE).
Em suas constantes aparições públicas, além dos ataques à imprensa e até ao Congresso Nacional, mesmo que sem querer, Bolsonaro abasteceu a opinião pública de farto arsenal de declarações contraditórias sobre as provas apresentadas pelo ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, de que o mandatário pretende interferir politicamente na Polícia Federal para salvar a sua pele, de familiares e amigos.
Mourão com suspeita de covid
Vice-presidente da República, Hamilton Mourão, fez o teste para diagnosticar se está ou não infectado pelo novo coronavírus. O exame foi realizado ontem e a instrução é de que o general fique em isolamento até que o resultado saia. A esposa dele, Paula Mourão, também foi submetida ao teste e cumprirá a medida junto ao marido, no Palácio do Jaburu, residência oficial do número dois do Executivo Federal. O resultado deve ficar pronto nesta segunda-feira. Por isso, a agenda de Mourão foi cancelada até que se tenha certeza de que ele não está infectado. A suspeita se deu após um servidor próximo ao vice-presidente receber diagnóstico positivo para o novo coronavírus. Mourão teve contato com o infectado na última quarta-feira. A assessoria de imprensa do general Mourão divulgou uma nota esclarecendo as informações.
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