Politica

O cartel da Opep não funciona, diz Roberto Castello Branco

Presidente da Petrobras afirma que não há compromisso dos países exportadores de petróleo com o preço da commodity e ressalta que a Tesla, que produz carros elétricos, é seu maior competidor

Correio Braziliense
postado em 19/05/2020 15:50
Roberto Castello BrancoA indústria do petróleo está passando pela maior crise dos últimos 100 anos, com queda na demanda e nos preços internacionais, e o cartel da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) não funciona, senão teria evitado o colapso do setor em 2014. As afirmações são do presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, que participou, nesta terça-feira (19/5), de uma videoconferência ao vivo promovida pelo Banco Safra. “Com respeito a Arábia Saudita, sou cético sobre o poder do cartel. Há evidência empírica que isso é ilusório. A maior das evidências foi a guerra de preços com a Rússia”, destacou.


Segundo Castello Branco, ao longo da história da Opep, não houve punição nem compliance. “O grupo não cumpre as metas estabelecidas. A própria Arábia Saudita, após a covid-19 e depois do acordo com a Opep%2b (o cartel mais alguns produtores aliados), estava vendendo petróleo com desconto”, observou. O comentário foi feito como análise da drástica redução nos preços do petróleo provocada pelo cartel antes mesmo da queda brusca na demanda com a chegada da pandemia do novo coronavírus.


Segundo Castello Branco, a Petrobras ainda tem “sequelas do assalto de que foi vítima”. E por isso tem que apostar nos ativos que podem render o máximo retorno. “Existem outros operadores que conseguem extrair performance melhor em alguns ativos Temos um plano de desinvestimento grande, que estamos executando desde o ano passado. Nada mudou, apesar das dificuldades da grave recessão global”, ressaltou. 


O presidente da estatal repetiu o que tinha comentado durante o anúncio do prejuízo de R$ 48,5 bilhões da Petrobras no primeiro trimestre de 2020. “Acreditamos que haverá recuperação da economia mundial mas será lenta, assim como a recuperação da indústria do petróleo. Temos que nos preparar para preços mais baixos”, reformou. As projeções da estatal começam em US$ 25 este ano, reagindo lentamente até se acomodar em US$ 50 em 2025. “O capital está mais escasso e temos que aprovar apenas os projetos que resistam a isso”, acrescentou.


Rombo bilionário


Sobre o prejuízo bilionário da companhia, bem absorvido pelo mercado, Castello Branco afirmou que não houve surpresa nenhuma. “A baixa de ativos foi de US$ 13,2 bilhões. Temos que trabalhar com a realidade. Não queremos trazer informações falsas para o investidor. Não tínhamos obrigação de fazer isso agora, mas o mercado entendeu e valorizou isso”, explicou.


Para Castello Branco, o cenário não mudou em nada, apesar de alguma recuperação no preço do petróleo. “Continuamos a trabalhar com a incerteza. A nuvem só desaparecerá quando tivermos uma vacina”, disse. “Os preços estão se recuperando, mas encaramos de forma cautelosa. Nada impede que haja uma nova onda de pandemia. A gripe espanhola começou em 1918 e teve três ondas, a última em 1920”, lembrou. “Não vejo céu azul brilhando. Estamos trabalhando em movimentos de curto prazo”, completou.


O executivo ressaltou que as vendas de querosene de aviação (QAV) foram apenas 6% do normal e a demanda por gasolina caiu 65%. Mesmo diesel, cuja retração foi menor devido à safra e a uma movimentação de cargas não muito alterada, em abril, a queda foi de 40%. “O único produto que fugiu à ordem foi o GLP (gás de cozinha). A demanda aumentou por agitadores, nitidamente por estocagem”, pontuou.


O presidente da estatal ressaltou que a empresa hibernou 62 plataformas de águas rasas que não pagam os custos variáveis, por terem alto custo e baixa produtividade. “As 62 produziam 23 mil barris por dia. Uma única do pré-sal produz 180 mil barris por dia”, comparou. Ele comentou que o país não viveu o drama que outros produtores tiveram, com o excesso de estoques, o que motivou o petróleo a preço negativo. “Voltamos ao fator de utilização a um nível mais elevado, por conta do sucesso de exportação de óleo combustível marítimo, que tem baixo teor de enxofre. As regras internacionais exigem isso e nosso petróleo tem essa qualidade”, disse.


Ativos 

Entre os principais ativos que estão na mira do desinvestimentos da companhia estão as refinarias. E, segundo Castello Branco, as negociações de compra e venda não foram afetadas “Até agora não ouvimos de nenhum dos proponentes que passaram para propostas vinculantes que desistiriam. Só pediram para postergar o prazo de entrega das propostas para junho. Tudo permanece normal”, explicou.

Saiba Mais

O objetivo da Petrobras, de acordo com seu presidente, é trabalhar com custos mais baixos no futuro, porque além da crise do coronavírus, há competidores como a Tesla, que produz carros que não usam combustíveis fósseis. “Se me perguntarem quem é nosso competidor eu digo que a Tesla vai nos roubar muitos clientes. Temos que enfrentar isso com custos mais baixos, prosseguindo na redução de custos, acelerando a digitalização, trabalhando em projetos que tenham 100% de sucesso na exploração”, enumerou. “Hoje estamos preocupados com o curto prazo, mas trabalhando para o longo prazo e aprendendo várias lições com a crise”, finalizou.

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