Correio Braziliense
postado em 20/05/2020 06:00
Após a saída do oncologista Nelson Teich da liderança do Ministério da Saúde, o número de militares na linha de frente da pasta mais que duplicou. Somente ontem, nove nomeações foram publicadas no Diário Oficial da União, todos de colegas de farda do general Eduardo Pazuello, que comanda os trabalhos como ministro interino. A formação de um verdadeiro exército dentro da principal pasta ministerial do momento tem dividido opiniões entre a equipe.
Enquanto alguns avaliam como um ponto positivo, devido a características típicas da carreira militar, como disciplina e capacidade de ação rápida e coordenada frente a uma batalha, outros encaram a movimentação como uma forma de controle da pasta pelo presidente Jair Bolsonaro, fazendo valer as interpretações políticas acima das constatações técnicas.
Desde a saída do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, a inserção de militares na Saúde foi priorizada por Bolsonaro, que nunca escondeu a intenção de conduzir mais de perto o ministério. O objetivo era “começar a formar um ministério que siga a orientação do presidente de ver o problema como um todo”, disse Bolsonaro, no mesmo dia em que demitiu o antecessor de Teich.
Para auxiliar na transição, Bolsonaro escalou o almirante Flávio Rocha, chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE). Logo depois, o presidente indicou Pazuello para ser o número dois da pasta, função normalmente definida pelo próprio ministro, por ser um dos principais cargos de confiança.
Todos os novos nomes são de militares de carreira ou lotados para cargos no Comando do Exército. Como assessores foram escalados Alexandre Magno Asteggiano e Luiz Otávio Franco Duarte. Na diretoria-executiva do Fundo Nacional da Saúde, terão função de coordenação André Cabral Botelho, Giovani Cruz Camarão e Vagner Luiz da Silva Rangel.
Ramon da Silva Oliveira também ocupará um cargo de coordenação, mas como coordenador geral de Inovação de Processos e de Estruturas Organizacionais. Marcelo Sampaio Pereira será diretor de programa da Secretaria de Atenção Especializada à Saúde. Ângelo Martins Denicoli ficará como diretor do Departamento de Monitoramento e Avaliação do SUS e Mario Luiz Ricette Costa será assessor técnico da Subsecretaria de Planejamento e Orçamento.
O adjunto de Pazuello também pertence a ala militar. Trata-se do coronel do Exército Antônio Élcio Franco Filho, nomeado por assinatura do chefe da Casa Civil, Braga Neto, quando, normalmente, cabe ao chefe da pasta formalizar esse procedimento. Agora, o coronel está na secretaria-executiva da pasta até que um novo ministro seja escolhido pelo presidente da República.
Nos bastidores, o isolamento de Teich se acentuou com a nomeação de mais uma leva de militares, indicados por Pazuello. Na primeira semana de maio, quatro militares de carreira foram nomeados para cargos de liderança da pasta. Na direção de Gestão Interfederativa e Participativa foi direcionado o tenente-coronel Reginaldo Machado Ramos. Marcelo Blanco Duarte é o novo assessor no Departamento de Logística. Jorge Luiz Kormann é diretor de Programa e Paulo Guilherme Ribeiro Fernandes, coodenador-geral de Planejamento. Todos têm como patente a de tenente-coronel.
Antes mesmo de qualquer indício de que o chefe da pasta pediria demissão, Pazuello já era considerado como “o verdadeiro condutor da pasta” por autoridades e gestores da saúde, a partir das conduções feitas pelo general durante as reuniões por vídeoconferência para alinhamento e definições diárias quanto às medidas de combate ao novo coronavírus. Nos bastidores, a previsão é de que o ministro interino fique na chefia da pasta durante a semana, momento em que assinará o protocolo que instrui o uso da cloroquina nos casos leves de coronavírus.
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