Correio Braziliense
postado em 21/05/2020 04:03
O presidente Jair Bolsonaro omitiu da agenda divulgada pelo Planalto o encontro que realizou com o delegado Carlos Henrique Oliveira, ex-superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro. Em depoimento, Oliveira afirmou que se reuniu com o chefe do Executivo no ano passado, pouco antes da formação do curso de policiais federais, que ocorreu em 8 de novembro. Em algumas situações, em uma prática já controversa, o governo atualiza a agenda presidencial após o compromisso ser realizado. No entanto, neste caso, meses depois da visita do delegado a sede do Poder Executivo, a audiência continua sem o registro.
De acordo com Oliveira, o encontro foi intermediado pelo diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem, que chegou a ser contado para o comando da Polícia Federal, mas teve a nomeação barrada pelo ministro Alexandre de Moraes, que se baseou em declarações do ex-ministro Sergio Moro que acusou Bolsonaro de tentar interferir na PF. Na agenda do presidente, em todo o segundo semestre do ano passado, não existem registros de reuniões entre Bolsonaro e Carlos Henrique Oliveira. A informação foi revelada pelo jornal O Globo, e confirmada pelo Correio. Os registros oficiais apontam uma intensa interação entre o presidente e Ramagem pouco antes da escolha do nome de Oliveira para chefiar a PF do Rio. Na semana em que ocorreu a cerimônia do curso de formação, Bolsonaro encontrou-se com Alexandre Ramagem três vezes.
No dia 02 de novembro de 2019, o presidente encontrou-se com Ramagem, sozinho, no horário do almoço. No dia seguinte, um novo encontro, entre 10h30 e 11 horas. Estiveram presentes, de acordo com a agenda do presidente, Sergio Moro, então ministro de Estado da Justiça e Segurança Pública; Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI); e Ramagem, que já estava na Abin.
No mesmo dia, no período da tarde, outro encontro envolvendo Ramagem. Desta vez, o vice-presidente, Hamilton Mourão, também estava presente. No dia 07 de novembro, um dia antes do evento do curso de formação, Bolsonaro reuniu-se novamente com Alexandre Ramagem. Esta semana Oliveira prestou depoimento à PF pela segunda vez, no âmbito do inquérito que investiga se o presidente Jair Bolsonaro tentou interferir na corporação. Na segunda oitiva, ele fez algumas retificações e confessou ter se encontrado com o presidente, algo que não havia contado uma semana antes, quando ficou frente a frente com delegados e procuradores. Ele afirmou que o encontro não teve nenhuma pauta específica, e que foi informado de que seria para se aproximar do presidente, que na época, desejava trocar o comando da PF no Rio, mas recusava Carlos Henrique ao cargo.
Apesar da nomeação dele no comando da Polícia Federal no Rio ter sido anunciada pela corporação em agosto, ele só foi oficializado no cargo em novembro. A escolha de um delegado para chefiar a superintendência da corporação no estado fluminense foi alvo de polêmicas de agosto do ano passado até março deste ano, com sucessivas tentativas de troca. O desgaste foi um dos motivos que levou Sergio Moro a deixar o governo e a acusar o presidente de ter intenções políticas para tentar mudar cargos de direção na corporação.
Depoimento no Rio
O empresário Paulo Marinho, que acusa um delegado de vazar informações sobre a operação Furna da Onça para o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), prestou depoimento na tarde de ontem, à Polícia Federal, no Rio de Janeiro. Durante a oitiva, ele confirmou as acusações que fez contra o parlamentar e deu novos detalhes sobre o caso. O foco desta investigação é saber se realmente houve vazamento da corporação para o parlamentar. Marinho ainda vai depor no âmbito do inquérito aberto no Supremo Tribunal Federal (STF) com base nas declarações do ex-ministro Sergio Moro de que o presidente teria tentado interferir na PF.
Marinho foi ouvido por delegados e procuradores do Ministério Público Federal. Ele disse que Flávio Bolsonaro o procurou em 2018, contando-lhe que havia sido informado sobre a operação que investigava Fabrício Queiroz, acusado de movimentar R$ 1,2 milhão no chamado esquema de rachadinha. O empresário entregou comprovantes de uma estadia no Hotel Emiliano, nos Jardins, em São Paulo. Os documentos datam do final de dezembro. De acordo com Marinho, no encontro, ele se reuniu com os advogados Ralph Vianna, Antônio Pitombo e Victor Alves, que trabalha para Flávio Bolsonaro, além do ex-ministro Gustavo Bebianno, que morreu em março deste ano e dizia para pessoas próximas ter um dossiê contra o governo.
Vaivém no Planalto
Novembro - 2019
Dia 02 – Bolsonaro encontra-se com Ramagem no horário do
almoço no Planalto.
Dia 03 – Novo encontro da dupla entre 10h30 e 11 horas, também no Planalto. Participantes: Sergio Moro, então ministro de Estado da Justiça e Segurança Pública; Augusto Heleno, ministro-Chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República; e Alexandre Ramagem, Diretor-Geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
Dia 03 (à tarde) – Encontro entre Bolsonaro e Ramagem conta com a participação do vice-presidente Hamilton Mourão e Augusto Heleno.
Dia 7 – Novo encontro do presidente com Alexandre Ramagem.
Dia 8 -- Cerimônia do curso de formação de policiais federais.
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