Politica

Antes de reunião, Bolsonaro disse a Moro que mudaria comando da PF

Troca de mensagens entre presidente e ex-ministro revelada pelo Jornal O Estado de S. Paulo mostra que Bolsonaro estava "decidido" a exonerar o ex-diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, desde antes da reunião ministerial de 22 de abril

Correio Braziliense
postado em 23/05/2020 19:25

Presidente Jair Bolsonaro e Sergio Moro em reunião ministerial do dia 22 de abrilHoras antes da reunião ministerial de 22 de abril, quando o presidente Jair Bolsonaro falou sobre a vontade de "interferir" em órgãos de segurança vinculados ao governo federal, o mandatário enviou mensagens ao ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro afirmando que iria demitir o então diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, ainda naquela semana.

 

Os diálogos foram revelados neste sábado (23/5), pelo jornal O Estado de S. Paulo. Na conversa, Bolsonaro escreveu, às 6h26: “Moro, Valeixo sai esta semana”. “Está decidido. Você pode dizer apenas a forma. A pedido ou ex oficio (sic)", acrescentou o chefe do Palácio do Planalto ao ex-ministro.

 

A resposta de Moro aconteceu 11 minutos depois, às 6h37. "Presidente, sobre esse assunto precisamos conversar pessoalmente. Estou ah disposição para tanto", comentou o ex-chefe do Ministério da Justiça e Segurança Pública. As mensagens fazem parte do inquérito aberto pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para investigar se Bolsonaro tentou interferir politicamente na corporação.

 

 

 

Até o momento, o presidente garante que nunca teve a intenção de intervir na autonomia da Polícia Federal. Na sexta-feira (22/5), o STF tornou público o vídeo da reunião de Bolsonaro com ministros em 22 abril, tido por Moro como a principal prova da intenção do presidente de interferir politicamente na corporação.

 

Em determinado momento daquela reunião, Bolsonaro citou a Polícia Federal e falou em “trocar o pessoal da segurança no Rio de Janeiro”. De acordo com Moro, foi neste momento que ficou evidente o interesse do chefe do Executivo em interferir na corporação para proteger familiares e aliados. O comandante do Planalto, por sua vez, alega que se referia à sua segurança pessoal

 

“Mas é a putaria o tempo todo pra me atingir, mexendo com a minha família. Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro, oficialmente, e não consegui! E isso acabou. Eu não vou esperar foder a minha família toda, de sacanagem, ou amigos meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence a estrutura nossa. Vai trocar! Se não puder trocar, troca o chefe dele! Não pode trocar o chefe dele? Troca o ministro! E ponto final! Não estamos aqui pra brincadeira”, esbravejou Bolsonaro.

 

O presidente reforçou as reclamações do sistema de segurança, que, de acordo com ele, não passa informações suficientes. Mas citou um serviço de inteligência pessoal, sem dar mais detalhes. “O meu particular funciona. O que tem oficialmente, desinforma. Prefiro não ter informação do que ser desinformado por sistema de informações que eu tenho”, completou.  

 

Demissão de Moro

 

A renúncia de Moro do governo federal, em 24 de abril, foi motivada principalmente pela vontade de Bolsonaro em mexer na cúpula da Polícia Federal. A saída de Valeixo da corporação, publicada no Diário Oficial da União na madrugada daquele dia, não havia sido combinada entre Bolsonaro e ele, garante o ex-ministro. 

 

"A exoneração que foi publicada: eu fiquei sabendo pelo Diário Oficial, pela madrugada. Eu não assinei esse decreto. Em nenhum momento isso me foi trazido, em nenhum momento o diretor-geral da Polícia Federal apresentou um pedido formal de exoneração. Depois, ele (Valeixo) me comunicou que ontem à noite recebeu uma ligação dizendo que ia sair a exoneração a pedido e se ele concordava. Ele disse: 'Como eu vou concordar com alguma coisa? Eu vou fazer o que?'. Mas o fato é que não existe nenhum pedido que foi feito de maneira formal. Eu, sinceramente, fui surpreendido. Achei que isso foi ofensivo. Vi que depois a Secom (Secretaria de Comunicação) afirmou que houve essa exoneração a pedido, mas isso de fato não é verdadeiro. Para mim, esse último ato também é uma sinalização de que o presidente me quer realmente fora do cargo, não me quer presente aqui no cargo", disse Moro no seu discurso de despedida.

 

Contudo, na noite de ontem, Bolsonaro afirmou que Valeixo pediu para ser exonerado. “O senhor Valeixo de há muito vinha falando que queria sair. Na véspera da coletiva do senhor Sérgio Moro, dia 24, o senhor Valeixo fez uma videoconferência com os 27 superintendentes do Brasil, onde disse que iria sair. Eu liguei pro senhor Valeixo, o qual respeito, na quinta-feira, à noite. Primeiro ele ligou pra mim. Depois eu retornei a ligação pra ele. 'Valeixo, tudo bem?. Sai amanhã? Ex-officio ou a pedido?'. A pedido (foi a resposta de Valeixo, segundo Bolsonaro). E assim foi publicado no DOU. Lamento ter constado o nome do ministro da Justiça ali. É porque é praxe”, disse o presidente, em frente ao Palácio da Alvorada. 

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