Politica

Mensagem sobre troca na PF

Bolsonaro avisou o ex-ministro na manhã de 22 de abril, antes da reunião ministerial, que trocaria o diretor-geral. Dois dias depois, o ex-juiz anunciou a saída do governo e acusou o presidente de interferência na corporação

Correio Braziliense
postado em 24/05/2020 04:11
Reunião ministerial em que Sergio Moro acusa o presidente de tentar interferir na Polícia Federal: mensagens fazem parte do inquérito em tramitação no Supremo


Horas antes da reunião ministerial de 22 de abril, quando falou sobre a vontade de “interferir” em órgãos de segurança vinculados ao governo federal, o presidente Jair Bolsonaro enviou mensagens ao ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro afirmando que demitiria o então diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, ainda naquela semana.

Os diálogos foram revelados, ontem, pelo jornal O Estado de S. Paulo. Na conversa daquele dia, Bolsonaro escreveu, às 6h26: “Moro, Valeixo sai esta semana”. “Está decidido. Você pode dizer apenas a forma. A pedido ou ex oficio (sic)”, acrescentou o presidente ao ex-ministro.

A resposta de Moro veio 11 minutos depois, às 6h37. “Presidente, sobre esse assunto precisamos conversar pessoalmente. Estou ah disposição para tanto (sic)”, comentou o ex-juiz. “Amanhã temos reunião agendada para 09:00. Se quiser, podemos antecipar para hoje, em qualquer horário (só não posso hoje das 12-17:00 por videoconferência com ministros da Justiça da América Latina e depois com secretários de segurança dos Estados — conto com sua compreensão sobre esses horários)”, completou Moro.

As mensagens fazem parte do inquérito aberto pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para investigar se Bolsonaro tentou interferir politicamente na Polícia Federal. Até o momento, o presidente garante que nunca teve a intenção de intervir na autonomia da PF. Na sexta-feira, o STF tornou público o vídeo da reunião de Bolsonaro com ministros em 22 abril, tido por Moro como a principal prova da intenção do presidente de tentar intervir na corporação.

Em determinado momento daquela reunião, Bolsonaro citou a Polícia Federal e falou em “trocar o pessoal da segurança no Rio de Janeiro”, olhando para Moro. De acordo com o ex-ministro, foi neste momento que ficou evidente o interesse do chefe do Executivo em promover mudanças na corporação para proteger familiares e aliados. O comandante do Planalto, por sua vez, alega que se referia à segurança pessoal.

“Mas é a putaria o tempo todo pra me atingir, mexendo com a minha família. Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro, oficialmente, e não consegui! E isso acabou. Eu não vou esperar f... a minha família toda, de sacanagem, ou amigos meus, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence à estrutura nossa. Vai trocar! Se não puder trocar, troca o chefe dele! Não pode trocar o chefe dele? Troca o ministro! E ponto final! Não estamos aqui pra brincadeira”, esbravejou Bolsonaro.

Valeixo nega

O pedido de demissão de Moro do governo federal, em 24 de abril, foi motivado principalmente pela vontade de Bolsonaro em mexer na cúpula da Polícia Federal. A saída de Valeixo da corporação, publicada no Diário Oficial da União na madrugada daquele dia, não havia sido combinada entre Bolsonaro e ele, garante o ex-ministro. Valeixo sustentou a versão em depoimento à Polícia Federal, em 11 de maio, quando contou que jamais formalizou um pedido de demissão.

Segundo o ex-diretor-geral da PF, um dia antes da publicação no Diário Oficial, ele recebeu um telefonema de Bolsonaro questionado se ele concordava que sua exoneração saísse a pedido. Sem alternativa, o Valeixo concordou e acrescentou que o presidente justificou que queria alguém no cargo com quem tivesse “afinidade”.

Na sexta-feira à noite, após a divulgação da gravação da reunião ministerial, Bolsonaro afirmou que Valeixo pediu para ser exonerado. À imprensa, o mandatário disse que “o senhor Valeixo há muito vinha falando que queria sair”. “Na véspera da coletiva do senhor Sergio Moro, dia 24, o senhor Valeixo fez uma videoconferência com os 27 superintendentes do Brasil, onde disse que sairia. Eu liguei pro senhor Valeixo, o qual respeito, na quinta-feira à noite (véspera da demissão). Primeiro, ele ligou pra mim. Depois, eu retornei a ligação pra ele. ‘Valeixo, tudo bem? Sai amanhã? Ex-officio ou a pedido?’. A pedido (foi a resposta de Valeixo, segundo Bolsonaro). E assim foi publicado no DOU. Lamento ter constado o nome do ministro da Justiça ali. É porque é praxe”, comentou o presidente, em frente ao Palácio da Alvorada.



“Moro, Valeixo sai esta semana. Está decidido. Você pode dizer apenas a forma. A pedido ou ex ofício (sic)”
Jair Bolsonaro, presidente, em mensagem enviada às 6h26 ao então ministro da Justiça, Sergio Moro, horas antes da reunião ministerial 



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