Politica

Suspeito de fraude, Witzel alega perseguição

Governador do Rio é alvo de operação da PF que investiga desvios de recursos públicos em ações de combate à pandemia. Desafeto de Bolsonaro, gestor fluminense nega irregularidades e diz que interferência do presidente na corporação %u201Cestá oficializada%u201D

Correio Braziliense
postado em 27/05/2020 04:02
Witzel: %u201CContinuarei lutando contra esse fascismo que está se instalando no país, contra essa ditadura de perseguição%u201D

» JORGE VASCONCELLOS
» RENATO SOUZA
» VICENTE NUNES

A Polícia Federal desencadeou, ontem, no Rio de Janeiro e em São Paulo, a Operação Placedo, que apura suspeitas de desvio de recursos públicos em ações de combate à pandemia do novo coronavírus. Foram cumpridos 12 mandados de busca e apreensão, inclusive em endereços relacionados ao governador Wilson Witzel (PSC). A operação, embora autorizada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), reforçou as suspeitas de uso político da Polícia Federal. Em nota, o chefe do Executivo estadual afirmou que a interferência na corporação, por parte do presidente Jair Bolsonaro, seu desafeto, “está devidamente oficializada”. Na véspera, a deputada bolsonarista Carla Zambelli (PSL-SP) adiantou, durante uma entrevista, que governadores seriam alvo de investigações, o que levantou suspeitas de vazamento de informações. A deflagração da operação teve repercussão entre políticos e entidades (leia reportagem na página 4).
Em coletiva de imprensa, Witzel protestou contra a ação. “Não foram encontrados valores, não foram encontradas joias. Se encontrou foi apenas a tristeza de um homem e de uma mulher pela violência com que esse ato de perseguição política está se iniciando no nosso país”, frisou. “O que aconteceu comigo vai acontecer com outros governadores que forem considerados inimigos. Narrativas fantasiosas, investigações precipitadas, um mínimo de cuidado na investigação do processo penal levaria aos esclarecimentos necessários.”

Mais cedo, o governador já tinha emitido uma nota negando ilegalidades. “Não há absolutamente nenhuma participação ou autoria minha em nenhum tipo de irregularidade nas questões que envolvem as denúncias apresentadas pelo Ministério Público Federal”, diz um trecho do comunicado. “Estranha-me e indigna-me sobremaneira o fato absolutamente claro de que deputados bolsonaristas tenham anunciado em redes sociais, nos últimos dias, uma operação da Polícia Federal direcionada a mim, o que demonstra limpidamente que houve vazamento, com a construção de uma narrativa que jamais se confirmará. A interferência anunciada pelo presidente da República está devidamente oficializada.”
Também por nota, Helena Witzel afirmou que “a diligência nada encontrou que pudesse comprovar alegações de seus requerentes”. Ela também disse que seu escritório prestou serviços para a empresa apontada pelo Ministério Público Federal, “tendo recebido honorários, emitido nota fiscal e declarado regularmente os valores na declaração de Imposto de Renda do escritório”. A advogada frisou respeitar as instituições, mas lamentou “que a operação tenha sido imbuída de indisfarçada motivação política, sendo sintomático, a esse respeito, que a ação foi antecipada na véspera por deputada federal aliada do presidente Jair Bolsonaro”.

O chefe do Executivo negou participação na deflagração das ações. “A operação de hoje (ontem) não tem nada a ver comigo. A PF foi cumprir uma decisão do STJ. Não fui eu que decidi. Nunca decidi operação nenhuma”, enfatizou. “A PF, no meu entender, tem trabalhado com muita liberdade. Da nossa parte, não existe interferência.”

Comemoração
De qualquer forma, há muito tempo não se via um clima de tanta euforia no Palácio do Planalto. Quem esteve com Bolsonaro, ontem, disse que ele está exultante diante da operação da PF. Para os mais próximos, afirmou que Witzel foi abatido com um tiro de canhão.

Pelos relatos que recebeu da operação, Bolsonaro não tem dúvidas de que, politicamente, Witzel está destruído. Alguns assessores mais afoitos do presidente dizem a ele que, dificilmente, o governador do Rio terminará o mandato. A PF não dará trégua a ele.

Na avaliação no Planalto, tudo joga contra Witzel: há indícios claros de que houve corrupção no governo dele, a operação da Polícia Federal ocorre num momento dramático para o país e as suspeitas são de desvios de verbas da saúde em meio a uma pandemia. “Isso bate fundo na opinião pública”, afirmou um integrante do Planalto.


Bolsonaro acredita que, à medida que as investigações forem avançando, e as provas contra Witzel aparecendo, a oposição contra o governador no estado poderá resultar em um processo de afastamento aberto pela Assembleia Legislativa. Aquela casa, ressalta outro assessor presidencial, é bolsonarista.

 

Mudanças na PF
Recentemente, Bolsonaro mudou a cúpula da Polícia Federal, gesto que motivou a saída do então ministro da Justiça, Sergio Moro, do governo. A ação de ontem foi deflagrada um dia após ser nomeado o novo superintendente da corporação no Rio, Tácio Muzzi. A representação da PF no estado está no centro de uma investigação autorizada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) que apura se o presidente busca interferir politicamente em investigações da corporação.

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