Correio Braziliense
postado em 27/05/2020 04:03
A deputada Carla Zambelli (PSL-SP) negou veementemente que tenha sabido antecipadamente da operação da Polícia Federal, ontem de manhã, que visitou endereços ligados a Wilson Witzel para fazer buscas e apreensões. A desconfiança é porque, no dia anterior, em uma entrevista à Rádio Gaúcha, ela deu a entender que uma ofensiva da PF contra governadores estaria na iminência de ser desfechada. O governador do Rio de Janeiro é inimigo declarado de Jair Bolsonaro e de seus filhos e, nas últimas semanas, a instituição foi centro da suspeita de que o presidente tivesse intenção de interferir na atuação dos federais em proveito próprio –– algo que vinha sendo contido pelo então ministro Sergio Moro, que saiu por não resistir à pressão.
Segundo a parlamentar, a deflagração da operação, menos de 24h depois de sua entrevista, foi “uma feliz coincidência”. “Eu não sou uma pessoa burra. Se eu tivesse informação privilegiada, eu falaria isso publicamente?”, questionou a deputada, em entrevista à CNN. Em tom de indagação, acrescentou: “Se há algum tipo de interferência (de Bolsonaro na operação de ontem), o presidente também está agindo em cima do STJ?”.
Carla também divulgou nota negando o vazamento de informações. Segundo ela, adversários de Bolsonaro tentam explorar politicamente sua entrevista. Afirmou ter passado à emissora apenas “informações já conhecidas e publicadas na mídia de que em vários estados estavam sendo realizadas investigações da Polícia Federal e das respectivas polícias civis sobre esquemas de corrupção com recursos públicos federais”.
Ela disse ainda que governadores superfaturaram compras de insumos durante a pandemia da covid-19 e, por isso, precisam começar a temer ações como a de ontem. “Governadores estão superfaturando tudo e eles têm de começar a entender que têm de ter medo, sim. Vai ter de parar de roubar, principalmente, em um momento como esse em que as pessoas estão morrendo de fome’, acusou.
Carla acrescentou que “dia 21 de maio saiu um avião da PF daqui (de Brasília) para o Rio de Janeiro. Houve uma operação anterior a essa. Então, era meio óbvio que fossem acontecer outras operações”.
Nas últimas semanas, a deputada se tornou um dos principais braços do Palácio do Planalto na articulação com o ministério e com o Congresso. No episódio da demissão de Moro, se apresentou como interlocutora autorizada por Bolsonaro e chegou até mesmo prometer intermediar a ida do então ministro para o Supremo Tribunal Federal (STF), provavelmente na vaga que se abre em novembro com a aposentadoria de Celso de Mello.
Outra participação direta de Carla foi na saída de Regina Duarte da Secretaria Nacional de Cultura, quando teria obtido para a atriz a presidência da Cinemateca Nacional para que ela “não ficasse desamparada”. Inclusive, no dia da demissão, a deputada ciceroneou Regina na conversa com Bolsonaro.
Representação
O ministro Celso de Mello enviou, também ontem, à Procuradoria-Geral da República (PGR) um pedido de investigação contra Carla por suposta prática de crimes de advocacia administrativa e tráfico de influência. A notícia-crime foi elaborada por 35 parlamentares, dentre eles a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) e a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS), com base nas trocas de mensagens entre a bolsonarista e Sergio Moro.
No encaminhamento, feito dia 20, Celso de Mello pontua que “o Ministério Público e a Polícia Judiciária, sendo destinatários de comunicações ou de revelações de práticas criminosas, não podem eximir-se de apurar a efetiva ocorrência dos ilícitos penais noticiados”. O ministro salientou, ainda, que é dever jurídico do Estado “promover a apuração da autoria e da materialidade dos fatos delituosos narrados por ‘qualquer pessoa do povo’”.
Caberá ao procurador-geral da República, Augusto Aras, analisar a notícia-crime e se manifestar sobre o pedido de abertura de investigação. A decisão sobre permitir o início de um inquérito contra a deputada será do decano.
Parlamentar teria se traído na rádio
Ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha, Carla Zambelli afirmou: “A gente já teve algumas operações da Polícia Federal que estavam ali, na agulha, para sair, mas não saíam. E a gente deve ter, nos próximos meses, o que a gente vai chamar, talvez, de ‘Covidão’ ou de… não sei qual vai ser o nome que eles vão dar… mas já tem alguns governadores sendo investigados pela Polícia Federal”.
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