O ministro Benedito Gonçalves, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), pediu ontem ao Ministério Público Federal (MPF) que apure o suposto vazamento de informações relacionadas à Operação Placebo, da Polícia Federal, no Rio de Janeiro. A ação, deflagrada na última terça-feira, teve entre os alvos o governador Wilson Witzel (PSC).
Segundo Gonçalves, caso seja confirmado que detalhes tenham sido passados antecipadamente, o responsável será acionado criminalmente. A suspeita é por causa da entrevista da deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), concedida um dia antes para a Rádio Gaúcha, quando adiantou que haveria uma série de operações da PF sobre fraudes relativas a recursos destinados a combater o novo coronavírus.
Segundo a parlamentar, “a gente já teve algumas operações da Polícia Federal que estavam ali na agulha para sair, mas não saíam”. E complementou na entrevista: “E a gente deve ter nos próximos meses o que a gente vai chamar, talvez, de ‘Covidão’, não sei qual vai ser o nome que eles vão dar, mas já tem alguns governadores sendo investigados pela Polícia Federal”. Depois de a operação ter sido iniciada, ela negou que soubesse de algo, apesar de ter comemorado publicamente.
Ação na PGR
Já a Procuradoria-Geral da República (PGR) recebeu, também ontem, um pedido do PSol para investigar a deputada e outros membros do governo federal pelo suposto vazamento ilegal de informações de operações sigilosas da PF. O pedido de investigação foi protocolado pelo deputado Ivan Valente (PSol-SP) e direcionado ao gabinete do procurador-geral Augusto Aras, que agora vai avaliar se a representação terá prosseguimento.
Segundo o documento protocolado, a declaração de Carla foi dada num contexto de “conflito aberto” entre o presidente da República e governadores, especialmente os do Rio de Janeiro e de São Paulo. “Restou evidente que a parlamentar está tendo acesso indevido a informações sigilosas sobre operações da Polícia Federal e as está utilizando para a disputa política travada pelo Presidente da República contra seus adversários”, diz trecho do documento entregue à PGR.
Na representação, o PSol pede ainda que Procuradoria investigue a violação do sigilo de processos judiciais por parte de outros membros do governo próximos de Bolsonaro. Na avaliação do partido, esses vazamentos serviriam para atender aos interesses políticos do presidente.
Witzel volta a acusar Aras
O governador Wilson Witzel voltou a dizer ontem que a investigação do Ministério Público Federal (MPF), que resultou na Operação Placebo, saiu do gabinete do procurador-geral da República, Augusto Aras, com a anuência do presidente Jair Bolsonaro. “Chegou ao meu conhecimento que essa investigação partiu de dentro do gabinete do procurador-geral da República, com aquiescência do presidente da República”, disse em entrevista ao Bom Dia, Rio, da Rede Globo. Ele disse ainda que entregou “celulares, computadores, abro mão do meu sigilo, não vão encontrar absolutamente nada. O que eu quero é apenas que o poder judiciário esteja atento às manipulações que estão sendo feita por parte do Ministério Público”. A investigação apura indícios de desvios de recursos destinados ao combate ao novo coronavírus no Rio. A ação da PF foi autorizada pelo STJ.
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.