Correio Braziliense
postado em 29/05/2020 04:03
Diante do acirramento da crise entre o presidente Jair Bolsonaro e o Supremo Tribunal Federal, coube ao chefe do Legislativo, o senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), o papel de bombeiro para tentar apaziguar os ânimos. O parlamentar foi ao Palácio do Planalto dizer ao mandatário do Executivo ser preciso “pacificar o país” e que os confrontos diários não levam a lugar algum. Como resposta, ouviu mais reclamações sobre a atuação de ministros da Corte.
O encontro, fora da agenda, ocorreu horas após Bolsonaro ameaçar descumprir decisões do STF. Segundo interlocutores do Palácio do Planalto, a reunião teve momentos tensos e, inicialmente, contou com a participação dos ministros André Mendonça (Justiça) e José Levi (Advocacia-Geral da União).
Antes de se reunir com Bolsonaro, Alcolumbre conversou com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e ministros do Supremo. O recado que levou ao presidente foi de que algumas atitudes do chefe do Executivo têm causado desconforto, como a participação frequente nos fins de semana em atos que pedem o fechamento do Congresso e do STF.
O presidente do Senado também relatou a Bolsonaro que, mais uma vez, houve incômodo com a conduta do ministro da Educação, Abraham Weintraub, que, na quarta-feira, comparou uma operação contra apoiadores do presidente ao nazismo. A comunidade judaica reagiu ontem. Alcolumbre é judeu.
Pontes
O encontro com o Alcolumbre fez parte de um esforço, que envolveu também ministros do próprio governo, para reconstruir pontes com o Supremo. A avaliação é de que os ataques que o presidente faz aos ministros Alexandre de Moraes e Celso de Mello atinge todos os demais integrantes da Corte, sugerindo que poderia partir do colegiado uma resposta coletiva.
“O Congresso atua em prol do Brasil, como intermediário na construção da paz, e em favor dos brasileiros, nesta quadra difícil da história nacional”, publicou Alcolumbre, no Twitter, no início da noite de ontem.
Tuíte de Weintraub causa repúdio
A comparação que o ministro da Educação, Abrahan Weintraub, fez da ação da Polícia Federal pelo inquérito das fake news, quarta-feira, com a Noite dos Cristais –– que marcou oficialmente a perseguição e expurgo aos judeus na Alemanha hitlerista –– provou protestos generalizados da comunidade judaica. A embaixada de Israel publicou nota pedindo que não se use o holocausto em discursos ideológicos. Já o cônsul geral de Israel em São Paulo, Alon Lavi, repudiou o tuíte de Weintraub. “Esse episódio (Noite dos Cristais) jamais poderá ser comparado com qualquer realidade política”. O Comitê Judaico Americano pediu o fim do uso político do holocausto por autoridades do governo. “Chega! O reiterado uso político por oficiais do governo brasileiro é profundamente ofensivo”. Weintraub rebateu-os afirmando ter direito de falar do holocausto porque tem avós sobreviventes dos campos de concentração.
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