As duas maiores cidades do país tiveram o domingo marcado pelo confronto. Os protestos em São Paulo e no Rio de Janeiro terminaram em embates entre grupos contrários e favoráveis ao presidente Jair Bolsonaro. Diferentemente de outros domingos, quando apenas apoiadores do presidente foram às ruas, desta vez houve manifestação de pessoas que protestavam contra o chefe do Executivo.
Em São Paulo, os protestos ocorreram na Avenida Paulista, no Museu de Arte de São Paulo (Masp). O grupo contrário a Bolsonaro era composto por torcidas organizadas de times como o Palmeiras, Corinthians, São Paulo e Santos. “Se não há justiça para o povo, que não haja paz para o governo. Uma nação de ovelhas gera um governo de lobos. Nós somos a insurgência das ruas”, dizia uma das faixas. Em outra, se lia: “Somos pela democracia”.
Na mesma avenida, um grupo pró-Bolsonaro também se iniciou manifestação. Este tinha como demanda o fim das medidas de isolamento social para conter o avanço do coronavírus no país e bandeiras contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso Nacional.
A confusão, que durou ao menos uma hora, tomou conta da avenida e deixou um rastro de destruição: vidros quebrados, caçambas de lixo e entulho revirados e fogo ateado em objetos no meio da via. Um grupo passou a jogar pedras e outros objetos contra os policiais. Outros fizeram barricadas com uma caçamba de lixo. O disparo de bombas durou ao menos 40 minutos. Seis pessoas foram detidas, segundo a PM.
Nas redes sociais, houve críticas em relação à postura da Polícia Militar, que teria agido de forma mais enérgica em relação ao grupo contrário ao presidente Jair Bolsonaro. Um caso citado foi de uma mulher que segurava um taco de beisebol e foi levada por um policial que separava os grupos pró e contra Bolsonaro. Além de apontarem que havia naquele gesto uma diferença de tratamento, também questionaram o fato de que ela portava um taco de beisebol, que não lhe foi retirado.
“Integridade física”
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), defendeu a ação da PM. “A Policia Militar de São Paulo agiu hoje (ontem) para manter a integridade física dos manifestantes, na Avenida Paulista. Dos dois lados. A presença da PM evitou o confronto e as prováveis vítimas deste embate”, escreveu em uma rede social. O secretário-executivo da Polícia Militar de São Paulo, coronel Álvaro Batista Camilo, disse, ontem, em entrevista à CNN Brasil que “a polícia vai garantir a liberdade de expressão de todos”. “Onde houver quebra da ordem, haverá intervenção policial”, disse. O coronel afirmou que atear fogo em lixo não é a melhor forma de manifestação — algo que foi feito por grupos contrários ao presidente Bolsonaro. O coronel Camilo pontuou, ainda, que a polícia não está a favor de nenhum dos grupos. “A polícia está do lado do cidadão de bem, garantindo a liberdade de todos”.
No Rio de Janeiro, também houve confronto em um protesto que reuniu política e futebol. Um grupo de torcedores do Flamengo, chamado Democracia Rubro-Negra, realizou ato contra Bolsonaro na praia de Copacabana. Outro grupo, favorável ao presidente, também se reuniu na orla. Houve um embate entre apoiadores do presidente e integrantes da torcida organizada do Flamengo, com ofensas. O grupo de torcedores rubro-negros foi dispersado pela Polícia Militar com spray de pimenta e bombas de gás lacrimogêneo. Depois, houve confronto, com agressões físicas, entre manifestantes contra o racismo nos Estados Unidos e um grupo pró-Bolsonaro.
Presente no confronto em Copacabana, o deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ) divulgou um vídeo nas redes sociais no qual atacou e ameaçou manifestantes antifascistas. Silveira, que, durante a campanha eleitoral de 2018, foi fotografado quebrando uma placa em homenagem à vereadora carioca Marielle Franco (PSOL), assassinada em março daquele ano, chamou os manifestantes de “comunistas covardes” e advertiu que eles podem ser atingidos a bala por um policial, “em legítima defesa”.
Daniel Silveira (PSL-RJ) é citado no inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF) que investiga um esquema de produção de fake news e ataques à Corte de Justiça. Por determinação do ministro Alexandre de Moraes, o parlamentar terá de prestar depoimento à Polícia Federal.
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