Correio Braziliense
postado em 01/06/2020 19:10
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), classificou como “inaceitáveis” as manifestações contra o Supremo Tribunal Federal (STF) ocorridas no fim de semana. Para ele, a participação do presidente Jair Bolsonaro nos atos é “muito ruim” e a consequência pode ser um aprofundamento de uma das maiores crises da história do país. O deputado comentou o assunto em entrevista ao portal Uol, nesta segunda-feira (1/6).
Maia criticou a mobilização de domingo (31/5), pautada em demandas inconstitucionais, como pedido de fechamento do STF, do Congresso e até intervenção militar. Em alguns locais, os manifestantes fizeram referências neonazistas. “É inaceitável que se exista, que se faça uma mobilização e que tenha respaldo do governo. Um governo eleito de forma democrática precisa respeitar as instituições democráticas", afirmou, citando o agravante de os atos terem ocorrido no meio de uma pandemia.
O deputado criticou a ida de Bolsonaro à manifestação, sem máscara, e lembrou que não é a primeira vez que o chefe do Executivo participa desse tipo de movimento e estimula aglomerações, enquanto o número de mortes pela covid-19 no Brasil se aproxima de 30 mil. “Muito ruim, porque, na semana passada, ele foi às manifestações”, lembrou. “Sem dúvida nenhuma, nós devemos criticar e condenar uma atitude como essa”, disse Maia.
Ele também mencionou a volta a cavalo do presidente na manifestação. “O último que andou a cavalo na Esplanada foi o general Newton Cruz. Não são imagens positivas e de boas lembranças para o Brasil", comentou Maia. O militar agrediu ao vivo o jornalista Honório Dantas, em 1983, durante a ditadura militar, ao ser questionado sobre atitudes antidemocráticas. O vídeo do momento voltou à tona recentemente, diante de comportamentos parecidos por parte de Bolsonaro, que, mais de uma vez, mandou repórteres “calarem a boca”.
Para Maia, também não foi uma boa sinalização o fato de o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, ter acompanhado o ato de helicóptero, com o presidente. “Eu acho que o ministro da Defesa, com todo respeito e admiração, andar no helicóptero com o presidente da República, voar de helicóptero, para olhar uma manifestação contra o STF? Não é sinalização positiva e isso vai gerando consequências”, afirmou.
Mesmo com as ameaças, o deputado não acredita em uma ruptura institucional ou em um golpe militar. Ele confia que “a grande maioria da população discorda, diverge e não aceita que os valores democráticos sejam desrespeitados” e ressaltou que os ministros do governo não representam os militares da ativa. “A sociedade majoritariamente rechaça qualquer ameaça à nossa democracia. E não vejo nas Forças Armadas nenhum respaldo a esses movimentos políticos”, explicou.
Julgamento
Para Maia, ameaças aos ministros do STF devem ser investigadas por ultrapassarem o limite de críticas democráticas e da liberdade de expressão. “Acho que a Justiça tem que, respeitados os limites da lei, tomar decisões e decisões duras em relação às ameaças que se fazem aos ministros do STF”, afirmou.
"Ameaçar a vida do ministro, a vida de um parlamentar, ameaçar ir à porta da casa de um ministro para agredi-lo passa do limite da liberdade democrática e da liberdade de expressão", disse Maia. "O que não pode é milhares de robôs criando uma narrativa com pessoas estimulando ódio às instituições do Brasil”, defendeu o presidente dia Câmara.
Saiba Mais
"Grave. Grupo minoritário, racista, com esse simbologismo da Ku Klux Klan. Inaceitável que se faça um evento desse no sábado à noite em frente ao STF. O que eles querem? Intimidar o Supremo pelas decisões que o Supremo toma?", questionou. O objetivo das ameaças, na visão dele, é “impedir que o outro cumpra suas funções constitucionais”. “Não quer que o ministro continue investigando as questões das fake news”, apontou.
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