Ao comparar a situação atual do Brasil com aquela que culminou com a tomada do poder por Adolf Hitler, na Alemanha, nos anos 1930, o ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), entrou na mira do governo e de bolsonaristas. O comentário foi feito, particularmente, a alguns destinatários, no domingo passado, mesmo dia em que apoiadores do presidente promoveram um ato em Brasília no qual pediram medidas inconstitucionais, como intervenção militar e fechamento do Congresso e do STF.
Sem se referir ao decano do STF, o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, publicou, ontem, mensagem em rede social na qual afirma que comparar o Brasil à Alemanha nazista “é algo, no mínimo, inoportuno e infeliz”. “A Democracia Brasileira não merece isso. Por favor, respeite o Presidente Bolsonaro e tenha mais amor à nossa Pátria”, reagiu o general.
Para o deputado Bibo Nunes (PSL-RS), um dos principais defensores de Bolsonaro na Câmara, a manifestação do ministro é uma “demonstração de desequilíbrio emocional” e de “total parcialidade”.
Para ele, isso demonstra que o ministro precisa se declarar impedido e não conduzir nenhum processo que envolva membros do governo. Nunes acrescentou. “Nos chamar de nazistas é muito grave. Injúria e difamação.”
Já o deputado federal Major Vitor Hugo (PSL-GO), líder do governo na Câmara, não fez por menos e partiu para o confronto com o ministro. “Quando um juiz assume postura enviezada e incita amigos a resistir a uma determinada corrente, deixa de ser magistrado e adentra a arena das paixões políticas; abandona, também, a imperiosa imparcialidade e deve, por lealdade ao País, declarar-se suspeito. Decano, dê o exemplo”, escreveu numa rede social.
Em defesa do colega de Corte, o ministro Marco Aurélio Mello disse ao se aproximar de protestos contra o tribunal –– como o de domingo ––, Bolsonaro “indiretamente apoia o movimento”. “É ruim, porque quando ele (o presidente) chega próximo ou mesmo junto a um movimento desses, ele indiretamente apoia o movimento. Isso não é bom, considerado o entendimento que deve haver entre os poderes”, salientou.
Celso de Mello é o relator do inquérito em tramitação no STF que apura suposta interferência de Bolsonaro na Polícia Federal para evitar investigações contra seus parentes –– aberto a partir de denúncia do ex-ministro Sergio Moro. Na mensagem que remeteu a pessoas próximas, o decano disse que “é preciso resistir à destruição da ordem democrática, para evitar o que ocorreu na República de Weimar, quando Hitler, após eleito por voto popular (...) não hesitou em romper e em nulificar a progressista , democrática e inovadora Constituição de Weimar”. Disse ainda que “um sistema totalitário de poder viabilizado pela edição, em março de 1933, da lei (nazista) de concessão de plenos poderes (ou lei habilitante) que lhe permitiu legislar sem a intervenção do parlamento germânico”.
Segundo o ministro, a intervenção militar pretendida por apoiadores do presidente “nada mais significa, na novilíngua bolsonarista, senão a instauração, no Brasil, de uma desprezível e abjeta ditadura militar”. Para Celso de Mello, os bolsonaristas “desprezam a liberdade e odeiam a democracia”.
"Nada mais significa, na novilíngua bolsonarista, senão a instauração,
no Brasil, de uma desprezível e abjeta ditadura militar”
Celso de Mello, ministro do STF
"A Democracia Brasileira não merece isso. Por favor, respeite
o Presidente Bolsonaro e tenha mais amor à nossa Pátria”
Luiz Eduardo Ramos, ministro da Secretaria de Governo
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.