Politica

Artistas promovem ato em defesa da Cinemateca e criticam governo

Manifestantes alegam que a instituição deixou de receber recursos governamentais e está com os salários atrasados pelo menos desde abril

Um grupo de artistas fez uma manifestação de apoio à Cinemateca Brasileira nesta quinta-feira (4/6), em frente à sede da instituição em São Paulo. Em meio aos planos de o governo federal reincorporar o órgão à União (leia mais abaixo), os integrantes do movimento protestaram principalmente pela falta de apoio da gestão do presidente Jair Bolsonaro ao setor cultural.

Ao menos 25 entidades e associações brasileiras ligadas ao audiovisual participaram da manifestação. A Associação Paulista de Cineastas (Apaci), que liderou o ato, informou que "há alguns anos" a Cinemateca não recebe recursos governamentais necessários para o seu funcionamento pleno.

"Técnicos valiosos e especializados foram demitidos e as atividades foram reduzidas drasticamente. Entre outras coisas, isso se refletiu na subutilização dos equipamentos de ponta, fruto de vultosos investimentos, que correm o risco de sucateamento", frisou a associação.

Ainda de acordo com a Apaci, os funcionários da Cinemateca estão com os salários atrasados desde de abril deste ano. A falta de apoio financeira compromete ainda o pagamento de despesas mensais, como a conta de luz.

"Um eventual apagão elétrico será desastroso, pois atingirá a climatização das salas em que estão arquivados verdadeiros tesouros de seu acervo histórico. Sem a climatização e inspeção constante, os filmes em nitrato de celulose-material altamente inflamável - ficarão expostos ao tempo e podem entrar em autocombustão como já ocorreu em 2016 - a história do audiovisual nacional corre enorme risco", alertou a Apaci.

Imbróglio envolvendo a Cinemateca

Desde março de 2018, a Cinemateca não é controlada diretamente pelo governo federal. Atualmente, a instituição é administrada pela Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto (Acerp), uma organização social vinculada ao Ministério da Educação.

O contrato de gestão, vigente até 2021, transferiu para a Acerp o controle integral dos núcleos de Preservação, Documentação e Pesquisa, Difusão, Administração e Tecnologia da Informação da Cinemateca.

Em 2019, o Ministério da Educação rompeu com a Acerp e não renovou com a organização social, principalmente para dar fim à TV Escola, que era produzida pela associação. O contrato da Cinemateca, contudo, não foi afetado e permanece em vigor porque só vence no ano que vem.

De todo modo, a instituição já não recebe mais recursos do Executivo federal. Da previsão orçamentária de R$ 13 milhões para 2019, por exemplo, foi repassado apenas R$ 7 milhões à Acerp. Neste ano, nenhum foi disponibilizado à organização, que tem usado a própria economia para manter a Cinemateca.

Saiba Mais

No momento, o governo federal pensa em estatizar a Cinemateca, sobretudo para resolver a situação da atual secretária especial da Cultura, Regina Duarte. Em maio, Bolsonaro anunciou que ela seria exonerada da Secretaria para assumir algum posto na Cinemateca. Entretanto, a mudança ainda não foi efetivada por causa do contrato de gestão envolvendo a Acerp.

O que é a Cinemateca?


A Cinemateca é a mais antiga instituição de cinema do Brasil, responsável pela preservação do maior acervo audiovisual da América Latina. Exerce também atividades de restauro e preservação da produção cinematográfica nacional, cujo acervo conta com cerca de 245 mil rolos de filmes, entre longas, curtas e cinejornais.

Ainda compõe o patrimônio da entidade cerca de 1 milhão de documentos relacionados à área do audiovisual, como livros, roteiros, periódicos, recortes de imprensa, documentos pessoais doados, cartazes, fotografias e desenhos.

A Cinemateca possui registros raríssimos, como a coleção de imagens da extinta TV Tupi, primeira emissora brasileira, inaugurada em 1950, que a instituição herdou em 1985 – são 180 mil rolos de filmes em 16 milímetros com reportagens históricas dos telejornais da época.