Politica

Artistas promovem ato em defesa da Cinemateca e criticam governo

Manifestantes alegam que a instituição deixou de receber recursos governamentais e está com os salários atrasados pelo menos desde abril

Correio Braziliense
postado em 04/06/2020 16:37
No momento, o governo federal pensa em estatizar a Cinemateca, sobretudo para resolver a situação da atual secretária especial da Cultura, Regina DuarteUm grupo de artistas fez uma manifestação de apoio à Cinemateca Brasileira nesta quinta-feira (4/6), em frente à sede da instituição em São Paulo. Em meio aos planos de o governo federal reincorporar o órgão à União (leia mais abaixo), os integrantes do movimento protestaram principalmente pela falta de apoio da gestão do presidente Jair Bolsonaro ao setor cultural.

Ao menos 25 entidades e associações brasileiras ligadas ao audiovisual participaram da manifestação. A Associação Paulista de Cineastas (Apaci), que liderou o ato, informou que "há alguns anos" a Cinemateca não recebe recursos governamentais necessários para o seu funcionamento pleno.

"Técnicos valiosos e especializados foram demitidos e as atividades foram reduzidas drasticamente. Entre outras coisas, isso se refletiu na subutilização dos equipamentos de ponta, fruto de vultosos investimentos, que correm o risco de sucateamento", frisou a associação.

Ainda de acordo com a Apaci, os funcionários da Cinemateca estão com os salários atrasados desde de abril deste ano. A falta de apoio financeira compromete ainda o pagamento de despesas mensais, como a conta de luz.

"Um eventual apagão elétrico será desastroso, pois atingirá a climatização das salas em que estão arquivados verdadeiros tesouros de seu acervo histórico. Sem a climatização e inspeção constante, os filmes em nitrato de celulose-material altamente inflamável - ficarão expostos ao tempo e podem entrar em autocombustão como já ocorreu em 2016 - a história do audiovisual nacional corre enorme risco", alertou a Apaci.

Imbróglio envolvendo a Cinemateca

Desde março de 2018, a Cinemateca não é controlada diretamente pelo governo federal. Atualmente, a instituição é administrada pela Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto (Acerp), uma organização social vinculada ao Ministério da Educação.

O contrato de gestão, vigente até 2021, transferiu para a Acerp o controle integral dos núcleos de Preservação, Documentação e Pesquisa, Difusão, Administração e Tecnologia da Informação da Cinemateca.

Em 2019, o Ministério da Educação rompeu com a Acerp e não renovou com a organização social, principalmente para dar fim à TV Escola, que era produzida pela associação. O contrato da Cinemateca, contudo, não foi afetado e permanece em vigor porque só vence no ano que vem.

De todo modo, a instituição já não recebe mais recursos do Executivo federal. Da previsão orçamentária de R$ 13 milhões para 2019, por exemplo, foi repassado apenas R$ 7 milhões à Acerp. Neste ano, nenhum foi disponibilizado à organização, que tem usado a própria economia para manter a Cinemateca.

Saiba Mais

No momento, o governo federal pensa em estatizar a Cinemateca, sobretudo para resolver a situação da atual secretária especial da Cultura, Regina Duarte. Em maio, Bolsonaro anunciou que ela seria exonerada da Secretaria para assumir algum posto na Cinemateca. Entretanto, a mudança ainda não foi efetivada por causa do contrato de gestão envolvendo a Acerp.

O que é a Cinemateca?


A Cinemateca é a mais antiga instituição de cinema do Brasil, responsável pela preservação do maior acervo audiovisual da América Latina. Exerce também atividades de restauro e preservação da produção cinematográfica nacional, cujo acervo conta com cerca de 245 mil rolos de filmes, entre longas, curtas e cinejornais.

Ainda compõe o patrimônio da entidade cerca de 1 milhão de documentos relacionados à área do audiovisual, como livros, roteiros, periódicos, recortes de imprensa, documentos pessoais doados, cartazes, fotografias e desenhos.

A Cinemateca possui registros raríssimos, como a coleção de imagens da extinta TV Tupi, primeira emissora brasileira, inaugurada em 1950, que a instituição herdou em 1985 – são 180 mil rolos de filmes em 16 milímetros com reportagens históricas dos telejornais da época.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Tags