Politica

Grupos agredidos se cansaram do presidente

Correio Braziliense
postado em 07/06/2020 04:20
Na visão de especialistas, por mais que exista uma preocupação com a pandemia, há brasileiros que se cansaram das notas de repúdio e de panelaços ante as expressões agressivas e desqualificantes do presidente Jair Bolsonaro contra adversários, imprensa, mas, sobretudo, contra o fato de fingir que no Brasil a covid-19 grassa sem controle. Agregado a isso, estão extremamente incomodados com a permanente insurreição que o presidente propõe contra as instituições, ao atiçar seus apoiadores a favbor de medidas anti-democráticas.

“As pessoas chegaram a um ponto tão grande de indignação, que sabem que precisam fazer alguma coisa diante desse quadro. Elas entendem que é necessário um movimento reativo, como sair de casa para protestar, que serve para tirar esse privilégio de ocupar as ruas que foi do movimento bolsonarista nos últimos meses. Ou seja, ou elas dão uma resposta ou continuarão vendo o lado oposto ocupar todos os espaços públicos e emparedar o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF)”, analisa o cientista político e professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) Geraldo Tadeu.

Para tentar desqualificar as manifestações, Bolsonaro investiu durante a semana passada em caracterizar os atos contra o governo “baderna” e os participantes como “terroristas, maconheiros e marginais”. O recado do presidente mobilizou ainda mais o seu grupo, que pode promover movimentos nos mesmos horários e locais dos protestos anti-fascistas ou até invadir as manifestações contrárias.

“Os manifestantes não estão lidando com um adversário político. Estão lidando com pessoas que têm defeito de caráter, que são violentas. Essa é a visão que propaga Bolsonaro. Ele não é democrata, jamais será. A declaração só incita ao ódio. Uma coisa é dizer que existem pessoas que não pensam como a gente, mas que têm esse direito. Outra é dizer que, do outro lado, só tem terrorista. Fica a impressão de que o governo Bolsonaro não foi feito para governar, mas para fazer militância”, acrescenta Tadeu.

Segurança
Bolsonaro se diz preocupado com eventuais ataques ao patrimônio público, devido ao que aconteceu nas manifestações da semana passada em capitais como São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba. Com base nisso, e temendo o número de manifestantes que devem sair às ruas, o chefe do Executivo conclamou às Polícias Militares a agirem com rigor e até levantou a possibilidade do uso da Força Nacional nos protestos, especialmente em Brasília. No entanto, a possibilidade foi vetada, ao menos por enquanto, por parte do Governo do Distrito Federal, que garantiu que as forças policiais locais são suficientes para garantir a integridade de todos.

O gesto do presidente deixa dúvidas da sua real preocupação, visto que não houve nenhuma atitude parecida por parte dele quando a Esplanada dos Ministérios foi palco para atos pró-governo nos fins de semana anteriores. “O presidente se opõe ao outro lado e criminaliza quem é contra o governo. Há um posicionamento muito enviesado. Quando dizem que vão matar alguém do Congresso ou do Supremo, isso também é violência, mas nada foi dito. Nos parece bastante desigual o comportamento do Bolsonaro, e a gente começa a duvidar do republicanismo dele. São dois pesos e duas medidas”, diz a diretora executiva do Instituto Sou da Paz, Carolina Ricardo.

“É normal que exista um risco de conflito maior quando há dois posicionamentos distintos na rua. Mas o problema é o que está por trás do que o Bolsonaro pensa. Ele não quer que as manifestações transcorram de forma pacífica, mas, sim, quer controlar um lado mais do que o outro”, acrescenta.

Para o especialista em Conflitos, Violência, Gênero e Etnia do curso de Serviço Social do Centro Universitário Iesb, Gilvan Gomes, o clima para um eventual embate foi criado pelo próprio Bolsonaro, que acabou por insuflar a sua base de apoio. “É preocupante, pois temos grupos que se dizem armados em uma esfera, e, de outra, os anti-fascistas. Fato é que os grupos estão cansados de notas de repúdio e estão tomando as ruas por conta própria. Parte da sociedade entendeu que isso não está surtindo efeito”, frisa. (AF, IS e ST)




"Elas entendem que é necessário um movimento reativo, como sair para protestar, que serve até para tirar esse privilégio de ocupar as ruas que foi do movimento bolsonarista nos últimos meses. Ou seja, ou elas dão uma resposta ou vão continuar vendo o lado oposto ocupar todos os espaços públicos e emparedar o Congresso e o STF”
Geraldo Tadeu, cientista político e professor da UFRJ




"Por mais que seja algo liderado por torcidas organizadas e ainda não muito massificado, vamos perceber que há uma mobilização muito importante de contraposição ao presidente, que vai dar equilíbrio a essa percepção de popularidade do Bolsonaro”
Michael Mohallem, professor de Direito da FGV-RJ





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