Correio Braziliense
postado em 14/06/2020 14:39
O presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Walmor Oliveira de Azevedo, defendeu o alinhamento das TVs e rádios de inspiração católica à doutrina da Igreja. Arcebispo de Belo Horizonte (MG), d. Walmor sustenta, em artigo, que os veículos não se equiparam a um "negócio particular" e, caso atuem de forma isolada, correm o risco de fazer "escolhas equivocadas" e "propor o que não condiz com as lições de Jesus Cristo".O arcebispo diz que o serviço de comunicação católico enfrenta desafios de um contexto sociopolítico "contaminado pelas disputas de poder, busca pela efetivação de domínios e acúmulo de dinheiro". Ele condena "superficialidades e invencionices" e pede tratamento adequado a personalismos alimentados por "desvios religiosos nefastos".
Em frente ao Quartel General, militares do exército brasileiro pedem para desligar uma caixa de som tocando o HINO NACIONAL.
; Israel Soares %uD83C%uDDFB%uD83C%uDDE6 (@_israelsoares)
Saiba Mais
"A Igreja Católica, com seus meios de comunicação - televisivos, radiofônicos, impressos, digitais, em redes - interage com os muitos fluxos relacionais da sociedade. Enfrenta batalhas, interesses e até mesmo embates desiguais. A Igreja enfrenta essa luta valendo-se de plataformas e mecanismos que ecoam a fé cristã. Um caminho desafiador que não pode ser trilhado isoladamente, compreendendo a comunicação católica como negócio particular, sob pena de se perder rumos, fazer escolhas equivocadas e, até por desespero, propor o que não condiz com as lições de Jesus Cristo."
O artigo do arcebispo é uma reação à oferta de apoio ao governo Jair Bolsonaro, vinda de dirigentes rádios e TVs de inspiração católica, com pedido ao presidente pela ampliação do alcance de suas redes de radiodifusão e por verbas, na forma de publicidade estatal. Revelado em reportagem do Estadão, o flerte de padres e leigos com o presidente, durante uma videoconferência, causou repercussão na Igreja e explicitou divergências no episcopado. A reunião ocorreu por iniciativa do governo, que busca reforçar laços para conter o desgaste da imagem do presidente - a CNBB não foi convidada pelo Palácio do Planalto e considerou que houve "barganha".
Para d. Walmor, a Igreja deve incentivar o uso dos meios de comunicação, mas iniciativas de diferentes setores católicos não significam "investir em um empreendimento privado, menos ainda em constituir um negócio rentável". O arcebispo diz que os veículos católicos devem se reger "no horizonte evangelizador que norteia o caminho missionário da Igreja, o que inclui balizar conteúdos e práticas comunicacionais a partir de princípios inegociáveis".
Dom Walmor age para tentar apaziguar animosidades entre alas do clero, já que, entre os bispos, houve manifestação de apoio e também cobrança de punição aos envolvidos na reunião com Bolsonaro. O arcebispo fez menção à necessidade de manter a comunhão entres sacerdotes, leigos e organizações ligadas à Igreja, como forma de "corrigir descompassos. Ele já havia realizado uma reunião com a Pastoral da Comunicação e os bispos superiores dos padres que indicaram apoio e fizeram demandas a Bolsonaro, para tentar contornar um risco de ruptura.
"A Igreja Católica tem parâmetros e mesas de diálogo para fomentar a indispensável comunhão. A comunhão, que faz parte da vida da Igreja, é força com propriedade de amalgamar as diferenças, tornando-as uma grande riqueza, com elementos que corrigem descompassos e iluminam caminhos. A realidade atual, seus embates e até mesmo equívocos apontam lições nesse contexto que precisam ser aprendidas, para novas configurações estratégicas", defendeu.
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.