Correio Braziliense
postado em 16/06/2020 04:03
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a prisão temporária de seis apoiadores do presidente Jair Bolsonaro no inquérito que apura atos antidemocráticos. Todos são integrantes do grupo “300 do Brasil”. Ontem, apenas um tinha sido cumprido: contra Sara Fernanda Giromini, mais conhecida como Sara Winter. A militante radical foi detida e prestou depoimento à Polícia Federal. Ela permanecerá presa por cinco dias, prazo que pode ser prorrogado por mais cinco. A extremista deve ser ouvida novamente hoje.
A corporação também investiga deputados federais que mantêm relação com o grupo, acusado de promover manifestações em que pedem o fechamento do Congresso e do STF.
O pedido de prisão de Sara e das outras cinco pessoas — que não tiveram o nome divulgado — foi expedido pelo STF a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR). A solicitação foi feito na sexta-feira, antes dos atos envolvendo lançamento de fogos de artifício contra o Supremo e da tentativa de invasão de áreas restritas do Congresso, ocorridos no sábado. Já foram protocolados três habeas corpus em favor de Sara. A defesa avalia que a prisão é “política”.
Em depoimento, Sara negou envolvimento dela e do grupo no protesto de sábado contra o STF. O também apoiador do governo Renan da Silva Sena foi preso no domingo, suspeito de participar da ação. Segundo a extremista, Renan é líder de outro acampamento, o “Patriotas”, que não tem relação com o grupo dela. Até sábado, quando foram desmantelados, havia três acampamentos pró-Bolsonaro na região da Esplanada dos Ministérios: 300 do Brasil, QG Rural e Patriotas. A militante radical disse, em depoimento, que cada grupo tem as suas pautas.
Sara também é investigada no inquérito que apura fake news contra o STF. Quando questionada sobre o assunto, permaneceu em silêncio. Ela também não respondeu se é líder do 300 do Brasil nem se manifestou sobre o vídeo em que faz ameaças contra Alexandre de Moraes.
De acordo com Sara, o grupo não tem conexão com nenhum dos três poderes e não recebe “nenhum tipo de apoio financeiro ou de outra espécie do governo”, mas “que não pode afirmar pelos outros grupos”. Segundo ela, o movimento não tem assessores parlamentares nem cabos eleitorais.
Ainda conforme Sara, o 300 é distinto do Patriotas. De acordo com ela, o segundo é mais ligado à pauta de intervenção militar, enquanto o que ela integra “é mais voltado à desobediência civil e a ações não violentas”.
Ofensas
Tanto o acampamento do 300 do Brasil quanto os do Patriotas e QG Rural foram removidos pelo governo do Distrito Federal no sábado. Após serem retirados, Sara e cerca de 20 pessoas do seu grupo tentaram invadir as áreas restritas do Congresso, subindo na parte externa do prédio onde ficam as cúpulas. Elas foram retiradas do local pela polícia legislativa.
No fim de maio, três dias depois de ser alvo de mandado de busca e apreensão no âmbito do inquérito das fake news, Sara organizou um protesto em frente ao STF. Os integrantes usavam máscara e portavam tochas, numa imagem semelhante à do Ku Klux Klan (KKK), grupo racista dos Estados Unidos que fala em supremacia branca e já cometeu diversos atos violentos contra negros.
Na ocasião, o grupo gritou “careca togado, Alexandre descarado”, “ministro, covarde, queremos liberdade”, “viemos cobrar, o STF não vai nos calar” e “inconstitucional, Alexandre imoral”, sempre com gritos de guerra guiados por Sara.
Ontem, no depoimento à PF, ela classificou o ato como “político e religioso”, que se “baseou numa passagem bíblica, especificamente no livro Juízes, capítulo sete, versículo 16”, disse. O trecho diz o seguinte: “Dividiu os 300 homens em três companhias e pôs nas mãos de todos eles trombetas e jarros vazios, com tochas dentro”.
Investigação
Os mandados de prisão foram pedidos pelo vice-procurador-geral da República Humberto Jacques de Medeiros. Segundo apurado pelo jornal O Estado de S. Paulo, os seis são investigados pelo crime de associação criminosa. Em nota, a PGR informou que há indícios “de que o grupo continua organizando e captando recursos financeiros para ações que se enquadram na Lei de Segurança Nacional”. O objetivo das prisões é “ouvir os investigados e reunir informações de como funciona o esquema criminoso” de organização dos atos.
Marco Aurélio: sem virada de mesa
O ministro Marco Aurélio, do Supremo Tribunal Federal (STF), disse, ontem, que “não há campo para virar-se a mesa”, ao criticar os recentes ataques contra a Corte e os movimentos que pregam um golpe militar. Em entrevista ao Correio, o magistrado afirmou que vê com preocupação a crise institucional que assola o país, em meio à pandemia do novo coronavírus. Ele é mais um ministro do STF a criticar o disparo de fogos de artifício contra o prédio da Corte, na noite do último sábado, por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro. “Vamos observar a ordem jurídica e acreditar também nas instituições, o funcionamento regular das instituições. Não há campo para virar-se a mesa”, enfatizou. “Como se não bastasse a crise de saúde, a crise econômica, nós temos uma crise institucional. Não é bom esse somatório de crises.” O ministro ressaltou que as pessoas são livres para criticar as instituições, desde que sem violência.
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