Politica

Operação da PF contra bolsonaristas diminui pressão pela saída de Weintraub

Depois das ações contra a linha de frente do bolsonarismo, autorizadas por Alexandre de Moraes, diminuiu a pressão para que ministro seja removido da Educação. Presidente foi instado a não dar sinais de fraqueza diante dos ministros do STF

Correio Braziliense
postado em 17/06/2020 06:00
Defensor feroz do presidente, ministro ganhou sobrevida depois dos dois duros golpes, em apenas 24h, sofridos pelos bolsonaristas com as ações da PFAs operações da Polícia Federal contra apoiadores de Jair Bolsonaro e parlamentares pró-governo, na segunda-feira e terça-feira (16/6), autorizadas pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), tiveram o condão de frear a demissão de Abraham Weintraub. Por mais que considere exonerar o atual ministro da Educação para tentar aparar as arestas entre Executivo e Judiciário, o presidente foi aconselhado pela ala ideológica do governo a adiar a decisão.
 
Na visão dos bolsonaristas, se o presidente fizer o contrário, cederia à pressão da Suprema Corte com muita facilidade. O Gabinete do Ódio, centro de mobilização digital criado para defender Bolsonaro e atacar desafetos nas redes sociais, entende que Weintraub é um dos defensores mais empedernidos do presidente. Por isso, segundo integrantes do grupo –– em especial o vereador carioca Carlos Bolsonaro (Republicanos) e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) ––, o chefe do Executivo não poderia “entregar a cabeça do ministro para os inimigos”, ainda mais depois de uma nova investida do STF contra o Palácio do Planalto.
 
O próprio Bolsonaro, asseguram assessores, ficou extremamente irritado com as ações da Polícia Federal. Ontem, preferiu abster-se de comentários sobre o episódio. Ao voltar ao Palácio da Alvorada, à noite, o presidente utilizou uma entrada auxiliar e sequer saiu para falar com os aproximadamente 35 apoiadores que o aguardavam, conforme costuma fazer diariamente. Ele também evitou a imprensa, diferentemente do que fez na primeira vez em que o Supremo autorizou operações contra seus apoiadores, há menos de 20 dias. À época, exaltou-se e ainda xingou, em meio a uma entrevista, dizendo que aquela seria a última vez que a Corte faria algo do tipo.
 
De todo modo, há uma pressão por parte dos militares  para que Bolsonaro escolha um novo ministro da Educação. Com o STF investigando Weintraub no âmbito do inquérito que apura a produção de fake news, e ofensas contra os magistrados da Corte, há o temor de uma eventual prisão do ministro, o que mancharia a imagem do Executivo.
 
Além disso, a ala militar não compactua com o discurso fervoroso de Weintraub, especialmente porque, no último domingo, ele repetiu o xingamento que fizera aos ministros do Supremo, na reunião ministerial de 22 de abril, quando os chamou de “vagabundos”. “Eu acho que o Weintraub, no momento em que ele anda debaixo de fogo, deveria estar abrigado. Ele rompeu um princípio básico da segurança”, comentou o vice-presidente Hamilton Mourão, em entrevista à Folha de S. Paulo.

Futuro

Diante desse cenário, Bolsonaro busca uma saída honrosa para Weintraub. O presidente, inclusive, foi alertado por assessores próximos de que o ministro sabe demais para ser sacado sem nenhuma compensação. Na mesa, está a possibilidade de o presidente indicá-lo para um cargo diplomático, desde que o posto não exija que o nome de Weintraub seja sabatinado pelo Senado.
 
A Bolsonaro, o ministro diz que abraçará a missão que lhe for dada. Mas não esconde que gostaria de continuar à frente da Educação, pois ainda não conseguiu cumprir o seu objetivo de “limpar as universidades da mentalidade esquerdista”.
Segundo Paulo Calmon, professor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), não restam dúvidas de que o presidente e sua família têm apreço por Weintraub. No entanto, ressalta que o ministro “está muito desgastado perante o meio político e a sociedade”. “Será muito difícil para ele recuperar o prestígio e a credibilidade necessários para seguir em frente liderando as políticas e programas do MEC”, disse.
 
Para Calmon, Weintraub será substituído, mas vai continuar no governo. “A percepção é que ele ainda pode ser útil, principalmente em posições mais políticas que envolvam a mobilização dos apoiadores do presidente”, analisou
Já Wilson Gomes, professor de comunicação política da Universidade Federal da Bahia (UFBA), ressaltou que “se a saída ocorrer, não será por discordância de ideologia”. “Eles têm alinhamento ideológico absoluto. Se ocorrer (a demissão), será um ato simbólico de paz. Mas se Weintraub cair, ele cai para cima. Bolsonaro só entregará o ministro se realmente não tiver jeito, porque ele é a essência do que pensa o governo”, explicou.

Suspeitas sobre Ramos crescem
Dentro do Palácio do Planalto, cresce a suspeita de que foi o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, o responsável por difundir a possível demissão de Abraham Weintraub do Ministério da Educação. Ao portal UOL, ele negou os rumores. “Não há hipótese de eu ter vazado qualquer coisa. Não tenho a menor ideia de que atitude o presidente vai tomar em relação a este assunto”, garantiu.


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