Correio Braziliense
postado em 17/06/2020 04:03
A Polícia Federal, com apoio do Ministério Público Federal (MPF), cumpriu, ontem, mandados de busca e apreensão contra 21 pessoas em cinco estados e no Distrito Federal, no âmbito do inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF) que investiga atos antidemocráticos. As ações ocorreram em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Maranhão e Santa Catarina.
Os mandados foram expedidos pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito, a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR). A investigação apura a origem de recursos e a estrutura de financiamento de grupos que são suspeitos de organizarem atos nos últimos meses pedindo o fechamento do STF e do Congresso. A operação é mais uma fase das investigações que buscam provas sobre o financiamento e organização dos atos realizados nos últimos meses.
Segundo MPF, há indícios de que os 21 alvos da operação têm envolvimento com a realização de manifestações antidemocráticas. Conforme o órgão, uma linha de apuração é de que os investigados teriam agido de forma articulada com agentes públicos que possuem foro privilegiado no STF “para financiar e promover atos que se enquadram em práticas tipificadas como crime pela Lei de Segurança Nacional (7.170/1983)”.
Os alvos são apoiadores do presidente Jair Bolsonaro. Entre eles, está o deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ), o único com foro, que também teve o sigilo bancário levantado, ontem, por Moraes. Também estiveram na mira da ação o blogueiro Allan dos Santos.
Pessoas ligadas ao Aliança pelo Brasil, partido que Bolsonaro quer criar, também foram alcançadas pelos mandados. Um deles é o advogado e empresário Luis Felipe Belmonte, vice-presidente da eventual legenda e suplente do senador Izalci Lucas (PSDB-DF). Belmonte é marido da deputada federal Paula Belmonte (Cidadania-DF). Nas eleições de 2018, quando se elegeu suplente, ele declarou R$ 65,7 milhões em bens.
Em nota, Belmonte disse ter recebido “com perplexidade a ‘visita’ de agentes da Polícia Federal”. “Sempre me pautei pelo respeito às instituições e pela estabilidade democrática. Jamais estimulei, financiei ou participei de atos com o objetivo de derrubar, ou mesmo afrontar, o Supremo Tribunal Federal, o Congresso Nacional, ou qualquer outra instituição da República”, enfatizou.
O publicitário Sérgio Lima, marqueteiro do Aliança, também foi alvo. Em nota, Lima disse que seu relacionamento “com os políticos e com os grupos de direita é totalmente contrário a agressões e desrespeito a qualquer instituição do país”. “O trabalho que faço com o Aliança é justamente para resgatarmos os valores de democracia, respeito e união”, frisou.
Também entrou na mira da PF o empresário Otávio Fakhoury, um dos fundadores do Aliança. Fakhoury já tinha sido alvo de busca e apreensão no inquérito das fake news. Em seu Twitter, ontem, escreveu: “(...) já colaborei para realização de manifestações pacíficas e ordeiras, em favor das pautas do governo, sempre patrióticas”.
Outros alvos foram Fernando Lisboa, blogueiro e youtuber; o dono do canal Ravox Brasil, o professor Emerson Teixeira, youtuber de um canal chamado “Professor opressor”; a youtuber Camila Abdo e o youtuber Alberto Silva.
Em nota, Lisboa disse que respeita a decisão do STF, apesar de achar ilegal, e que não tem nada a temer. Ravox publicou no Twitter sobre a ida da PF à casa dele: “Estamos sendo censurados por uma instituição que deveria fazer justiça ao encontro de cidadãos de bem”, afirmou. Camila Abdo reafirmou seu apoio a Bolsonaro e disse: “Estamos sendo caçados”. Ela foi prestar depoimento à PF ainda ontem.
Em vídeo, Emerson Teixeira chamou a ação de “inacreditável”. “Um trabalhador de bem que vai para a rua pedir um país melhor, democracia de verdade, e é isso que a gente recebe”, protestou. No Twitter, Alberto Silva escreveu que estava tranquilo. “Eu posso receber a polícia na minha casa, se fossem outros, estariam escondidos debaixo da cama até agora.” (ST, JV e LC)
Alvos da operação
Veja alguns dos implicados no cumprimento de mandados
Allan dos Santos
Empresário e um dos sócios do site conservador Terça Livre, já mencionado nas postagens do presidente Bolsonaro nas redes sociais, Allan Lopes dos Santos é um dos principais blogueiros alinhados com o bolsonarismo. Ele também é investigado no inquérito das fake news.
Luis Felipe Belmonte
Milionário, ele já foi filiado ao PSDB, fez doações para legendas de esquerda, como PCdoB, e atuou como advogado do empresário Luiz Estevão, condenado a 26 anos de prisão por fraudes na construção do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de São Paulo. Conforme o Estadão, Belmonte já auxiliou na organização de atos antidemocráticos em Brasília, como o que ocorreu em 3 de maio.
Sérgio Lima
Marqueteiro do Aliança pelo Brasil, Sérgio Lima vinha sendo incentivado por bolsonaristas a disputar a Prefeitura de SP. Segundo O Globo, ele foi o responsável pela identidade visual do partido e também pela criação do site da legenda.
Otavio Fakhoury
Investidor, administrador de um fundo imobiliário e um dos coordenadores do grupo Avança Brasil. É suspeito de integrar grupo que financia publicações e vídeos com conteúdo difamante e ofensivo ao STF.
Também foram alvo
» Daniel Silveira, deputado federal; Emerson Teixeira, professor no DF; os blogueiros, Alberto Silva e Camila Abdo; os youtubers Ravox Brasil, Marcelo Frazão, Valter Cesar Oliveira, Fernando Lisboa e Roberto Boni, além de Ernani Fernandes Barbosa Neto e Thais Raposo Chaves, que têm páginas de apoio ao governo
Bolsonaro: “Tomarei medidas legais”
O presidente Jair Bolsonaro afirmou, ontem, que tomará todas as medidas legais possíveis para proteger a Constituição e a liberdade do brasileiro. “Luto para fazer a minha parte, mas não posso assistir calado enquanto direitos são violados e ideias são perseguidas”, disse, em postagem no Twitter. Ele frisou que só pode haver democracia “onde o povo é respeitado, onde os governadores escolhem quem vai governar e onde as liberdades fundamentais são protegidas”. O chefe do Executivo ressaltou que é o povo que legitima as instituições, e não o contrário. “Queremos, acima de tudo, preservar a nossa democracia. E fingir naturalidade diante de tudo que está acontecendo só contribuiria para a sua completa destruição. Nada é mais autoritário do que atentar contra a liberdade de seu próprio povo”, escreveu. O presidente afirmou, também, que, mesmo diante de “abusos” presenciados nas últimas semanas, a postura do governo tem sido de cautela, cobrando respeito e harmonia entre os poderes.
“Jamais estimulei, financiei ou participei de atos com o objetivo de derrubar, ou mesmo afrontar, o Supremo Tribunal Federal, o Congresso Nacional, ou qualquer outra instituição da República”
Luis Felipe Belmonte, vice-presidente do Aliança pelo Brasil
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