Correio Braziliense
postado em 17/06/2020 04:03
A operação de ontem da Polícia Federal aumentou a preocupação do Planalto com possíveis reflexos em ações que pedem, no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a cassação da chapa que elegeu o presidente Jair Bolsonaro e o vice, Hamilton Mourão. O temor da cúpula do governo é com o provável compartilhamento de informações entre os dois tribunais.
Dos alvos da ação da PF, pelo menos três são investigados também em um outro inquérito do STF, o que apura fake news e ataques a membros da Corte. São eles o deputado Daniel Silveira (PSL-RJ), o blogueiro Allan dos Santos e o empresário Otávio Fakhoury, um dos fundadores do Aliança pelo Brasil.
Já em relação aos 11 parlamentares que tiveram o sigilo bancário quebrado ontem, no âmbito do inquérito sobre atos antidemocráticos, quatro deles também são alvo da investigação contra fake news: os deputados Bia Kicis (PSL-DF), Carla Zambelli (PSL-SP), Daniel Silveira (PSL-RJ) e Junio Amaral (PSL-MG).
Na semana passada, o ministro Og Fernandes, do TSE, deferiu um pedido da coligação O povo feliz de novo (PT/PCdoB/Pros) para que os dois tribunais compartilhassem informações, perícias e diligências. Fernandes é o relator de quatro ações que tratam da contratação de disparos de mensagens em massa, via WhatsApp, nas eleições de 2018.
Na decisão, o corregedor também enviou ao ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito das fake news, uma solicitação para ter acesso a dados da investigação. O temor do Palácio do Planalto é que, agora, o ministro do TSE adote o mesmo procedimento em relação ao inquérito do Supremo que apura os atos antidemocráticos, já que alguns suspeitos são citados em ambos os casos.
As ações no TSE contra a chapa Bolsonaro-Mourão acusam os candidatos de abuso de poder econômico no pleito de 2018. Tanto na Corte eleitoral quanto no STF, as suspeitas apontam para a existência de um esquema de doações eleitorais ilegais por meio da divulgação de fake news e ataques a adversários, autoridades e instituições. Essa organização criminosa, segundo as investigações, estaria atuando até os dias de hoje.
À medida que as apurações vão convergindo, Bolsonaro tem demonstrado preocupação com o rumo das ações eleitorais no TSE, ao mesmo tempo em que radicaliza o discurso. Na segunda-feira, por exemplo, durante entrevista à BandNews, ele afirmou que as Forças Armadas não vão aceitar “julgamento político para destituir um presidente democraticamente eleito”. Na ocasião, em um recado ao Supremo, disse que está “sendo complacente demais”. (JV, ST e LC)
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