Politica

Uma longa lista de intransigências, agressões e provocações

Correio Braziliense
postado em 19/06/2020 04:04
Um dos nomes da linha de frente ideológica de Jair Bolsonaro, Abrahan Weintraub ocupou o Ministério da Educação mais com o objetivo de defender as ideias do governo do que, de fato, comandar um salto do ensino brasileiro rumo à modernidade. Em 14 meses, colecionou polêmicas, provocações e agressões, que aumentaram seu cacife entre os radicais apoiadores do presidente, mas, sobretudo, com os integrantes do chamado Gabinete do Ódio –– grupo palaciano que distribui ataques e falsidades pelas redes sociais contra os desafetos de Bolsonaro. Mas, para a comunidade científica e acadêmica, Weintraub foi um tormento, um atraso para a educação. O ex-ministro é considerado um dos mais aplicados porta-vozes do olavismo e ponta de lança da chamada “guerra cultural”. Veja, a seguir, atropelos em que se envolveu.

CORTE DE VERBAS DAS UNIVERSIDADES
No final de abril do ano passado, estudantes, professores e apoiadores da Educação saíram às ruas contra o bloqueio de investimentos, depois que Weintraub acusou as universidades federais de estarem “fazendo balbúrdia em vez de procurar melhorar o desempenho acadêmico”. Os principais alvos foram a UFF, a UnB e a UFBA.

DANÇA DA CHUVA
Ainda por causa da redução de verbas, Weintraub divulgou vídeo negando que o governo tenha tirado dinheiro para a recuperação do Museu Nacional — que ficou completamente destruído num incêndio, em setembro de 2018. Mas o fez de forma prosaica: como no filme Cantando na Chuva, apresentou-se com um guarda-chuva cantando Singing in the rain para dizer que “está chovendo fake news”.

LITERATURA OU CULINÁRIA?
Weintraub, em vários momentos, demonstrou ter dificuldades com o vernáculo e com a cultura. Numa audiência no Senado, em 7 de maio de 2019, quis citar o escritor tcheco Franz Kafka, mas disse “Kafta” –– prato da cozinha árabe. Outra mancada: confundiu “asseclas” (correligionários, partidários) com “acepipes” (petiscos, iguarias), num post em que pretendeu ofender o PT. “Tranquilizo os ‘guerreiros’ do PT e de seus acepipes”, anotou. Virou meme nas redes sociais.

COCAÍNA E BLOQUEIO
Por causa da descoberta de 38kg de cocaína no voo presidencial ao Japão, ano passado, Weintraub começou a ser cobrado nas redes sociais. Reagiu à sua maneira: “No passado, o avião presidencial já transportou drogas em maior quantidade. Alguém sabe o peso do Lula ou da Dilma?” Foi bombardeado. Decidiu, então, que não queria “gente chata e de esquerda” a incomodá-lo. “Caso contrário, bloqueio”, disse.

ATESTADO DE INÉPCIA
Numa coletiva em outubro de 2019, defendeu punições para alunos com notas baixas no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade). Segundo Weintraub, quem acertasse 10% das questões não deveria ter direito a se formar. Para ele, quem acerta menos de 20% “sabota” a prova.

MACONHA NO CAMPUS
Numa audiência na Câmara dos Deputados, em dezembro passado, disparou: existem plantações de maconha e produção de drogas sintéticas em universidades federais. Weintraub fora convocado exatamente para provar tais acusações, o que jamais fez. Foi além: disse que, como a polícia militar não entra nos campi, os traficantes se sentem à vontade para agir.

ATAQUE AO VERNÁCULO
Weintraub jamais escondeu que ele e a língua portuguesa não eram amigos. Numa resposta ao deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), escreveu “imprecionante” (correto: “impressionante”). Antes, já tuitara “suspenção” e “paralização” –– as grafias certas são “suspensão” e “paralisação”.

DEBOCHE COM A CHINA
Era por meio de tuítes que Weintraub mais criava desavenças. Em meio às falsas acusações de que o novo coronavírus era uma invenção chinesa, com o objetivo de pôr o mundo de joelhos, quis fazer uma ironia com o suposto modo de os chineses falarem o português. Para isso, usou o personagem dos quadrinhos Cebolinha –– que troca o R pelo L. Foi repreendido pela Embaixada chinesa, que o acusou de racismo, e pelo criador da Turma da Mônica, Maurício de Sousa.

CORREÇÃO DE NOTAS
Weintraub acusou a gráfica que havia impresso as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) pelo problema que afetou aproximadamente 6 mil candidatos. O então ministro garantiu que ninguém seria prejudicado, mas demorou a concordar com a recontagem.

ENEM MANTIDO
Apesar de a pandemia avançar dia a dia, Weintraub se recusava a adiar a data do Enem. Cedeu depois de intenso clamor popular. A nova data ainda não está decidida e, para tal, abriu uma enquete no Ministério da Educação para que os candidatos escolhessem o melhor período.

VAGABUNDOS E CANCRO
Na reunião ministerial de 22 de abril, tomou a palavra e, exaltado, dirigiu-se aos ministros do Supremo Tribunal Federal como “vagabundos” e disse que, por ele, colocava “todos na cadeia”. Empolgou-se na agressividade e ainda classificou Brasília como um “cancro”.


SILÊNCIO E RACISMO
Por causa da ofensa aos ministros do STF, teve de depor na Polícia Federal –– mas ficou em silêncio. E se submeteu ao mesmo ritual por causa da acusação de racismo contra os chineses. Na saída, foi levado sobre os ombros por radicais bolsonaristas.

NOITE DOS CRISTAIS
Weintraub voltou a exagerar quando comparou uma ação da PF, no âmbito do inquérito das fake news, no STF, contra figuras da base bolsonarista, à noite do ataque a comerciantes judeus na então Alemanha nazista, marco temporal do começo do holocausto. Entidades judaicas repudiaram veementemente a comparação.

VAGABUNDOS DE NOVO
Weintraub participa de ato em defesa de Bolsonaro, na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, e diz a manifestantes que tinha dado sua opinião sobre “vagabundos”, em uma referência às ofensas que dirigira ao STF, na reunião ministerial de 22 de abril. Estava sem máscara e provocou aglomeração. Foi multado pelo Governo do Distrito federal em R$ 2 mil por violar as regras sanitárias de
combate à covid-19.

REITORES BIÔNICOS
Weintraub articulou uma medida provisória para nomear diretamente reitores de universidades federais, durante o período da pandemia –– os nomes saem de uma lista tríplice de indicações da comunidade acadêmica. A MP foi devolvida pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). Terminou extinta.

GOLEADA NO SUPREMO
Por 10 a 1, o STF mantém Weintraub entre os alvos do inquérito sobre a disseminação de fake news e ataques aos membros da Corte, rejeitando habeas corpus apresentado pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, André Mendonça. O ex-ministro é investigado por ter defendido a prisão dos membros do STF e por tê-los chamado de “vagabundos”.

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