Correio Braziliense
postado em 20/06/2020 04:11
O Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) ressaltou, no pedido de prisão do policial militar aposentado Fabrício Queiroz e da esposa dele, Márcia de Oliveira Aguiar, que mensagens no celular da mulher mostravam haver “um plano de fuga organizado para toda a família do operador financeiro que contaria com a atuação do então foragido Adriano Magalhães da Costa Nóbrega”. O pedido foi obtido pelo jornal O Globo.
Adriano da Nóbrega era um ex-capitão do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) do Rio, apontado como líder de um grupo miliciano. Ele foi morto, em fevereiro deste ano, numa ação registrada como confronto contra a polícia, na Bahia, onde estava escondido. Na decisão, o juiz Flávio Itabaiana, da 27ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio, cita trechos da investigação do MP.
Segundo documento, mensagens no celular de Márcia, que foi obtido em diligência anterior, mostraram que ela foi a Minas Gerais se encontrar com Raimunda Magalhães Vera, mãe de Adriano. O encontro, em dezembro do ano passado, teve a presença de Luís Gustavo Botto Maia, apontado como advogado do senador Flávio Bolsonaro. Márcia, inclusive, enviou a Queiroz uma foto dos três juntos tomando cerveja.
Depois do encontro, eles mantiveram contato. Márcia planejava viajar do Rio para São Paulo, em 18 de dezembro, mas foi surpreendida por uma operação do MP na manhã que ia deixar o estado. Conforme apuração, Raimunda foi orientada por Queiroz a permanecer escondida, temendo a retomada da investigação, após um julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), em novembro do ano passado — a sessão avaliava compartilhamento de relatórios do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e da Receita Federal com o MP. Foi com base em um relatório do Coaf que o MP do Rio iniciou a investigação contra Flávio e Queiroz.
Nomeações
As apurações apontam que a mãe de Adriano e a ex-esposa dele, Danielle Mendonça da Costa, foram nomeadas para cargos comissionados no gabinete de Flávio. No entanto, o mapa do calor do celular de Raimunda mostra que ela não estava nos arredores da Assembleia Legislativa do Rio em nenhum dia no período em que deveria exercer a função. A mulher era sócia-administradora de uma pizzaria desde 2009.
Em conversas por mensagens, às quais o MP do Rio teve acesso, a mulher e a filha de Queiroz, Nathalia Melo de Queiroz, criticavam o fato de o pai ter continuado a tentar participar da política, mesmo sendo o principal alvo da investigação contra Flávio. Nathalia disse que o pai era “burro”. Por sua vez, Márcia questionou quando ele ia fechar “o c. da boca dele”.
Filha mais velha de Queiroz, Nathalia é personal trainer e faz parte da equipe de Chico Salgado, o “treinador das estrelas” no Rio. Aos poucos, ela vinha “herdando” parte da cartela de clientes do chefe, que incluía os atores Bruno Gagliasso e as atrizes Bruna Marquezine e Giovanna Lancellotti.
Em dezembro de 2018, quando estourou o escândalo Queiroz, Nathalia viu seus alunos famosos se afastarem. A perda de Gagliasso foi a que mais a incomodou. Há cerca de oito meses, inconformada, fez chegar ao clã Bolsonaro a mensagem de que estava com a vida arruinada e de que ela e o pai tinham sido “usados” pela família do presidente.
O relatório do Coaf, que baseou a Operação Furna da Onça, mostrou que, ao longo de 2016, quando ainda constava como assessora de Flávio na Alerj, a filha de Queiroz repassou ao pai R$ 97,6 mil. A personal trainer, no entanto, diz a amigos que nunca colocou “um centavo no bolso”.
As ameaças de Nathalia repercutiram de tal maneira que a família do presidente precisou enviar uma “força-tarefa” para acalmá-la na casa dela, em Oswaldo Cruz, zona norte do Rio — atualmente, está morando na Barra da Tijuca. Pelo menos um funcionário do gabinete de Flávio estava nesse grupo.
Ao contrário da mãe, a personal trainer não foi alvo de ordem de prisão nem intimada a depor. Por conhecer bem a instabilidade emocional da filha, Queiroz espera que isso nunca venha a acontecer.
Pedido de prisão domiciliar
A defesa de Fabrício Queiroz entrou com habeas corpus, ontem. O advogado Paulo Emílio Catta Preta pede que ele vá para prisão domiciliar em razão de seu estado de saúde — está em recuperação de um câncer. O ex-assessor de Flávio Bolsonaro está isolado em uma cela de 6m² no Presídio Pedrolino Werling de Oliveira, conhecido como Bangu 8, onde ficará por 14 dias. O isolamento se deve ao protocolo de segurança para evitar a propagação do coronavírus. Segundo a Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap), Queiroz “passa bem”.
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