Politica

Agentes querem ouvir Bolsonaro

Corporação informa ao ministro Celso de Mello, do STF, que precisa do depoimento do presidente no inquérito sobre suposta manipulação política da instituição

Correio Braziliense
postado em 24/06/2020 04:04
Ministro decidirá se Bolsonaro vai depor pessoalmente ou por escrito


A Polícia Federal informou ao ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), que precisa ouvir o presidente Jair Bolsonaro no inquérito em que ele é investigado por suposta tentativa de interferência na corporação. A comunicação foi feita em ofício assinado pela delegada Christiane Correa Machado. Recebido pelo gabinete do ministro na última sexta-feira, o documento informa que as apurações estão avançadas.

“Informo a Vossa Excelência que as investigações se encontram em estágio avançado, razão pela qual, nos próximos dias, torna-se necessária a oitiva do senhor Jair Bolsonaro, presidente da República”, diz o texto do ofício.

Embora outros ministros já tenham autorizado depoimentos por escrito, o entendimento que Celso de Mello já manifestou em outras ocasiões é que, independentemente do cargo que ocupe, investigados devem depor pessoalmente.

No último dia 29, a delegada Christiane Correa solicitou a Celso de Mello a prorrogação do inquérito por 30 dias. No dia 8, o ministro autorizou. O procurador-geral da República, Augusto Aras, concordou com o pedido da PF.

Os investigadores pediram mais prazo porque queriam aprofundar as investigações na Superintendência da PF no Rio de Janeiro, diante de suspeitas de ingerência de Bolsonaro nas direções regionais da corporação. Os agentes queriam analisar inquéritos que envolvem a família do presidente. Entre as medidas consideradas “pendentes” na investigação, naquela ocasião, a PF já previa a necessidade de ouvir o próprio Bolsonaro.

No vídeo da reunião de 22 de abril, divulgado por decisão de Celso de Mello, Bolsonaro reclamou. “Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro, oficialmente, e não consegui. E isso acabou. Eu não vou esperar f. a minha família toda, de sacanagem, ou amigos meus, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence à estrutura nossa. Vai trocar! Se não puder trocar, troca o chefe dele! Não pode trocar o chefe dele? Troca o ministro! E ponto final! Não estamos aqui pra brincadeira”, afirmou.

O primeiro a ser ouvido no inquérito foi o ex-ministro Sergio Moro, em 2 de maio. No depoimento, ele citou a reunião de 22 de abril como prova da interferência de Bolsonaro. Segundo o ex-juiz, o presidente se referia à Superintendência da PF no Rio de Janeiro. O chefe do Executivo, por sua vez, disse que fez menção à segurança pessoal dele, cuja responsabilidade é do Gabinete de Segurança Institucional.

O vídeo se tornou público em 22 de maio. Depois de ouvir Moro, a PF ainda tomou mais de 10 depoimentos, entre ministros, delegados e ex-aliados do presidente.

Acusação
A investigação foi autorizada pelo STF em 27 de abril, três dias após o então ministro da Justiça, Sergio Moro, ter anunciado a saída do cargo. Na ocasião, o ex-juiz disse que Bolsonaro interferiu na PF ao demitir o então diretor-geral da instituição, Maurício Valeixo. Bolsonaro nega a acusação. Horas antes da reunião ministerial de 22 de abril, o chefe do Executivo escreveu: “Moro, o Valeixo sai nesta semana. Isso está decidido. Você pode dizer apenas a forma. A pedido ou ex ofício”.

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