Correio Braziliense
postado em 26/06/2020 21:12
Em uma coletiva convocada pela militante de extrema direita e seus advogados, Sara Fernanda Giromini, que adotou o nome de “Sara Winter”, disse que trabalha de forma autônoma como analista política e conferencista internacional, tendo ajudado a eleger presidentes e senadores em diversos países na América Latina. A afirmação foi quando explicava que não é “ativista profissional” e que não ganha dinheiro para fazer protesto. “Eu gasto do meu dinheiro para fazer isso”, disse.
Sara disse que não poderia citar nomes de políticos, porque assina termos de confidencialidade, mas que já atuou no Paraguai, Argentina, Uruguai, Colômbia, Equador, Peru, El Salvador, Guatemala, México e, remotamente, na Bolívia e nos Estados Unidos. “Ensino políticos a serem políticos, a serem bons políticos. Ensino a política virtuosa, baseada na prudência e Justiça, para congressistas de toda a América Latina. E ganho bem por isso. Me sustento, sustento minha mãe, meu pai”, disse.
Apontada como líder do grupo de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro chamado “300 do Brasil”, ela foi presa no âmbito do inquérito que investiga organização e financiamento de atos antidemocráticos. Sara foi solta na última quarta-feira (24), mas está com uma tornozeleira eletrônica.
A militante disse que o grupo recebe dinheiro de maneira espontânea para organizar atos, pagar alimentação, transporte. O que ajudava a manter o grupo, segundo Sara, era uma vaquinha on-line, que eles perderam no final de maio após diligências de busca e apreensão no âmbito do inquérito das fake news.
Sara Giromini garante que entre políticos de direita e religiosos, é muito conhecida na América Latina. “Meu nome é muito famoso e sou muito respeitada fora”, disse. De acordo com ela, esse trabalho é desenvolvido há três anos. Questionada, disse que durante o período em que atuou no Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), se afastou do serviço.
Tom
Sara reduziu o tom de ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF), mas por duas vezes disse que o país vive uma “ditadura do judiciário”. Ela foi denunciada pelo Ministério Público Federal (STF) por injúria e ameaça por ataques ao ministro Alexandre de Moraes.
A denúncia se baseia em um vídeo gravado e divulgado por Sara no dia 27 de maio, quando houve busca e apreensão em sua casa no âmbito do inquérito das fake news. Ela disse que queria "trocar soco" com ele, e que descobriria tudo sobre a vida do magistrado, incluindo os lugares que ele frequenta. "Nunca mais vai ter paz na vida do senhor”, afirmou.
Sara ainda disse: "A gente vai infernizar a tua vida. A gente vai descobrir os lugares que o senhor frequenta. A gente vai descobrir quem são as empregadas domésticas que trabalham pro senhor. A gente vai descobrir tudo da sua vida. Até o senhor pedir pra sair. Hoje o senhor tomou a pior decisão da vida do senhor."
Nesta sexta-feira, Sara disse que gravou o vídeo “no calor das emoções” e minimizou o conteúdo. “Depois de um momento que a minha privacidade foi violada, em situação de forte emoção, eu disse que se eu estivesse em São Paulo, eu queria saber onde é o condomínio dele, porque iria lá e queria convidá-lo a trocar socos comigo. Acho que você fazer um convite não é ameaça”, afirmou.
Em seguida, disse que “talvez gostaria de ter usado uma linguagem menor ofensiva”, mas disse que faria de novo.
O inquérito que investiga organização e financiamento dos atos antidemocráticos fala sobre uma suposta relação entre parlamentares com manifestações, pontuando que estão envolvidos militantes, políticos e recursos financeiros nas organizações. A PGR estima lucros na ordem de R$ 100 mil por canais no Youtube que atuam divulgando conteúdos relativos aos atos, com mensagens apelativas, como “STF decidiu eliminar Bolsonaro”.
O Correio, então, perguntou qual a participação de Sara na organização desses atos descritos e se ela tem alguma ajuda. Os advogados, no entanto, afirmaram que ela não poderia responder, uma vez que o inquérito é sigiloso.
Coletiva
De verde e amarelo, Sara leu as perguntas que foram enviadas pelos repórteres com antecedência - algo que foi solicitado por sua defesa. Três perguntas por veículo de comunicação. Mas nem todas foram selecionadas para serem lidas.
No decorrer do momento em que ela lia e respondia, os advogados pediam para que o roteiro fosse seguido, sem muitas interrupções. Ela justificou que ainda está abalada, e que se não fosse assim, poderia se perder nas respostas. Ao final, foi aberto espaço para que mais algumas perguntas fossem feitas.
Sara chamou os jornalistas para conceder a entrevista e ficou sentada em um sofá, ao lado dos advogados, sendo que ao fundo uma bandeira do Brasil foi colocada cobrindo a televisão. Uma Constituição Federal foi posicionada à direita da bandeira e uma bíblia ao centro, além de imagens de santos católicos na estante.
Ela falou de forma descritiva sobre seus 10 dias na prisão, chamando de uma experiência "grotesca, desgastante e humilhante". A ideia era passar a imagem de uma presa política - algo que vem sendo repetido por ela e demais apoiadores do presidente. Enquanto jornalistas se posicionavam para a entrevista, Sara improvisou uma plaquinha com os dizeres “presa política”, colocando em cima de sua tornozeleira eletrônica - condição imposta no momento da soltura a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR).
Sara disse que nunca afirmou ser líder do grupo, quando foi formado, mas que foi algo que aconteceu "naturalmente". Em outro momento, ela afirmou que quando ficou presa, na cela ao lado estava uma outra integrante do grupo, e que ela tentou se "manter forte o tempo todo", porque queria passar para a sua "liderada" que estava tudo bem. Em depoimento prestado à PF no dia que foi presa, Sara permaneceu em silêncio quando questionada se era líder do grupo "300 do Brasil".
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