Politica

Paz, amor e afagos ao Centrão

Se na seara da saúde e da economia, o desgaste para Bolsonaro só aumenta, no Congresso o presidente está bem-afinado com o bloco de partidos inorgânicos, sobretudo depois de adotar a nova postura de colaboração com os demais Poderes

Correio Braziliense
postado em 05/07/2020 04:04
O ministério entregue a Fábio Faria tem um orçamento de R$ 2,3 bilhões, capaz de galvanizar o Centrão em torno do governo
 
O Brasil vive, hoje, dois momentos antagônicos. Na saúde e na economia, um dos mais conturbados da história, com 1,5 milhão de casos do novo coronavírus e atividade econômica em queda livre. Na política, entretanto, uma fase de aparente calmaria entre o Palácio do Planalto e o Congresso. Mas, por trás do silêncio do presidente Jair Bolsonaro, acostumado a arroubos contra as instituições, continuam as conversas com os parlamentares do chamado Centrão.

A influência dos partidos na vida política de Bolsonaro aumenta na mesma proporção em que a imagem da família se desgasta, seja por denúncias, menções negativas ou queda de pontos em pesquisas de popularidade, que também são influenciadas pela atuação diante da crise sanitária. Em um cenário delicado, em que os filhos são investigados pela Justiça por crimes que envolvem desvio de recursos públicos e lavagem de dinheiro, ter uma boa relação com o Congresso é essencial para que o presidente e família consigam se manter no poder.

O maior aceno ao Centrão feito até agora foi em 10 de junho, quando o presidente recriou o Ministério das Comunicações para oferecer a um dos membros do grupo, o deputado Fábio Faria (PSD-RN), o cargo mais alto, de ministro. Com isso, Bolsonaro colocou nas mãos dos novos aliados um orçamento de R$ 2,3 bilhões, além de estatais estratégicas. Antes, desde o início de maio, ele já havia cedido cargos de chefia em pastas importantes, como Educação e Saúde, e órgãos responsáveis por obras públicas.

Mesmo que os partidos do Centrão tenham, hoje, postos entre os mais cobiçados na política, a base de apoio que Bolsonaro conseguiu construir até agora não é sólida. Algumas lideranças apontam entre 200 e 300 deputados, uma margem suficiente para barrar avanços de pedidos de impeachment, por exemplo. O problema é que, além de não ter acontecido nenhuma votação que pudesse servir de termômetro para essa análise, o grupo no qual o presidente se fia é flexível: só se mantém ao lado do presidente se ele não estiver com a imagem muito queimada.

Cálculo
Como disse o cientista político Octavio Amorim Neto, da Fundação Getulio Vargas (FGV), “o cálculo de apoio desses partidos é muito sofisticado e leva em conta popularidade e chance de continuar no poder”. Investigações criminais de grande repercussão estão na lista de possíveis problemas para o presidente. Por colocar a família na mira da Justiça, a prisão de Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro, por exemplo, poderia atrapalhar a relação entre o presidente e os deputados.

O senador, filho mais velho do presidente, é investigado no caso das rachadinhas, em que teria desviado parte dos salários de servidores públicos do gabinete, enquanto era deputado estadual na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). O impacto das acusações na relação de Bolsonaro com o Congresso, entretanto, depende de vários fatores –– entre eles, até onde elas chegam, de fato, principalmente do ponto de vista da opinião pública. Por enquanto, os aliados não se manifestaram ou apontaram dedos sobre o caso.

Muito pelo contrário. Parlamentares apressaram-se para apaziguar os ânimos após a prisão de Queiroz. Uma semana depois de a polícia ter encontrado o ex-assessor no sítio do advogado de Bolsonaro, Frederick Wassef, em Atibaia (SP), em 18 de junho, Flávio participou de um jantar na casa do deputado Marcos Pereira, (Republicanos-SP), presidente do partido, com integrantes do Centrão e os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP).

Na ocasião, o líder do governo no Congresso, senador Eduardo Gomes (MDB-TO), disse que Flávio tem influência e conta com o apoio dos parlamentares. Bolsonaro, enquanto isso, segue conversando com os parlamentares e espera conseguir consolidar apoio suficiente para proteger o próprio cargo e o mandato do filho, seja segurando o andamento de eventuais Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) ou do temido processo de impeachment, embora hoje a segunda possibilidade seja praticamente desconsiderada pelos parlamentares.

300
deputados 

é teto que o presidente Jair Bolsonaro teria na Câmara, número suficiente para barrar um processo de impeachment


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