Politica

Serra denunciado por lavagem de dinheiro

Lava-Jato em São Paulo diz que a Odebrecht pagou R$ 27,8 milhões ao ex-governador e atual senador. Parlamentar nega ilegalidade e fala em "indignação"

Correio Braziliense
postado em 06/07/2020 04:19
A Justiça autorizou o bloqueio de R$ 40 milhões de uma conta na Suíça relacionada a Serra

Alvo da Operação Lava-Jato, o senador José Serra, 78 anos, é acusado de receber propina milionária para garantir contratos da construtora Odebrecht com órgãos públicos em São Paulo. Ontem, a Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão em endereços ligados ao parlamentar. O político foi prefeito de São Paulo, de 2005 a 2006, e governador do estado entre 2007 e 2010. As investigações apontam que ele se beneficiou com propina em, pelo menos, duas ocasiões — o primeiro repasse teria sido de R$ 4,5 milhões, e o segundo, de R$ 23,3 milhões. De acordo com a PF, Serra era identificado pelo codinome “Vizinho” nas planilhas de pagamentos ilegais da empreiteira. O apelido teria sido dado pelo fato de o senador morar próximo de Pedro Novis, o principal contato dele na empresa.

Segundo o Ministério Público Federal (MPF), o codinome de Serra aparecia, principalmente, em planilhas voltadas para o pagamento de repasses ilegais relacionados às obras do Rodoanel de São Paulo. As acusações estão descritas na denúncia oferecida à Justiça contra o parlamentar e a filha dele, Verônica Serra. Ao todo, o senador teria recebido R$ 27,8 milhões ao longo dos anos. A Justiça autorizou o bloqueio de R$ 40 milhões de uma conta na Suíça relacionada ao político. A denúncia é da força-tarefa da Lava-Jato de São Paulo e aponta que, ao menos entre 2006 e 2014, eles ocultaram, por meio de várias operações bancárias, a origem e a localização de valores provenientes de crimes. Serra foi delatado pelo próprio Pedro Novis, que agora colabora com a Justiça. Além disso, o apelido de Vizinho também aparece em e-mails trocados por Marcelo Odebrecht. “Em muitos deles, há menções expressas ao codinome ‘Vizinho’ ligado a temas como ‘Dersa’ e ao contato de Pedro Novis”, diz um trecho da denúncia enviada à Justiça pelo MPF.

Dersa é uma empresa que opera rodovias para o governo do estado de São Paulo. Os repasses, realizados em um banco na Suíça, eram depositados por meio da Circle Technical Company, empresa offshore, que, de acordo com as diligências, servia para enganar as autoridades e dar aparente legalidade às transações. “E, de fato, uma planilha extraída do sistema contábil da empreiteira indica que, logo na sequência, ao longo de 2006 e 2007, numerosas transferências foram feitas, em favor de uma conta da Circle Technical, no Corner Bank da Suíça, com referência ao codinome ‘Vizinho’, sendo a maior parte delas vinculada à obra ‘Rodoanel’”, completa o MPF.

O Ministério Público diz, ainda, que Novis era o responsável por repassar os valores de origem ilegal para o político. “José Serra e Pedro Novis eram vizinhos em São Paulo/SP e mantinham amizade entre si. Em razão dessa proximidade, cabia sempre a Pedro, em nome da Odebrecht, receber de José Serra, em encontros realizados tanto em sua residência quanto em seu escritório político, demandas de pagamentos, em troca de ‘auxílios’ diversos à empreiteira, como os relativos a contratos de obras de infraestrutura e a concessões de transporte e saneamento de seu interesse”, conclui o relatório da denúncia.

Em nota, José Serra negou ter cometido qualquer ilegalidade e disse que as ações da Polícia Federal causam “estranheza e indignação”. “Em meio à pandemia da covid-19, em uma ação completamente desarrazoada, a operação realizou busca e apreensão com base em fatos antigos e prescritos e após denúncia já feita, o que comprova falta de urgência e de lastro probatório da acusação”, afirma o texto.


“O senador José Serra reforça a licitude dos seus atos e a integridade que sempre permeou sua vida pública. Ele mantém sua confiança na Justiça brasileira, esperando que os fatos sejam esclarecidos, e as arbitrariedades cometidas, devidamente apuradas”
Trecho da defesa do parlamentar

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