Politica

"Terrivelmente evangélico", ministro da Educação agrada alas do governo

O pastor Milton Ribeiro não desagrada os militares e conta com o aval das alas ideológica e evangélica próximas a Bolsonaro

Correio Braziliense
postado em 10/07/2020 18:09
Milton Ribeiro, pastor, novo ministro da EducaçãoNomeado novo ministro da Educação, o pastor Milton Ribeiro, da Igreja Presbiteriana em Santos (SP) foi uma opção segura para o presidente Jair Bolsonaro. Embora não fosse o nome preferido dos militares, não incomodava essa ala do governo. Ao mesmo tempo, o religioso agrada bastante a ala mais conservadora e é considerado — de maneira positiva — “terrivelmente evangélico”. Agradar esse segmento religioso é uma preocupação constante de Bolsonaro.

nomeação foi publicada nesta sexta-feira (10/7) no Diário Oficial da União e anunciada por Bolsonaro nas redes sociais. "Indiquei o Professor Milton Ribeiro para ser o titular do Ministério da Educação. Doutor em Educac%u0327a%u0303o pela USP, mestre em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e graduado em Direito e Teologia", escreveu Bolsonaro. 

Em maio de 2019, Ribeiro foi nomeado por Bolsonaro para a Comissão de Ética Pública da Presidência. A indicação é atribuída ao ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Jorge Oliveira, auxiliar de confiança de Bolsonaro. O novo ministro tem ainda ótimo trânsito com o ministro Alexandre Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e com o presidente do PSD, Gilberto Kassab.

Após a saída de Abraham Weintraub, no último dia 18, quando o governo foi pressionado a fazer um gesto de trégua ao Supremo Tribunal Federal (STF), a lista de cotados para o MEC sofreu alta rotatividade. Bolsonaro chegou a nomear o professor Carlos Decotelli, que durou apenas cinco dias e nem sequer tomou posse, depois de inconsistências no currículo dele terem sido reveladas.

No último domingo (5/7), o secretário de Educação e Esporte do Paraná, Renato Feder, comunicou, por meio das redes sociais, que havia rejeitado o convite feito pelo presidente três dias antes. A indicação de Feder enfrentava grande resistência das alas ideológica e militar do governo. O governo assumiu que havia urgência para a definição de um nome, com cuidado redobrado para evitar mais desgastes. 

O próprio Bolsonaro chegou a dizer que a educação no país está “horrível”. O presidente também reconheceu que enfrentava dificuldades para a escolha do novo ministro. "Tem excelentes currículos, mas quando eles vêm o problema de perto, [que] a gente mostra para eles, uns declinam e outros pedem mais tempo para pensar. Eu gostaria de decidir hoje", disse, na terça-feira. 

Ausência do MEC em decisões importantes

A grande indefinição no setor é agravada pelas imposições da pandemia de covid-19. Mesmo sem titular, o Ministério da Educação (MEC) anunciou, nesta semana, as novas datas para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), adiado por causa da pandemia. A retomada das aulas presenciais também estão sendo lideradas, principalmente pelas secretarias estaduais e municipais, sem uma coordenação nacional. 

Outro ponto urgente do setor é o novo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), que precisa ser aprovado no Congresso Nacional. Essa é uma das pautas mais importantes da educação neste ano, por ser a principal fonte de recursos da educação básica, respondendo por mais de 60% do financiamento de todo o ensino básico do país. Mas, até então, o tema não foi tratado como prioridade pelo MEC. 

Mesmo sem a participação efetiva do MEC, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que levaria a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do Fundeb à votação no plenário, na próxima semana. A urgência se deve ao fato de o fundo criado em 2006 ser temporário e será extinto em dezembro caso uma nova regulamentação não seja votada. 

Composto por recursos que provêm de impostos e transferências da União, estados e municípios, o Fundeb atende da educação infantil ao ensino médio. Quando a pasta ainda não tinha um nome definido, Maia compartilhou esperar que o novo ministro da Educação “não seja lunático”, que “seja normal”, que esteja “dentro da Terra” e que "tenha conhecimento em gestão e educação". 

Os ministros da Educação de Bolsonaro

Carlos Alberto Decotelli 
Durou apenas cinco dias e nem sequer tomou posse. Saiu devido às mentiras que colocou no currículo que mantém na Plataforma Lattes — o que não o impediu de, na mais recente atualização, apresentar-se como ministro, apesar da passagem meteórica.

Abraham Weintraub 
Olavista feroz, deixou o Brasil antes mesmo de a demissão do MEC ser oficializada após uma gestão recheada de polêmicas e embates com entidades de ensino. Está no inquérito das fake news por ter chamado os ministros do Supremo Tribunal Federal de “vagabundos” em uma reunião ministerial. Tentou, ainda, interferir nas universidades federais para nomear reitores biônicos e, como último ato como ministro, revogou as cotas para cursos de pós-graduação –– o que foi derrubado logo em seguida.

Ricardo Vélez Rodríguez 
O colombiano naturalizado brasileiro, indicado por Olavo de Carvalho, durou apenas três meses. Porém, no pouco tempo que ficou, enumerou polêmicas: afirmou que a universidade não é para todos, disse que “brasileiro viajando é um canibal” e pediu para que pais filmassem filhos estudantes cantando o Hino Nacional.

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